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O consumidor que toma dinheiro emprestado ainda sente pouco os efeitos da redução da taxa básica de juros, a Selic, hoje em 9,25% e com perspectiva de chegar a 7,5% até o fim deste ano. Quando o governo federal anunciou a “guerra contra os juros”, como parte de um conjunto de ações anunciado no fim de 2016, os especialistas alertaram que o caminho seria longo e tortuoso, e que essa guerra provavelmente só traria frutos significativos em 2018. Com a Selic em ritmo de queda, mas os juros do financiamento imobiliário e de veículos, por exemplo, pouco alterados, essa previsão parece estar se confirmando.

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Segundo os dados mais recentes do Banco Central, em junho do ano passado, quando a Selic ainda estava em 14,25% ao ano, as taxas médias de juros no crédito consignado – a linha mais barata de financiamento pessoal – estavam em 29,4% ao ano, sendo 2,2% ao mês. Um ano depois, com o juro básico a 10,25% (a taxa só caiu para 9,25% no fim de julho), a taxa a que o consumidor tem acesso na boca do caixa recuou pouco, para 27,4% ao ano, sendo 2,0% ao mês.

A maior redução foi vista no crédito sem garantia, em que as taxas médias passaram de 128,2% ao ano (7,1% ao mês) para 125% ao ano (7,0% ao mês), na mesma comparação. Para veículos, essas taxas saíram de 26% ao ano (1,9% ao mês) e foram a 24% ao ano (1,8% ao mês) no mesmo período. No caso dos imóveis, as taxas médias para financiamentos com recursos da poupança e do FGTS foram de 11,2% ao ano (0,9% ao mês) para 9,2% ao ano (0,7% ao mês), na mesma base.

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O repasse mais lento dessa redução, explicam os especialistas, acontece em razão do ainda incerto cenário econômico. Segundo o economista Maurício Godoi, da Saint Paul Escola de Negócios, esse ritmo deve continuar nos próximos meses, até que a economia dê sinais mais claros de recuperação e o governo ajuste suas contas. “A aprovação da reforma da Previdência deve oferecer um sossego maior aos bancos, que passarão paulatinamente a emprestar mais dinheiro”, ele diz.

E se por um lado a oferta é cara e escassa, por outro, a demanda também permanece pequena. Segundo a Boa Vista SCPC, a procura por crédito caiu 0,7% no primeiro semestre, mas ficou estável em junho na comparação com o mesmo mês do ano passado. “Quem tem dívida com um banco está tentando pagá-la em primeiro lugar”, diz Yan Cattani, economista do birô de crédito.

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Além disso, muitas pessoas estão tentando trocar uma dívida mais cara por outra mais barata, aponta Ricardo Kalichsztein, presidente da plataforma Bom Pra Crédito - que reúne mais de 25 bancos e fintechs e recebe cerca de 350 mil solicitações de crédito por mês. Ele nota a procura por empréstimos de até R$ 3 mil por um consumidor endividado, mas sem restrições no CPF.

Seis por meia dúzia

Quem já se comprometeu com um crédito ou está endividado encontra alternativas no mercado para pagar juros menores, mas precisa ficar atento para não acabar tendo custos semelhantes à dívida original ou até superiores.

Tomar um empréstimo sem garantia em uma fintech, por exemplo, acarreta juros na faixa de 2% ao mês – a mesma taxa do consignado em grandes bancos. Porém, quem tem um imóvel ou veículo em seu nome pode dar o bem como garantia e diminuir esse custo para pouco mais de 1% ao mês, em média.

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Diante do aumento do desemprego, os próprios bancos passaram a oferecer linhas de crédito para renegociação. Assim, vale fazer as contas e considerar mais de uma alternativa.

Porém, com a expectativa de redução no juro básico e, por consequência, das taxas repassadas ao consumidor, quem puder esperar um pouco mais pode sair ganhando, principalmente nos financiamentos mais longos, como a compra de um carro ou da casa própria.

No caso específico dos imóveis, pesa a questão do compromisso de compra. “Há pessoas que já fizeram um contrato e agora precisam financiar o restante do valor. Daí, não tem jeito”, diz Rafael Sasso, da plataforma Melhortaxa.com.

Uma simulação feita por Sasso mostra o efeito das taxas de juros no longo prazo. Ele toma como exemplo uma pessoa de 37 anos que busca financiamento para um imóvel de R$ 300 mil a uma taxa de 10,5% ao ano (a mais alta até junho). A pessoa pagaria parcelas mensais de R$ 2.788,15 em um prazo de 30 anos (360 meses).

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Se sua renda fosse menor que R$ 9,2 mil, não conseguiria o crédito, pois a parcela seria maior que 30% da renda. Com a queda da taxa para 9,49% (a mais baixa atualmente), a parcela cairia para R$ 2.604,02. Em 30 anos, o financiamento terá custado cerca de R$ 33 mil menos.

Antes de examinar qualquer oferta, é preciso analisar as próprias condições financeiras. “A melhor decisão é tomada quando o consumidor tem plena consciência de seu fluxo de caixa”, diz Nicola Tingas, economista da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento.

“O grande erro é olhar apenas para o bem, o prazo e a taxa, sem considerar o momento financeiro que se vive.”

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