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Valorização do índice Ibovespa |
Valorização do índice Ibovespa| Foto:

Aprendi uma lição muito importante em 1997. Naquele ano, eu era repórter da revista Veja, e lembro claramente da matéria de capa da edição de 18 de junho: "As ações fazem a festa". Logo na abertura, o texto dizia: "Até os rapazes que trabalham nos bancos de investimento estão impressionados com as bolsas de valores". Sim, porque o índice Ibovespa havia subido 60% só naqueles seis meses, um número impressionante.

Qualquer semelhança com os números mirabolantes dos últimos anos não devem ser encarados como coincidência, mas como advertência. Na sexta-feira que antecedeu a chegada da revista às bancas, 15 de junho de 1997, o índice estava em 11.828 pontos. Três meses depois, no pregão de 14 de novembro, estava em 7.822. Uma perda de 33,8%.

As ações são, como se sabe, guiadas pelos dados financeiros de cada empresa e pelo ambiente econômico em que elas operam. Esses são os fundamentos, como chamam os homens que falam financês. Mas não é só a eles que as ações respondem. Elas estão também sujeitas ao imponderável.

Em 1997, o imponderável deu as caras na Tailândia. O país asiático, líder dos chamados Tigres – um grupo de países cuja economia crescente era baseada na exportação e lastreada em dinheiro de investidores externos – mergulhou numa crise que arrastou países vizinhos e provocou perdas em todos os mercados do mundo. Em 2007/2008, o imponderável tem o jeitão do americano de classe média-baixa, que financiou sua casa a perder de vista e sem garantia alguma. Os bancos perceberam tarde demais que estavam correndo risco com essas hipotecas e foram tragados por perdas monumentais, culminando (por enquanto) no desastre de ontem.

Entro no assunto provocado pelo leitor Borba, que, na contramão das manchetes, pergunta quais os procedimentos iniciais para um leigo investir na bolsa. Em resposta à questão, posso dizer que é preciso abrir uma conta de investimento em um banco ou corretora e começar a acompanhar o mercado antes de decidir onde entrar. Mas mais do que dar essa informação básica – que pode ser complementada pela ótima página da Bovespa dedicada ao investidor iniciante (http://www. bovespa.com.br/Investidor/Iniciantes/IniciantesIndex.asp) –, me sinto obrigado a lembrar do passado. Por isso sugiro ao leitor que converse com seu gerente no banco sobre se essa é realmente a melhor opção de investimento para ele. E também que leve em consideração a possibilidade de investir em um fundo de ações, gerido por profissionais de instituições financeiras que são mais capacitados a lidar com um momento de incerteza do que um investidor principiante. Investir em fundos nesse momento equivale a pedir ajuda aos universitários, como diria o Sílvio Santos.

A lição que eu aprendi em 1997 só foi verbalizada uns cinco anos depois, quando ouvi de um operador uma frase dita em tom de gozação, mas que faz todo sentido: quando até os jornalistas sabem que a bolsa está dando dinheiro, é hora de vender. O que ele queria era tirar uma da minha cara e posar de superior. Mas analise bem: o preço das ações é definido pela oferta e procura dos papéis. Assim, uma capa da Veja (ou da Você S/A, ou da Época...) atrai mais investidores, que dão novas ordens de compra. Não faz sentido que os papéis subam? E depois, de janeiro de 2003 e dezembro de 2007 o Ibovespa subiu 464%. Nada dura para sempre, não é mesmo?

As pechinchas

Para muita gente, a queda expressiva de preços dos últimos meses pode ser entendida como oportunidade de comprar boas ações a preços baixos. Realmente, levando-se em conta os tais fundamentos, pode parecer que estamos diante de uma liquidação. Mas o imponderável ainda pode estar espiando, e as notícias de ontem sobre venerados ícones do capitalismo – Lehman Brothers, Merril Lynch – mostram que mesmo os portos mais seguros estão sujeitos às intempéries.

Se você está estudando entrar agora no mercado de capitais, atraído pelos baixos preços, vá em frente. Mas não conte com resultados tão já. Mais: entre tendo em mente que o poço pode muito bem ser mais fundo do que se imagina.

Sobre a segurança

Há alguns meses, precisei fazer um saque um tanto maior do que de costume numa agência bancária. Precisava pagar uma conta noutro banco, e isso tinha de ser feito em dinheiro. Logo que recebi, enquanto ainda contava as notas, o caixa atendeu a um telefonema. Isso me deixou muito preocupado.

Na semana passada, duas pessoas foram assassinadas depois de sacar valores em bancos. Outras tantas certamente devem ter sido roubadas sem esse extremo de violência. A experiência de repórter já me demonstrou que raramente esse tipo de assalto é aleatório: os ladrões costumam ter algum tipo de informação bastante certa a respeito de sua vítima – seus hábitos, suas rotas, as quantias que levam. Há casos que envolvem cumplicidade. As delegacias estão cheias de histórias de empresários que foram roubados a partir de informações passadas por clientes ou funcionários.

Atenção: não estou sugerindo que nos casos de violência da semana passada tenha havido cumplicidade de algum empregado de banco. Mas não é difícil imaginar que alguém ligado aos bandidos – qualquer um, talvez encostado numa coluna ou parado numa fila, com um celular na mão – acompanhou a operação dentro da agência e informou comparsas fora dela.

Nos últimos tempos, a idéia de usar táticas de inteligência no combate ao crime ficou associada a escutas telefônicas. Mas é mais do que isso. E elas devem ser exercidas não só pela polícia, mas também por instituições privadas – a não ser que queiram ver seus clientes morrendo pelas ruas.

iacomini@gazetadopovo.com.br

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