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A presidente cumprimenta população em visita a Cochabamba, na Bolívia, enquanto câmbio dispara em seu país | Danilo Balderrama/Reuters
A presidente cumprimenta população em visita a Cochabamba, na Bolívia, enquanto câmbio dispara em seu país| Foto: Danilo Balderrama/Reuters

"Corralito verde"

Troca de moedas cai após restrições e apavora cambistas

Agência Estado

A bateria de medidas impostas pelo governo da presidente Cristina Kirchner para restringir a compra de dólares por parte da população argentina provocou uma queda de 90% das atividades das casas de câmbio portenhas nas duas últimas semanas, afirmam fontes do mercado.

Os especialistas do setor cambial sustentam que, no caso de permanência do denominado "corralito verde", centenas de casas de câmbio – que nas últimas décadas tornaram-se parte indissolúvel da paisagem urbana portenha – terão que fechar suas portas. Por esse motivo, os diretores das principais empresas do setor se reunirão com o ministro da Economia, Hernán Lorenzino, e o secretário de Comércio Interior, Guillermo Moreno, para tentar negociar uma saída à crise do setor.

Um veterano funcionário de uma casa de câmbio, que acompanha o turbulento mercado cambial desde os tempos da recessão argentina de 1982, disse que a situação "está insustentável" e que em breve sua casa financeira terá que fechar as portas. "Gostaria de vender tudo e mudar para o Uruguai. Mas, não posso fazer isso agora, já que se vender o escritório e minha casa, não conseguirei dólares...mas somente pesos argentinos!"

O governador da província de Córdoba, José Manuel de la Sota, ironizou as restrições aplicadas pelo governo: "É mais fácil conseguir um documento de mudança de sexo do que comprar dólares neste país". Motivos para a piada do governador existem de sobra, já que as restrições criadas pelo governo Kirchner ao longo dos últimos oito meses somente permitem que os argentinos possam comprar dólares para o caso de viagens ao exterior (com a apresentação da passagem área) e uma detalhada explicação para onde viajará e os lugares onde o avião fará escala.

Depois de avaliar estes dados, a receita federal decidirá se permite a liberação de dólares para essa pessoa. Esta compra, no entanto, só poderá ser efetuada com dinheiro "bancarizado", ficando impossibilitada a compra com dinheiro em espécie.

A cotação do dólar paralelo voltou a disparar na Argentina e chegou a se distanciar mais de 40% do dólar oficial. Em algumas "cuevas" (casas de câmbio clandestinas), a moeda foi vendida por 6,80 pesos, enquanto no mercado oficial seu valor é de 4,59.

Para economistas, a subida está relacionada a novas medidas de restrição para a compra impostas pelo governo. Desde dezembro, Cristina Kirchner tem adotado medidas para limitar a fuga de capitais, um problema crônico da Argentina, que no ano passado atingiu US$ 20 bilhões.

Primeiro, a Afip (Receita Federal) passou a exigir justificativas de renda para vender a moeda. Depois, restringiu-se a compra de dólares para viagens turísticas, proibiu-se que as operações fossem pagas com dinheiro vivo e vetou-se que o dólar fosse vendido para fins de poupança.

"As imposições [...] geram uma reação de defesa por parte das pessoas, e o reflexo é que se compra mais dólares no mercado negro e que se gasta mais com bens duráveis. Ninguém quer ficar com pesos na mão", diz Marina Dal Poggeto, da Bein consultoria.

O governo diz que está empenhado na pesificação da economia e que não se preocupa com os compradores do mercado paralelo, por se tratarem de "uma minoria". A disparada do dólar foi acompanhada à distância pela presidente Cristina Kirchner, que passou o dia ontem na Bolívia.

A restrição à compra de dólares é um dos assuntos mais destacados do noticiário local. Sem confiança no sistema bancário, argentinos utilizam a moeda como primeira opção para a poupança.

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