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As altas do dólar parecem estar dando uma trégua nesta semana. Mas será que essa trégua dura? Difícil dizer. Mas, pelo menos, podemos entender melhor o que está acontecendo – e por que é tão difícil prever o futuro.

Não é de agora que se fala que há dois componentes para a alta nas cotações do dólar, um doméstico e um externo. O externo tem a ver com a recuperação da economia americana e com a expectativa de que o Federal Reserve (o banco central americano, conhecido como Fed) eleve as taxas de juros.

Na prática, o que ocorre é que os investidores estão vendo um cenário difícil em diversos mercados, em especial na Europa e nos emergentes (que incluem o Brasil). Por isso, muitos investidores preferem migrar seus recursos para aplicações na moeda americana. Aí vale a velha lei da oferta e da procura: como a procura por dólares cresce, o preço deles aumenta.

Assim, a mudança foi geral, embora algumas moedas tenham sofrido mais que outras.

No Brasil, nos seis meses entre 23 de setembro de 2014 e 23 de março, a alta foi de 34%. Na Rússia, a sangria do rublo foi de 53%. Perante o dólar australiano, o dólar dos EUA subiu 14%. Na Colômbia, o dólar subiu 29% em relação ao peso local. Na comparação com o peso chileno, foram meros 5%, enquanto que o ganho em relação à rúpia indiana foi de 2%. Tudo no mesmo período.

Percebe-se que o Brasil está entre as maiores altas, atrás da Rússia. Se bem que a comparação não é boa, porque a Rússia está em má situação: em tensão bélica com a Ucrânia, sofrendo sanções internacionais e perdendo receitas importantes com a redução do preço do petróleo no mercado global.

Já na frente interna, há a questão do déficit nas contas do governo e também no comércio exterior. Até o fim da semana passada, as importações brasileiras haviam superado as exportações em US$ 6,288 bilhões.

Mas há algo mais difícil de medir a influenciar as cotações. É a variável política, movida tanto pelas investigações da Operação Lava Jato quanto pelo bate-boca envolvendo políticos e parlamentares e pelas manifestações contra e a favor do governo. Com bom senso, informações atualizadas e as ferramentas matemáticas certas, os economistas poderiam traçar cenários razoavelmente confiáveis para a economia e os negócios, caso estivéssemos em um ambiente mais previsível. Mas não é assim.

Como medir o pessimismo?

Há a ameaça de instabilidade, que mexe com os ânimos das pessoas e com a maneira como elas tomam decisões econômicas. Em geral, o mercado não gosta de coisas difíceis de prever. Em geral, todo tipo de instabilidade é classificada como risco e provoca um movimento conhecido como fly to quality: o dinheiro é tirado de quaisquer ativos sujeitos ao risco e transferidos para uma aplicação mais segura. Dólar, por exemplo.

Esses movimentos são previsíveis. Difícil é medir a intensidade deles, já que estão relacionados a fatores subjetivos, como pessimismo e otimismo. Há elementos que são reconhecidos, como as sondagens feitas pela Confederação Nacional da Indústria sobre a intenção do empresário em investir. Mas mesmo esses levantamentos não pegam tudo.

Alguns economistas vêm tentando buscar meios alternativos de medir a temperatura da sociedade. Em um posto no seu blog Análise Macroeconômica, o economista Vítor Wilher, do instituto Millenium e da Universidade Federal Fluminense, fez um exercício interessante. Ele usou o número de buscas pela expressão “operação lava jato” no Google como variável em seus modelos sobre o comportamento da cotação do dólar. Resultado: sem o “efeito lava jato”, a moeda fecharia o ano cotada a R$ 3,11; levando em conta essa variável, encerraria a R$ 3,28.

O economista observa, entretanto, que a operação é “apenas um dos vários momentos da instabilidade política no país, que conta, por exemplo, com o clima de ruptura entre PMDB e o governo”. Resumindo tudo, o que isso quer dizer? Que, mais do que em qualquer momento nos últimos 10 anos, o que ocorre na política vai fazer diferença no que ocorre com o seu dinheiro.

E aí?

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