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Avicultura não é só criar frango e vender carne, mas gerar renda e desenvolvimento social. Vai muito além da operação de transformar soja e milho em proteína animal, agregar valor e exportar tecnologia

As realidades extremas que expõem o agronegócio neste momento, de tempestade e bonança, colocam à prova a organização do setor como sistemas de produção, integrados, menos vulneráveis e principalmente sustentáveis. Também é cada vez mais comum e intensa a relação desse segmento nas economias urbanas e no desenvolvimento regional, em especial das regiões mais vocacionadas, para esta ou aquela atividade. A atual crise da avicultura, por exemplo, afeta em cheio o Paraná. Não por acaso, o estado é o maior produtor e exportador do país. Mexe ainda com o mercado interno e nos números da balança comercial. Do outro lado, numa situação completamente oposta, o motivo principal da crise. Soja e milho, insumos básicos e essenciais à produção de frango, nunca estiveram tão valorizados, ou melhor, supervalorizados, onerando sobremaneira a atividade.

Bom para o produtor de grãos, ruim para a produção de aves e péssimo para o mercado, para consumidor e para a economia brasileira, seja ela do campo ou da cidade. Cadeias desalinhadas e preços desajustados criam uma realidade momentânea, quase que virtual, com falsos indicadores, que comprometem o planejamento e favorecem a especulação. Os movimentos, no entanto, são naturais e característicos de uma economia globalizada, independente e que se ajusta naturalmente, nos fundamentos ou nos interesses da especulação. Cabe então, a cada país, criar seus instrumentos para proteger seu mercado e sua produção, limitar a especulação e equacionar as variáveis que impactam a oferta e a demanda intercadeias produtivas, como e o caso dos grãos na produção da carne de frango.

O ajuste natural desse mercado, porém, tende a ser muito cruel. Por maior que seja o esforço na busca pelo equilíbrio, para alguém ganhar, alguém tem que pagar a conta. É necessário então lançar mão de estratégias outras para não ficar à mercê das regras impostas unicamente pelo capital. É preciso proteger emprego, renda, desenvolvimento e produção. Ou seja, torna-se imprescindível a intervenção do governo. A solução para a avicultura, então, já existe. É amplamente aplicada a política dos grãos, mas com pouca ou quase nenhuma tradição na produção de carne. Um exemplo são os leilões de PEP em que, na teoria, o governo garante subvenção ao escoamento de grãos das regiões produtoras para as consumidoras. Ferramenta que, na prática, configura-se como um prêmio à exportação.

Não seria a hora de o governo inverter esse premio? Ao invés de subsidiar o escoamento, o PEP poderia apoiar o esmagamento de milho, por exemplo. Garantir o insumo a um preço competitivo é equacionar custos, manter produção e o consumo, tanto de milho quanto de frango. Para isso, no entanto, e preciso encarar a avicultura como uma cadeia tão importante como a dos grãos para país. Mais do que isso, um segmento intrínseco à produção de grãos. Por que não receber o mesmo tratamento? Quando o preço do milho esta abaixo do mínimo o governo age para garantir o escoamento do produto. Quem precisa de apoio agora e a cadeia do frango, atividade tão legítima quanto à produção de grãos na economia agrícola do país.

Avicultura, então, não é criar frango e vender carne. Mas gerar renda e desenvolvimento econômico e social. Vai muito além da operação de transformar soja e milho em proteína animal, agregar valor e exportar tecnologia. Dentro da porteira é alternativa de renda e diversificação. Fora dela é economia pura, na mais ampla concepção da palavra. Um único abatedouro integra dezenas ou centenas de avicultores, responde por milhares de empregos e contribui com milhões de reais em impostos. A dificuldade da avicultura é, assim, um problema da economia brasileira, em especial do Paraná, o maior produtor e também exportador de carne de frango do país.

Equacionar as demandas do setor é garantir a sustentabilidade das economias regionais, urbanas e rurais, do público e do privado, da geração de impostos às divisas internacionais. É, portanto, um desafio não apenas do produtor ou do abatedouro, como do estado e do país, do Ministério da Agricultura, da Secretaria da Agricultura e dos governos de um modo geral. Porque, depois de afetar o avicultor e o integrador, é no bolso do consumidor que a crise vai pegar. Aí, das duas, uma: resolvemos juntos ou pagamos a conta juntos.

A reação imediata à crise é reduzir o alojamento, o abate e a oferta, com diminuição de renda no campo, da receita na indústria e com o aumento do preço ao consumidor. Já o desafio é manter oferta e demanda, emprego, renda e exportação sem mexer no bolso do produtor, do abatedouro e do consumidor. E não da para fazer isso tentando domar o mercado. O setor precisa do governo.

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