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Uma regra geral da política moderna é que as pessoas que mais falam sobre as gerações futuras – que saem por aí declarando solenemente que estamos sobrecarregando nossos filhos com dívidas – são, na prática, as pessoas mais ávidas em sacrificar nosso futuro por ganhos políticos de curto prazo. Pode-se ver esse princípio em funcionamento no orçamento elaborado pelos congressistas republicanos, que começa com avisos severos sobre os malefícios dos déficits, mas depois exige cortes tributários que aumentariam ainda mais esse déficit, contrabalanceados somente pela alegação de que haveria um plano secreto para compensar essas perdas de receita.

Pode-se ver isso nas ações de Chris Christie, governador de Nova Jersey, que fala alto sobre "agir com responsabilidade", mas poderia ser o governador menos responsável que o estado já teve.

O grande feito de Christie – que irá definir seu histórico – foi sua decisão unilateral em 2010 de cancelar as obras já em construção de um novo túnel ferroviário entre Nova Jersey e Nova York. Na época, Christie alegou que estava sendo fiscalmente responsável, enquanto críticos afirmaram que ele havia cancelado o projeto só para poder reutilizar os fundos.

Agora, o independente Escritório de Prestação de Contas do Governo divulgou um novo relatório sobre a polêmica, que confirma tudo o que os críticos afirmavam.

Boa parte da cobertura jornalística sobre o novo relatório tem se concentrado, compreensivelmente, sobre as provas de que Christie fez declarações falsas sobre o financiamento e custos do túnel. O governador garantiu que os custos do projeto estavam subindo bruscamente; o relatório nos diz que isso simplesmente não era verdade. O governador alegou que Nova Jersey estava sendo pressionada com a responsabilidade de pagar por 70% de um projeto que cobriria de benefícios os residentes de Nova York. Na verdade, o grosso do financiamento proviria do governo federal ou da autoridade portuária de Nova York e Nova Jersey, que coleta renda de residentes de ambos os estados.

Mas, embora seja importante documentar a hipocrisia de Christie, é ainda mais importante compreender a completa sandice de sua decisão. O novo relatório reforça o quanto esse projeto de túnel era e é necessário, já devendo ter sido feito há muito tempo. A demanda de tráfego público aumenta em toda a América, refletindo simultaneamente o crescimento da população e as mudanças de preferências numa era de preços de gasolina elevados. No entanto, Nova Jersey se comunica com Nova York por apenas dois túneis de pista única, construídos há um século – túneis que funcionam a 100% de sua capacidade nas horas de pico. Como essa situação poderia não exigir novos investimentos?

Bem, Christie insistiu que seu estado não teria condições de pagar pelo preço. Como já vimos, porém, ele aparentemente não conseguiu defender esse argumento sem ser desonesto quanto aos números. Então, qual era sua verdadeira motivação?

Uma das respostas é que o governador tem ambições nacionais, amplamente conhecidas, e que a base eleitoral republicana odeia gastos governamentais em geral (a menos que seja com armas). E ela odeia o transporte coletivo em particular. De fato, três outros governadores republicanos – na Flórida, Ohio e Wisconsin – também cancelaram projetos de transporte coletivo financiado por fundos federais. A diferença, é claro, é que Nova Jersey é um estado com uma população muito densa, com a maioria de seus residentes morando nas regiões metropolitanas de Nova York ou da Filadélfia. Dada essa posição, o transporte coletivo é o sangue do estado, e recusar-se a investir nele estrangularia a economia do estado.

Outra resposta é que cancelar o túnel permitiu a Christie desviar os fundos desse projeto – como disseram seus críticos, para canibalizar o investimento – e colocá-los nos fundos da rodovia estadual, evitando, assim, o aumento do imposto estadual sobre a gasolina. Os impostos de Nova Jersey sobre a gasolina estão, aliás, mais baixos, em termos reais, do que em qualquer outro ponto da história do estado. Mas, como candidato, Christie disse que não aumentaria esses impostos – logo, canibalizar o túnel o permitiu evitar constrangimento.

O ponto crucial sobre ambas essas explicações é que elas viram a narrativa de Christie de ponta-cabeça. O governador faz a pose de um homem disposto a fazer escolhas difíceis para o futuro, mas o que ele realmente fez foi sacrificar o futuro a favor de vantagens políticas pessoais. Ele cedeu aos preconceitos nacionais dos republicanos que vão completamente contra as necessidades de Nova Jersey; preocupou-se mais em evitar constrangimento por causa de uma promessa equivocada de campanha do que em servir uma necessidade pública urgente.

Infelizmente, o comportamento de Christie é bem típico dos dias de hoje.

A América costumava ser um país que pensa muito no futuro. Grandes projetos públicos, do Canal de Erie ao sistema rodoviário interestadual, costumavam ser componentes bem compreendidos de nossa grandeza nacional. Atualmente, porém, os únicos grandes projetos que os políticos estão dispostos a assumir – sem poupar gastos – parecem ser guerras. Engraçado como isso funciona.

Tradução: Adriano Scandolara.

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