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Elon Musk na chegada da cerimônia do prêmio Breakthrough Prize, em Los Angeles (EUA), no último sábado (13): embates com Moraes e governo Lula lançam holofotes para negócios do bilionário no Brasil.
Elon Musk na chegada da cerimônia do prêmio Breakthrough Prize, em Los Angeles (EUA), no último sábado (13): embates com Moraes e governo Lula lançam holofotes para negócios do bilionário no Brasil.| Foto: Caroline Brehman/EFE/EPA

Os embates entre o bilionário Elon Musk e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e o governo federal lançam holofotes sobre os negócios do empresário no país. Veículos de imprensa e órgãos governamentais têm se debruçado para uma devassa nos contratos locais com empresas responsáveis pela fortuna do segundo homem mais rico do mundo, segundo o ranking da revista Forbes.

Além de dono do X, antigo Twitter, comprado em 2022 por US$ 44 bilhões, o empresário sul-africano detém pelo menos seis grandes empresas de alta tecnologia. No Brasil, depois da rede social, a vertente mais expressiva dos negócios de Musk está na Starlink, operadora do serviço de banda larga via satélite e braço da SpaceX, fabricante de equipamentos e veículos aeroespaciais, com os quais o bilionário pretende implementar seu projeto de colonização de Marte.

A Starlink pretende formar "constelações de satélites" para levar conexão para áreas remotas em todo o planeta. A autorização para o início das operações no país foi dada pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) no início de 2023, e, desde então, a empresa avança rapidamente nesse mercado.

Já são aproximadamente 150 mil conexões de satélite da empresa, que representam 37,6% das 329 mil conexões de banda larga desse tipo ativas no país em fevereiro de 2023, de acordo com dados da Anatel. A empresa é líder isolada entre os provedores do sistema na Amazônia Legal, com antenas instaladas em 90% municípios da região até julho do ano passado, segundo um levantamento da BBC News Brasil.

A maioria das cidades fica em regiões de difícil acesso, sem infraestrutura tradicional de internet de banda larga. A empresa, normalmente, tem planos agressivos de descontos para conquistar o mercado.

Musk conseguiu aproveitar o conflito com Moraes para turbinar ainda mais o negócio, reforçando, após as primeiras repercussões do embate, pacotes promocionais de venda de assinaturas.

Na segunda-feira (8), um dos dias mais acirrados da polêmica nas redes sociais, o site em português da Starlink exibia a redução de 50% no preço do kit (antena, roteador e cabos) para clientes residenciais. O valor foi reduzido de R$ 2 mil para R$ 1 mil até o fim de abril.

"Uma das principais vantagens do sistema da Starlink é a menor distância dos satélites em relação à Terra", explica Jayme Ribeiro, diretor executivo de vendas e marketing da Sencinet, representante da Starlink no país. "Isso permite uma viagem mais rápida dos dados, conhecida como latência. Dessa forma, o tempo de resposta é menor e vantajoso", completa.

MP pediu suspensão de contratos do governo com a Starlink

No meio do embate Musk-Moraes, o Ministério Público Junto ao Tribunal de Contas da União (MP-TCU) chegou a pedir, por meio de representação, que os contratos firmados entre a União e a Starlink, caso existentes, fossem rompidos. O subprocurador geral do MP-TCU, Lucas Furtado, alegou “violação à soberania nacional" por parte do empresário.

Na terça (8), Musk respondeu no X que se seus contratos fossem cancelados pelo governo brasileiro, ele ofereceria conexões em escolas gratuitamente. Mas a empresa não tem contrato com o governo federal para conectividade escolar.

Em maio de 2022, quando encontrou com o então presidente Jair Bolsonaro (PL) num evento no interior de São Paulo, o bilionário chegou a dizer que iria conectar 19 mil escolas nas zonas rurais e monitorar a Amazônia. O projeto não chegou a ser implementado, mas há iniciativas em âmbito estadual. "Vários estados, como Amazonas e Amapá, estão contratando a Starlink para escolas estaduais e municipais", afirma Ribeiro.

