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Na cidade, que é conhecida como paraíso das compras de produtos eletrônicos e outros itens, agora o que se vê são ruas vazias e corredores de shoppings com mais vendedores do que compradores | Marcos Labanca/Gazeta do Povo
Na cidade, que é conhecida como paraíso das compras de produtos eletrônicos e outros itens, agora o que se vê são ruas vazias e corredores de shoppings com mais vendedores do que compradores| Foto: Marcos Labanca/Gazeta do Povo

A constante desvalorização do real em relação ao dólar – que chegou a R$ 4,14 nesta quarta-feira (23) – vem afetando diretamente a economia de Ciudad del Este, no Paraguai, fronteira com Foz do Iguaçu, no Oeste do estado.

Na cidade, que é conhecida como paraíso das compras de produtos eletrônicos, peças de vestuário, perfumes e outras bugigangas, agora o que se vê são ruas vazias e corredores de shoppings com mais vendedores do que compradores. Na Ponte da Amizade, onde a travessia costumava exigir paciência de pedestres e motoristas devido a longas filas e tráfego intenso, o cenário é de tranquilidade.

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A queda no movimento de sacoleiros já vinha ocorrendo gradualmente e se intensificou nos últimos meses com a disparada da moeda estrangeira. O momento delicado já provocou demissões e alguns comerciantes foram obrigados a fechar as portas de seus estabelecimentos.

“Chegamos a fazer apenas seis vendas num dia inteiro. O que vem nos salvando são os lojistas, que compram para revender”, comenta Eduaílson Cardias, vendedor de uma loja de receptores.

Para driblar a crise e atrair os clientes mesmo com o cenário negativo, os comerciantes fazem o que podem. No caso da SAX, desde agosto a estratégia da loja foi “congelar” a cotação do dólar em R$ 2,99. Mas valorização foi tão intensa, que a facilidade já tem data para terminar: o final deste mês. “Tivemos um bom resultado, mas como não controlamos esse fator econômico, se torna insustentável subsidiar essa cotação por mais tempo”, explica o gerente da loja, Carlos Braga.

Prós e contras

Os turistas que visitam Foz do Iguaçu também estão sendo afetados pelo câmbio e voltado das compras no país vizinho com as sacolas mais vazias do que o normal. “Muitos nem vão (ao Paraguai). Eles estão trocando o meio dia ou um dia inteiro que era destinado a fazer compras no Paraguai por outros passeios na região”, explica Marcelo Valente, diretor comercial da Loumar Turismo.

Por outro lado, Valente lembra que devido à valorização do dólar perante o real, muitos brasileiros estão trocando o exterior por viagens no território nacional. “Foz é um dos destinos escolhidos por eles”, complementa.

Para que o movimento não caia ainda mais, o empreendimento deve adotar estratégias mais convencionais, como promoções e muita publicidade. “Só estrutura e atendimento não tem dado o resultado que esperamos. A solução depende muito mais de fatores externos do que de nossa vontade”, complementa.

Na loja de departamento Multibox, a cotação praticada também está sendo mais baixa do que a encontrada nas casas de câmbio: R$3,90. “Só temos tido movimento nas sextas, sábados e feriados. Esta é a técnica que estamos utilizando e tem dado certo”, explica a atendente de caixa Cintia Carolina.

Entre os comerciantes, a expectativa varia entre o otimismo e o pessimismo. Os mais experientes, que já vivenciaram outros momentos de crise, acreditam que o fenômeno é passageiro, enquanto que outros temem a valorização ainda maior da moeda estrangeira perante o real.

Apreensões de mercadorias caíram 22% neste ano

A queda do movimento na região também tem reflexo no volume de apreensões de mercadorias na região entre Foz do Iguaçu e Guaíra. De acordo com números da Receita Federal, de janeiro a agosto deste ano, o total foi correspondente a US$ 68 milhões, índice 22% menor que no mesmo período do ano passado, quando chegou a US$ 87,5 milhões. Dos oito meses avaliados, somente julho registrou aumento em relação a 2014.

Entre as apreensões, os veículos apresentaram a maior redução (de US$ 15,2 mi para US$ 8,4 mi), seguidos pelo cigarro (de US$ 45,5 mi para US$ 37 mi). Em relação a peças de vestuário, a diminuição foi de quase 30%, de US$ 2 milhões de 2014 para US$ 1,4 milhão neste ano.

“Essa queda significativa deve-se principalmente a dois fatores: a crise econômica pela qual o país está passando com a alta histórica do dólar e a operação permanente e ininterrupta que foi realizada nesta região de fronteira de 24 de abril a 31 de agosto de 2015 (a Operação Fronteira Blindada - Ação Escudo)”, explica Giovana Longo, auditora-fiscal da Receita Federal.

De acordo com a auditora-fiscal, “a diminuição na entrada de produtos estrangeiros no país é percebida porque eles deixam de ser tão lucrativos em virtude da pequena diferença de valor no país e no estrangeiro e porque a percepção de risco torna-se mais presente”, destaca.

Em contrapartida, alguns produtos ilícitos continuam sendo lucrativos e demandados, como o caso de medicamentos, drogas, armas e munições. Para se ter uma ideia, neste mesmo período, as apreensões de maconha aumentaram de 2,5 para 4,8 toneladas; crack, de 34 para 484 quilos; e munições, de 1.503 para 4.664 unidades.

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