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| Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

As dificuldades por que passam as empresas brasileiras em função da desaceleração na economia criou uma bomba-relógio que torna ainda mais grave o quadro fiscal no país. Analistas afirmam que o cenário para as contas públicas, que vão encerrar 2016 com um rombo de quase R$ 100 bilhões, tende a piorar. Isso porque o Tesouro Nacional pode ser obrigado, num futuro breve, a abrir os cofres da União para ajudar empresas que dependem dele e que enfrentam problemas financeiros.

O quadro mais sério estaria na Petrobras e na Eletrobras, cujo prejuízo líquido somado passou de R$ 24,5 bilhões em 2014 para R$ 49,8 bilhões em 2015. Mas não se limita às duas. Um levantamento da agência de risco Austin Rating mostra que outras empresas que dependem do Tesouro também têm registrado resultados negativos nos últimos dois anos. É o caso da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), cujo prejuízo somou R$ 2 bilhões nesse período.

Há ainda a preocupação com os bancos públicos, como Caixa e Banco do Brasil. Essas instituições estão expostas a riscos das estatais e de empresas como a Sete Brasil, que acaba de pedir recuperação judicial. A economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif, lembra que a presidente Dilma Rousseff expandiu muito o crédito dos bancos públicos. Agora, a inadimplência está subindo. Ao mesmo tempo, os bancos precisam ajustar suas exigências de capital para cumprir as regras de Basileia 3.

“O Banco Central faz testes de estresse que mostram um quadro favorável para o sistema bancário como um todo. Mas esse quadro não seria assim se o cenário fosse apenas para os bancos públicos”, afirma.

O economista-chefe do banco Votorantim, Roberto Padovani, diz que os investidores internacionais veem uma situação dramática para várias empresas brasileiras, incluindo as estatais, e estão mais preocupados com a capacidade do Tesouro de resgatar essas companhias do que com a crise política.

Sob condição de anonimato, um economista do mercado aponta que, se o impeachment for aprovado pelo Senado e o vice-presidente Michel Temer assumir o lugar de Dilma, uma das primeiras ações deve ser uma auditoria em bancos públicos e estatais. “Existe uma preocupação com os bancos públicos porque eles podem ter sido utilizados para ‘favores’.”

Segundo Zeina Latif, a Eletrobras pode precisar de um aporte de até R$ 10 bilhões, nas contas de especialistas. Sem conseguir vender todos os ativos que planejava, a Petrobras também pode precisar de mais dinheiro. O próprio governo determinou que o BNDES - que tem quase dois terços do seu funding em operações com a petroleira - diminua a exposição à empresa.

Outra preocupação com os bancos públicos é o julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF), que definirá se poupadores têm direitos a ressarcimento por perdas com planos econômicos das décadas de 1980 e 1990. Nesse caso, haveria um rombo de até R$ 340 bilhões.

De acordo com duas fontes graduadas, o BB tem caixa para não precisar de captação nos próximos três anos, se o cenário econômico continuar como está. A preocupação é que o ambiente ainda é bastante incerto. Alguns clientes pessoa jurídica quebraram ou passam por problema financeiro. Isso interfere na instituição. Com mais inadimplência, é preciso elevar o provisionamento.

O ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega concorda que há um grande risco de a viúva arcar com os estragos nas estatais, mas diz que esse não é o maior perigo à vista. O economista destaca que há a possibilidade de o país inteiro entrar numa situação de insolvência. Se as contas públicas não melhorarem, o risco é de um quadro de dominância fiscal, ou seja, em que a política de juros pararia de funcionar e aumentaria consideravelmente a inflação, o que diminuiria o valor dos títulos públicos.

“O Brasil pode caminhar para a corrosão inflacionária do valor dos títulos. Quem comprou papel de renda fixa num ambiente desse se ferrou. O governo voltaria a não conseguir captar. O risco nesse caso é o Brasil repetir uma experiência hiperinflacionária.” Maílson acrescenta que o governo tem de anunciar, urgentemente, medidas fiscais de corte de gastos e também de aumento de tributos.

Enquanto isso, o descontrole fiscal dos últimos anos continua a fazer estragos no cotidiano do brasileiro. As famílias sentem os juros altos por causa da crise de credibilidade e da acelerada recessão. O crédito está mais caro e escasso num momento de necessidade com a alta de desemprego.

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