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Nos primeiro quatro meses do ano, 23 empresas de tecnologia estrearam na Bolsa de Valores dos Estados Unidos | Arquivo/ Gazeta do Povo
Nos primeiro quatro meses do ano, 23 empresas de tecnologia estrearam na Bolsa de Valores dos Estados Unidos| Foto: Arquivo/ Gazeta do Povo

Fomento

Aportes também contribuem para o amadurecimento dos empreendedores

O otimismo com o sucesso de aplicativos e plataformas digitais parece ter chegado com força ao Brasil. No fim de julho, dois fundos de capital de risco da Rússia e da Alemanha investiram R$ 90 milhões na brasileira Easy Taxi, que atua em 32 países com um app para chamar os veículos pelo smartphone. Uma semana depois, o MercadoLivre anunciou que vai destinar R$ 10 milhões de seu fundo de investimento para financiar o trabalho de três startups, todas fundadas nos últimos dois anos.

Os investimentos costumam ser bem recebidos pelos empreendedores novatos não só para propiciar o desenvolvimento dos negócios, mas também devido à mentoria oferecida pelos investidores – não à toa, o trabalho da empresa passa a ser acompanhado de perto e os pitacos não são poucos. O desenvolvedor curitibano Alessio Alionço, criador do site de compras coletivas Acesso Zero – que acabou sendo vendido para um concorrente – usou o capital próprio e mais recursos conquistados em duas rodadas de investimentos para dar o pontapé inicial em uma nova plataforma, a Pipefy, voltada a organizar processos administrativos e contábeis em empresas de pequeno e médio porte.

Ele não revela o montante recebido, mas reforça que a participação dos sócios-investidores foi essencial para que a ideia saísse do papel. "Quem está buscando investidores tem que procurar aqueles que vão trazer mentoria para o negócio. Dinheiro não faz milagre, é um catalisador", resume Alionço.

Opinião

Um dia saberemos se foi uma bolha

Guido Orgis, editor executivo de Economia

O problema das bolhas econômicas é que muitas vezes você só descobre que elas existem depois que estouram. Dizer que há bolha no mercado de aplicativos é ainda uma hipótese – baseada em fatos concretos, mas ainda uma hipótese. Por isso, precisamos olhar para as bolhas passadas.

Elas tiveram em comum o aumento muito acelerado de preços (de ativos, seja ações, casas, tulipas ou peixes ornamentais), com um comportamento no estilo manada (viraram os investimentos da moda e alvos de especuladores amadores), e muitas vezes estavam relacionadas a alguma novidade no mercado, uma nova tecnologia ou novo mercado.

Foram comuns na Europa as bolhas de ações de empresas que faziam comércio com o "Novo Mundo" e de produtos que caíam no gosto do consumidor. O mercado de aplicativos tem um pouco de tudo isso, mas talvez não tenha chegado ao ponto máximo das bolhas, que é virar a moda entre os amadores.

É muito provável, no entanto, que muitos investimentos em empresas de tecnologia se mostrem sem retorno. Se o tamanho do rombo for grande para fazer os mercados tremerem, teremos tido uma bolha.

  • Lançado há três meses, Yo recebeu US$ 1,5 milhão

A infinidade de novos aplicativos e serviços lançados a cada semana para smartphones e tablets tem empolgado não só os usuários destes dispositivos, mas também investidores de todo o mundo. Da noite para o dia – e aqui não é figura de linguagem –, desenvolvedores que trabalham em garagens ou quartos minúsculos recebem aportes milionários para levar suas ideias adiante, enquanto startups recém criadas são avaliadas em centenas de milhões de dólares pelo mercado. Há mesmo razão para tanto entusiamo? Pois há quem defenda que não e alerte que esta febre pode ter resultados catastróficos para a economia.

