• Carregando...
A empresária Juliana Loureiro Ferline recebeu vários “nãos” antes de conseguir um financiamento | Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do Povo
A empresária Juliana Loureiro Ferline recebeu vários “nãos” antes de conseguir um financiamento| Foto: Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do Povo

As companhias de pequeno porte ainda esbarram na burocracia, na elevada taxa de juros e na falta de garantias na hora de contratar um financiamento. Um terço das mi­­cro e pequenas empresas não consegue cumprir os procedimentos administrativos necessários na hora de pedir um empréstimo no banco e 17% não têm garantias su­­fi­­cientes para honrar a dívida – bens imóveis usados em caso de inadimplência.

As informações fazem parte de um diagnóstico inédito que está sendo elaborado pelo Sebrae com base em pesquisas realizadas com 3,6 mil empresas no Paraná.

Na hora de pedir dinheiro no banco, as dificuldades das micros se multiplicam e abrangem desde problemas na situação jurídica das empresas, até a falta de capital próprio e incapacidade de pagamento. A ausência de planos de médio e longo prazo, e o custo alto das operações, são apontadas como en­­traves ao acesso ao dinheiro. "Outro problema recorrente é a chamada assimetria de informação. O banco não consegue ter se­­gu­­rança sobre o relatório financeiro apresentado pela empresa", afir­­ma. Segundo Flavio Locatelli Junior, coordenador de acesso a serviços financeiros do Sebrae-PR

Para piorar, o levantamento mostra que as micros estão usando linhas de financiamento mais caras, como o cheque especial, que cobra juros de até 10% ao mês. Cerca de 32% das empresas ouvidas na pesquisa disseram que utilizam essa modalidade de recurso como fonte de financiamento – é a segunda linha mais contratada, atrás apenas da de capital de giro.

Como o cheque especial tem menos burocracia – já que é liberado direto na conta bancária –, ele acaba sendo uma opção usada com frequência pelas empresas, segundo Locatelli. "Enquanto linhas mais baratas, como cartão BNDES e Finame, ficam com 5% de cada uma das contratações", acrescenta Locatelli.

A dificuldade em lidar com esses fatores tem reduzido a participação das micros e pequenas no volume de crédito liberado no Brasil. Segundo dados do Banco Central, operações de até R$ 100 mil, que representavam 18,5% do total emprestado pelos bancos no país em 2004, caíram para 15% em julho desse ano – o equivalente a R$ 152,3 bilhões.

Os empréstimos entre R$ 100 mil e R$ 10 milhões, que representavam 43%, hoje participam com 38%. Em compensação, os valores acima de R$ 10 milhões, que representavam 38% em 2004, atingiram 46%. "Significa que as grandes empresas, que em geral contratam valores mais expressivos, estão abocanhando a parte das pequenas e médias justamente porque essas não conseguem viabilizar os financiamentos", afirma Locatelli Junior.

Apesar das dificuldades, quase metade das empresas (46%) diz que precisa de crédito para administrar seu negócio. O problema é conseguir ter acesso a ele, segundo a em­­presária Juliana Loureiro Fer­­line, dona da Camoa Confecções, que teve que ouvir vários "nãos" an­­tes de conseguir contrarar um fi­­nan­ciamento para produzir sua linha de roupas de praia. "Muitos bancos diziam que tínhamos que ter um faturamento maior. Mas era justamente por almejar uma re­­ceita maior no futuro que queríamos investir", lembra. "Para a mi­croem­presa não é fácil nem abrir conta em banco", acrescenta. Segundo ela, outra dificuldade é a garantia. "Não dá para usar imóveis onde residimos, então temos que utilizar um fundo de aval", afirma. A empresa pretende do­­brar a produção e fechar o ano com 25 mil a 30 mil peças de moda praia.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]