A crise econômica pressiona as empresas de todas as idades e tamanhos indiscriminadamente. Inseridas na cadeia produtiva, as pequenas e médias empresas (PMEs) sofrem, de um lado, os reflexos da dificuldade das grandes, do outro, a alta do dólar, inflação e impostos e, em um terceiro ângulo, pelo consumidor, com menor poder de compra e índice de confiança (ICC) em baixa histórica. Ameaçados, os empresários procuram reduzir custos e encontrar soluções criativas para fazer mais com menos e não engordar estatísticas de fechamento de empresas.
Depois de uma experiência ruim, o cidadão sai mais fortalecido e tem maiores chances de sucesso na segunda empresa. Esse empreendedor agora tem outra oportunidade.
“O brasileiro já saiu de uma crise em 2009. Se não fossem as pequenas empresas a sustentar o mercado interno, provavelmente a economia teria entrado em colapso há anos”, diz o gerente de negócios competitivos do Sebrae, Agnaldo Castanharo. Segundo ele, o cenário não é surpresa, já que as sondagens sinalizavam o agravamento da conjuntura econômica. No mês passado, o ICC ficou 9,3 pontos abaixo do mínimo registrado durante a crise de 2008-2009, enquanto o Índice de Confiança do Empresário Industrial foi o menor em 16 anos e o do comércio teve a maior queda em cinco anos.
Cinto apertado
Confira algumas dicas do especialista Cícero Caiçara Junior para as PMEs driblarem a crise.
- Despesas : Para reduzir gastos não essenciais e eliminar desperdícios , é preciso rever todos os custos fixos e variáveis e encontrar soluções como a terceirização de serviços secundários e redução de estoque de produtos menos lucrativos
- Lucros : Otimização de força de trabalho e renegociação com fornecedores vão ajudar a melhorar a lucratividade
- Controle: Mapear indicadores, diminuir custos operacionais e garantir fluxo de caixa saudável
- Diferenciação: Identificar tendências de mercado e diferenciar-se com estratégias como oferecer melhor preço, maior valor agregado, melhorar atendimento ao cliente e reduzir o prazo de entrega
- Transparência: Compartilhar o cenário com a equipe e envolver todos na superação da crise
- Gestão : Buscar apoio de uma consultoria ou profissional que traga conhecimento, resultados e auxilie na implementação das ações.
Segundo Cícero Caiçara Junior, diretor da Primazia, consultoria especializada em gestão administrativa e estratégica, o primeiro passo para atravessar a crise com segurança é manter a gestão à vista, ou seja, sob análise da planilha de custos no papel, com classificação dos custos essenciais e eliminação ou redução dos não essenciais.
Também comum em tempos austeros, a redução da margem de lucro é um recurso para manter a competitividade. Como o aumento das taxas de juros e de tarifas como energia e combustível tornam esta uma operação delicada, a renegociação com fornecedores é uma boa alternativa, sem abrir mão da qualidade.
Quem tem criatividade e fôlego para investir durante a crise estará preparado para disparar quando o mercado estabilizar.
Nesse processo de redução de gastos, o corte de pessoal é uma das primeiras tentações do empresário, uma vez que a folha de pagamento é o que mais pesa nas contas. Porém, de acordo com os especialistas, a medida deve ser a última alternativa, já que as empresas precisam de uma equipe qualificada para superar a crise e sair na frente quando o cenário for revertido. “Além de ter custo, a demissão significa abrir mão de um recurso humano que é essencial em momentos difíceis, pois precisa-se de gente treinada para produzir mais e encontrar soluções”, diz o especialista do Inper Henrique Barros.
Diante disso, a transparência com a equipe é conselho unânime. “Compartilhar o momento com a força de trabalho e envolver todos no desafio é essencial, todos saem mais fortalecidos, assim como a empresa”, recomenda Caiçara Junior.
Inovação
Se de um lado é preciso cortar custos, de outro é essencial buscar soluções criativas para se diferenciar no mercado e antecipar tendências. Isso exige investimento, palavra temida em tempos áridos. “Quem tem criatividade e fôlego para investir durante a crise estará preparado para disparar quando o mercado estabilizar”, diz Agnaldo Castanharo.
É pensando nessa estratégia que a empresa ISO Enterprise tem perspectivas otimistas de crescimento em 2015. Com um software que gerencia o relacionamento com o cliente, a empresa de TI vem investindo na divulgação de seus produtos na internet. “Em momentos de crise, as pessoas precisam otimizar processos e nosso produto agiliza a prospecção e o fechamento dos negócios, por isso vemos a crise como uma oportunidade de divulgar nosso trabalho e ajudar outras empresas a superá-la”, diz Fernando Mazon, sócio da empresa.
Ao analisar o cenário, a empresa identificou uma nova demanda e desenvolveu um produto de inteligência competitiva para pequenas empresas. Com custo de R$ 900 mil, o projeto terá subvenção de 50% pelo governo e chega ao mercado em 2017. “Levamos nossa expertise para adaptar a experiência de outros clientes e otimizar o processo de cada um de maneira personalizada. Não basta vender mais, é preciso vender melhor e agregar valor”, diz Roger Araujo, também sócio da ISO Enterprise.
Bem Mais Simples reduz fechamento de empresas para 5 dias
Segundo o Fenacon, fechar uma empresa custava 44% mais caro que abrir
Segundo levantamento feito pela Federação Nacional das Empresas de Serviços Contábeis e das Empresas de Assessoramento, Perícias, Informações e Pesquisas (Fenacon), o fechamento de uma empresa no Brasil custa 44% mais caro do que para a abertura. Ou custava, até a implementação do programa Bem Mais Simples, do governo federal, que desburocratiza os processos de abertura e fechamento das empresas brasileiras.
O alto custo do procedimento, com pesados honorários cobrados por escritórios de contabilidade, deu lugar a um procedimento simples. O processo pode ser feito em cinco dias. “Vamos ter um quadro das empresas realmente ativas e temporariamente inativas e não mais permanentemente”, diz o ministro Afif Domingos, da Secretaria da Micro e Pequena Empresa. Segundo o órgão, até o início do programa, havia 1,2 milhão de empresas permanentemente inativas.
“A burocracia era enorme e desestimulava os empresários, o que acarretava em problemas como a falta da entrega do Imposto de Renda e o impedimento de abrir outra empresa”, diz o presidente do Fenacon, Mario Berti. Ele explica que agora as pendências da empresa fechada são passadas para a pessoa física, ficando o empresário livre para uma nova empreitada. De acordo com o Fenacon, mais de 30% das empresas não sobrevivem ao segundo ano de mercado.
“Depois de uma experiência ruim, o cidadão sai mais fortalecido e tem maiores chances de sucesso na segunda empresa. Esse empreendedor agora tem outra oportunidade”, diz o ministro. Segunda etapa do processo, a simplificação da abertura de empresas deve ser implementada no final de junho. “O próximo passo é aprovar uma proposta que permita às empresas passarem pelo processo de ajustes fiscais com o menor dano possível e possam crescer”, diz.(LS)
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