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Um dos aspectos no qual os americanos sempre foram excepcionais costumava ser nosso apoio pela educação. Primeiro, nós assumimos a liderança na educação primária universal; depois o "movimento pelo ensino médio" nos fez ser a primeira nação a abraçar a educação se­­­cun­­dária generalizada. E, a­­­pós a Segunda Guerra Mundial, o a­­­poio público, incluindo o Ato de Reajuste dos Militares de 1944 (conhecido em inglês co­­mo G.I. Bill) e a enorme ex­­pan­­são das universidades públicas, ajudou grandes números de americanos a ter acesso a diplomas universitários.

Mas agora um de nossos maiores partidos políticos tem se voltado duramente contra a educação, ou, pelo menos, contra a educação pela qual os americanos trabalhadores são capazes de pagar. Notavelmente, essa hostilidade à educação é partilhada pela alas socialmente e economicamente conservadoras da aliança republicana, agora personificadas em Rick Santorum e Mitt Romney.

E isso vem numa época em que a educação dos EUA passa por profundos problemas.

Sobre essa hostilidade: San­­torum fez manchete ao declarar que o presidente Ba­­rack Obama quer expandir o acesso às universidades porque elas são "fá­­­bricas de doutrinamento", que destroem a fé religiosa. Mas a resposta de Romney a um aluno do último ano do ensino médio, preocupado com os custos da educação superior, foi discutivelmente mais significativa, porque o que ele disse aponta para o rumo das escolhas políticas reais que poderão minar ainda mais a educação dos EUA.

E eis o que o candidato disse ao aluno: "Não vá simplesmente para aquela que tem o preço mais alto. Vá para a que tem um preço um pouquinho mais baixo onde você poderá ter uma boa educação. E, com sorte, se­­rá isso que você irá encontrar. E não vá esperando que o governo perdoe a dívida que você irá contrair".

Nossa. Lá se foi nossa tradição de fornecer auxílio estudantil. E os comentários de Romney foram ainda mais insensíveis e destrutivos do que parecem a princípio, considerando o que tem acontecido recentemente à educação superior americana.

Nas últimas gerações, escolher uma faculdade menos cara geralmente significava ir a uma universidade pública, em vez de uma privada. Mas, atualmente, a educação superior pública está em estado de sítio, enfrentando cortes orçamentários ainda mais severos do que o restante do setor público. Com ajuste da inflação, o apoio estatal so­­bre a educação superior caiu 12% ao longo dos últimos anos, embora o número de alunos tenha continuado a subir; na Califórnia, esse apoio caiu 20%.

Um dos resultados disso tem sido a alta das mensalidades. Os valores, com ajuste da inflação, em universidades públicas de cursos de quatro anos subiram mais de 70% na última década. Então, boa sorte para encontrar aquela faculdade que tenha "o preço um pouquinho mais baixo".

Outro resultado é que as instituições educacionais de orçamento limitado têm cortado despesas nas áreas em que são caras de se lecionar – que também são precisamente as áreas de que a economia necessita. Por exemplo, universidades públicas em um grande número de estados, incluindo a Flórida e o Texas, têm eliminado departamentos inteiros de engenharia e ciência da computação.

O estrago que será causado por essas mudanças – tanto para as perspectivas econômicas de nossa nação quanto para o cada vez mais esmaecido so­­­nho americano de oportunidades iguais – será óbvio. En­­tão, por que os republicanos estão tão ávidos por jogar a educação superior no lixo?

Não é difícil ver o que está por trás da ala partidária de San­­torum. Sua afirmação específica de que as universidades destroem a fé é, na verdade, falsa. Mas ele tem razão em sentir que o sistema de educação superior não é um território amistoso para a atual ideologia conservadora. E não são só os professores das artes liberais: entre cientistas, os que se auto-identificam como democratas superam o número dos que se auto-identificam como republicanos em nove para um.

Acho que Santorum vê isso como prova de uma conspiração liberal. Outros poderiam sugerir que os cientistas tenham dificuldade em apoiar um partido com uma tendência a negar a mudança climática e a teoria da evolução.

Mas, e as pessoas como Rom­­ney? Elas não têm algo a perder no futuro sucesso econômico dos Estados Unidos, ameaçado pela cruzada contra a educação? Talvez não tanto quanto se pense.

Afinal, ao longos dos últimos 30 anos, tem existido uma desconexão assombrosa entre os enormes ganhos de renda do topo e os sofrimentos dos trabalhadores ordinários. Pode-se defender que o interesse próprio da elite dos Estados Unidos é melhor servido ao garantir que essa desconexão permaneça, o que significa manter baixos os impostos sobre altas rendas a qualquer custo, ignorando as consequências em termos de infraestrutura debilitada e desqualificação da força de trabalho.

E uma educação pública sem fundos faz com que muitos dos filhos dos menos afortunados fiquem de fora da mobilidade de classes. Bem, você por acaso acreditava em tudo aquilo so­­bre criar igualdade de oportunidades?

Então, sempre que você ou­­­vir os republicanos dizerem que são um partido de valores tradicionais, mantenha em men­­te que eles fizeram uma ru­­p­­tura radical com a tradição dos Es­­­tados Unidos de dar valor à e­­­ducação. E eles fizeram essa rup­­­tura porque acreditam que não podem ser feridos por aquilo que você não sabe.

Tradução: Adriano Scandolara.

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