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Augusto Savio (canto inferior esquerdo) e o time da Daitan no Vale do Silício | Daitan
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Augusto Savio (canto inferior esquerdo) e o time da Daitan no Vale do Silício| Foto: Daitan Divulgação

Às margens da rodovia Dom Pedro I, que liga o Vale do Paraíba à região de Campinas, um escritório abriga quase 500 pessoas que escrevem linhas de código para o mundo todo. Os softwares produzidos ali, na sede da Daitan Group, ajudam a manter de pé empresas como o Skype e o índice Dow Jones, da bolsa de valores de Nova York.

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A Daitan é uma empresa brasileira de desenvolvimento de softwares. Sua sede fica em Campinas — cidade referência em tecnologia. Mas o CEO e parte da equipe de gestão ficam no Vale do Silício, nos Estados Unidos.  A "dupla nacionalidade" tem razão de ser. Os clientes, em geral empresas de tecnologia, estão nos EUA (e na Europa, eventualmente). Já a criatividade do brasileiro para resolver problemas é o grande diferencial da equipe. 

Na Inglaterra, quando alguém tira o telefone do gancho, é a Daitan que conecta a fibra ótica da British Telecom. A tecnologia dos brasileiros também ajuda a conectar a rede privada de comunicação que liga 16 dos maiores bancos de Wall Street. 

Muitas empresas que desenvolvem softwares fazem o chamado "outsourcing". São aplicações que ajudam nos processos internos dos clientes (como criar um site ou um programa de gestão de pessoas). A Daitan não. Ela produz o que está no "coração" das empresas, o produto que elas vendem para os seus usuários. 

O rol de clientes inclui grandes nomes como Ericsson, Microsoft e British Telecom. A empresa produz soluções em nuvem, inteligência artificial, área de segurança, para empresas das áreas de mineração, financeira, saúde, entre outras. 

Um cliente típico da Daitan é uma startup que cresceu, conseguiu um aporte de uns poucos milhões de dólares, e precisa sair da casa dos 10 mil usuários para chegar em 10 milhões. É um salto tecnológico muito grande, A tecnologia para dar suporte a isso é muito difícil de ser criada (e é nisso que a Daitan trabalha).

Cultura "de pobre": o trunfo do brasileiro 

A "cultura de pobre" do brasileiro é o grande trunfo da Daitan na hora de fazer negócios. Não o "jeitinho brasileiro". Mas a habilidade de fazer muito com muito pouco.

"A gente queria criar um conceito ousado em 2004, quando ninguém conhecia o Brasil. E mostrar para o Vale do Silício que somos um país de tecnologia", conta Augusto Savio, CEO da Daitan. 

O modelo já tinha sido validado. Augusto liderou, por cinco anos, um time brasileiro dentro da Lucent Technologies, um dos maiores laboratórios do mundo de tecnologia. Era no estilo "operações especiais": os brasileiros entravam em projetos do mundo inteiro para resolver problemas. E dava certo. 

"O primeiro caso foi uns meses depois que a gente chegou. A Lucent tinha perdido um negócio de US$ 86 milhões de dólares na Índia, na quinta-feira. Na segunda o time Brasil entrou em ação, fomos pra Índia e recuperamos o dinheiro." 

A sede brasileira da Lucent, em Campinas, chegou a ter 320 funcionários. Nos três primeiros anos, uma equipe de cinco pessoas (Augusto inclusive) ficava lotada na sede da empresa, em Chicago. Ao longo de cinco anos, o time brasileiro criou tecnologia para projetos do mundo inteiro. 

Os caminhos que levam ao Vale

Quando saiu da Lucent, Augusto convidou alguns de seus colegas para abrir a nova empresa. Entre eles o americano Jim Bergamini, que tinha sido responsável por implantar a Lucent no Brasil. “Ele era o ‘local accent’”, alguém que compartilhava da cultura dos clientes em potencial. Foi na casa dele, em Chicago, o primeiro escritório da Daitan em solo americano.

Em 2011, a base em Chicago foi fechada e transferida para São Francisco, na Califórnia. “Naturalmente a gente começou a ter muitos clientes no Vale do Silício”, e fazia mais sentido estar lá. Augusto se mudou com a família para os EUA. Enquanto o time americano cuida das vendas, a produção se concentra em Campinas.

Foi do Vale, pelo BayBrazil — organização que se dedica a integrar empresas e profissionais brasileiros ao Vale do Silício — que a Gazeta do Povo descobriu a Daitan. “Muita gente acha que é uma multinacional, porque em geral as empresas locais crescem para depois se internacionalizar. E a gente fez o contrário”. A empresa sequer tem site em português.

Números

A Daitan fechou 2017 com faturamento acima dos R$ 100 milhões. A previsão é estar "um bom tanto acima" disso, no final deste ano — em janeiro, a empresa registrou crescimento de 54%, em relação aos doze meses anteriores. 

Nos últimos cinco anos, a empresa cresceu numa média de 34% ao ano. Do faturamento total, 95% vem dos Estados Unidos e da Europa. Os outros 5% do Brasil (normalmente de clientes americanos e europeus que tem alguma operação por aqui).

O próximo passo da empresa é abrir uma sede, no Canadá. A Daitan começou a perder talentos porque seus funcionários queriam morar fora do país. A ideia é oferecer um plano de carreira em que as pessoas possam fazer este intercâmbio sem precisar deixar a empresa. A cidade escolhida, Victoria, tem um fuso horário parecido com o de São Francisco (onde estão os clientes) e clima similar ao de Campinas.

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