A empresa também coleciona uma carteira de usuários governamentais importantes, ainda que os contratos sejam pequenos. É o caso das Forças Armadas. O Exército tem encomendado um pedido de conexão com a plataforma no valor de R$ 146 mil, para a Infantaria de Selva de Rondônia.

A Marinha tem quatro contratos com a empresa, assinados em processo direto, onde órgão escolhe o fornecedor sem a necessidade de licitação. Os serviços são destinados às cidades de Belém, Santos, Rio de Janeiro e Porto Velho, com valores que variam de R$ 25 a R$ 146 mil, segundo dados do Portal Nacional de Contratações Públicas (PNCP).

Outros órgãos contratantes são Tribunais de Justiça, Tribunais Regionais Eleitorais (TREs) do Tocantins e Câmara Municipais, todos na região Norte. "Existem muitas empresas e entidades de governo usando os serviços da Starlink que seriam impactados por uma revogação dos serviços", afirma Ribeiro. "Mas não vejo isso como uma possibilidade factível de acontecer", diz.

Mercado potencial é animador, diz representante da Starlink

Para Ribeiro, as perspectivas da empresa são animadoras. Segundo a Anatel, a cobertura de quarta geração (4G) abrange quase 93% da população brasileira, mas apenas 16,7% da área geográfica do país. "O Brasil, pelas suas dimensões continentais e a dificuldade de conexão no interior tem um potencial muito grande", diz.

O Ibama já chegou a acusar que expansão da tecnologia de satélite na região impulsiona atividades ilegais, como o garimpo. O argumento não é levado a sério por especialistas, já que a opção seria deixar populações inteiras sem conectividade.

A competição tende a acirrar. Outras empresas nacionais e estrangeiras vem investindo na modalidade de internet por satélite. A Starlink tem, por enquanto, protagonismo no país e no mundo.

Segundo o Escritório das Nações Unidas para Assuntos do Espaço Sideral (UNOOSA) existem 10.928 mil satélites operacionais orbitando a Terra,. Desses, 5,4 mil são da Starlink. Ou seja, metade já faz parte da "constelação" de Musk. A pretensão da empresa é expandir para 40 mil.

Quais foram os primeiros empreendimentos de Musk

A riqueza de Musk, hoje calculada em US$ 195 bilhões, não partiu do zero. Filho de pai milionário, Errol Musk, soube multiplicar as oportunidades e dividendos. Visionário e polêmico, apostou sempre em inovação. Seu primeiro empreendimento de sucesso foi a Zip2, uma plataforma online de jornais vendida por US$ 300 milhões para a Compaq.

Em seguida, Musk fundou a X.com, que se tornou o PayPal, adquirido pelo eBay em 2003. Também teve participação em outras companhias, como a OpenAI, criadora do ChatGPT, que deixou em 2018.

Em 2002, criou a SpaceX, para revolucionar os voos espaciais comerciais. Foi a primeira empresa privada a lançar e recuperar com sucesso uma nave espacial da órbita da Terra. A empresa conseguiu desenvolver e lançar foguetes reutilizáveis, o que pode permitir à  indústria baratear as viagens.

Seu primeiro foguete foi enviado em 2008. Dez anos depois, Musk mandou um carro da Tesla para o espaço num teste do seu foguete mais poderoso à época. Mais tarde passou a enviar satélites e pessoas. Em 2021, a SpaceX fez história com o lançamento de quatro passageiros "comuns" à órbita da Terra. Desde 2023, realiza testes, ainda sem tripulantes, em supernaves, como a Starship, a maior do mundo.

Tesla, a fonte da fortuna

A Tesla, responsável pela maior parte da fortuna de Musk, foi fundada em 2003 pelos engenheiros Martin Eberhard e Marc Tarpenning, com foco na produção de energia limpa e carros elétricos. Em 2004, Musk investiu US$ 30 bilhões na empresa e se tornou seu presidente executivo e, posteriormente, o rosto da marca.

Ao contrário do que ocorre com outras empresas de Musk, a Tesla está listada na bolsa de valores de Nova York. Em alguns momentos, a empresa chegou a ultrapassar em valor montadoras tradicionais como Ford e General Motors, que têm números de produção e vendas muito maiores.