O risco de uma nova bolha envolvendo o mercado de tecnologia, como a vivida no início da década de 2000, tem estado presente com frequência na fala de analistas mais pessimistas nos últimos anos, mas ganhou força recentemente. Um dos grandes investidores dos Estados Unidos, o presidente da Greenlight Capital, David Einhorn, chegou a dizer em abril que "há um consenso claro de que estamos testemunhando a nossa segunda bolha de tecnologia em 15 anos". Para Einhorn, o que é incerto é o quanto mais essa bolha pode expandir e o que a fará estourar.

O alerta ganha eco na corrida de empresas do setor para listar papéis no mercado acionário em todo o mundo. Nos primeiros quatro meses do ano, foram feitas 23 ofertas públicas iniciais de ações (IPO’s, na sigla em inglês) de empresas de tecnologia somente nos Estados Unidos, na Nasdaq.

Entre os estreantes está o Weibo, o microblog chinês que viu o valor de suas ações dispararem 19% no dia seguinte ao IPO, fazendo a empresa receber um valor de mercado de US$ 3,5 bilhões. A tese dos pessimistas também foi reforçada com as aquisições bilionárias de serviços com pouco tempo no mercado, como a compra do WhatsApp pelo Facebook, por US$ 19 bilhões, e da Nest, fabricante de termostatos, pelo Google, por US$ 3,2 bilhões – valores considerados "duvidosos" por alguns.

Embate

Mesmo assim, dizer que há consenso sobre a existência da bolha está longe de ser verdade. Um grupo robusto de consultorias e investidores defendem que, mesmo havendo uma "empolgação geral" com startups e aplicativos, o que pode levar a avaliações de mercado superestimadas, o cenário atual está longe de lembrar o vivido no final da década de 1990, quando mais de 200 mil pessoas perderam o emprego nos EUA após o estouro da bolha – em 2000, o número de IPOs de empresas de tecnologia chegou a 261, contra os 70 estimados até o fim deste ano.

"O otimismo ou ‘oba oba’ já passou. Estamos num momento de ajuste, no sentido de termos mais empreendedores bons surgindo com grandes soluções realmente interessantes, em vez de vivermos aquele boom de ‘qualquer coisa vale milhões’", destaca Marcilio Riegert, CEO da aceleradora de negócios Start You Up.

App Yo não mostrou a que veio, mas ganhou milhões de dólares

O sucesso estrondoso de aplicativos lançados nos últimos anos, como o WhatsApp, Instagram e Uber, incentivou investidores privados a apostar boas quantias em serviços e produtos que prometem "revolucionar" a vida dos usuários. Somente no primeiro trimestre deste ano, fundos de venture capital investiram US$ 9,5 bilhões em 951 empresas norte-americanas, segundo a financiadora MoneyTree. Em geral, os investidores fazem aportes em startups em troca de uma participação no negócio, virando sócios dos empreendedores originais.

O app de mensagens Yo, lançado há cerca de três meses, recebeu US$ 1,5 milhão de investidores célebres, como o fundo Betaworks, que tem no portfólio o Airbnb e o BuzzFeed. O valor de mercado da empresa já é avaliado em US$ 10 milhões. Os aportes chamaram a atenção justamente pela função inusitada do aplicativo. Apesar de se tratar um app de comunicação, é possível enviar apenas uma única palavra, "Yo".

Para os críticos, a empolgação dos investidores com um produto que, à primeira vista, parece tão limitado, é uma prova de que muitas empresas de tecnologia estão sendo superestimadas. Mesmo assim, o número de investimentos continua sendo expressivo, inclusive no Brasil.

Levantamento da associação Anjos do Brasil divulgado nesta semana mostra que os 6.450 investidores anjos hoje existentes no mercado pretendem investir cerca de R$ 339 mil individualmente entre este e o próximo ano, totalizando R$ 2,6 bilhões em intenção. As startups na área de TI e de desenvolvimento de aplicativos são consideradas as mais atrativas.

"Tudo é uma questão de avaliar risco e retorno. Alguns empreendedores não apresentam um negócio, mas sim uma ideia solta. E essa ideia só vira um negócio se for apresentada uma solução para um problema, que pode gerar dinheiro", explica o co-fundador da rede de investidores-anjo Curitiba Angels, Leonardo Jianoti.

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