Em 2021, foi avaliada em cerca de US$ 700 bilhões e chegou a ter uma filial de produção na China, grande consumidora de carros elétricos. Uma das inovações da companhia foi o sistema de semi autonomia para os carros, o Autopilot, que permite que eles dirijam sozinhos por certo tempo. O recurso chegou a causar acidentes e ainda é controverso.

O portfólio da marca tem cinco modelos. O Model 3, sedan esportivo para famílias, e o Model Y, SUV de tamanho médio, foram os carros elétricos usados mais populares nos Estados Unidos, em 2023. No Brasil, segundo a empresa, foram vendidos 122 carros da Tesla de 2015 até 2021. A única forma de comprar é importando diretamente da fábrica, na Califórnia.

A Tesla, porém, não passa por seu melhor momento. A concorrência se acirrou com a expansão de marcas chinesas, como a BYD, e a desaceleração nas vendas de elétricos levou a empresa de Musk a demitir mais de 10% de seus funcionários nesta semana.

SolarCity, The Boring Company e Neuralink

Em 2016 foi a vez de investir na SolarCity. Fundada por primos de Musk, Peter e Lyndon Rive, a SolarCity era líder em instalação de energia solar em residências nos EUA. Adquirida pela Tesla, foi integrada à sua linha de produção, com foco em baterias solares para veículos elétricos.

A The Boring Company também começou em 2016, para construir túneis subterrâneos para resolver problemas de tráfego e transporte urbano. Seu projeto mais conhecido é o Loop, um sistema de transporte subterrâneo de alta velocidade.

A Neuralink é uma startup de neurociência de chips cerebrais cofundada por Musk em 2016. A ideia é desenvolver interfaces cérebro-máquina para melhorar a comunicação entre humanos e computadores e permitir que as pessoas controlem dispositivos diretamente com o pensamento. Recentemente, a empresa divulgou seu primeiro implante de chip em um cérebro humano.

X (ex-Twitter), arena da liberdade de expressão

Para comprar o Twitter, sua mais recente aquisição, Musk precisou de empréstimos e recursos da venda de ações da Tesla, que passou a operar em queda na Bolsa de Valores de Nova York.

A estimativa do mercado é de que a rede social – que Musk rebatizou de X – valha hoje um terço a menos que o valor da aquisição por Musk, de US$ 44 bilhões.

O Brasil é o sexto mercado do X com mais de 22 milhões de usuários, atrás apenas de Estados Unidos, Japão, Índia, Inglaterra e Indonésia, segundo dados da plataforma alemã Statista.

Hoje o Brasil tem 144 milhões de usuários de redes sociais. Conforme o relatório Digital Global 2024, o brasileiro fica mais de nove horas na internet, o que multiplica o potencial de negócios.

Mesmo antes de ser o dono, Musk já era um usuário frequente do Twitter. A compra, segundo ele, visava explorar o potencial da plataforma como espécie de "arena" de defesa da liberdade de expressão.

Começou no X o embate com o ministro Moraes. Na esteira das revelações de documentos feita pelo jornalista Michael Shellenberger em colaboração com a Gazeta do Povo, Musk definiu Moraes como "ditador" e ameaçou desbloquear os perfis suspensos por determinação judicial no âmbito dos inquéritos que investigam a suposta disseminação de desinformação nas redes sociais.

Por conta da polêmica, o governo Lula informou na sexta-feira (12) que suspendeu contratos de publicidade com a rede social X, antigo Twitter. Segundo o Executivo, até agora, o Executivo foram investidos R$ 5,4 milhões em publicidade na plataforma. A medida, com impactos aparentemente insignificantes para os números da empresa, foi criticada por juristas por ferir os critérios de impessoalidade para as ações governamentais.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a mandar recados a Musk durante o embate nas redes sociais. Na terça- terça (9), Lula disse que "bilionário tentando fazer foguete" vai ter que "usar muito do dinheiro que tem para preservar o planeta Terra".

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