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Mega Drive, video game dos bons tempos da SEGA | Wikimedia Commons
Mega Drive, video game dos bons tempos da SEGA| Foto: Wikimedia Commons

Em um período de reestruturações tecnológicas movidas pela tecnologia, deixar passar uma oportunidade ou ensaiar um passo em falso pode ser o suficiente para derrubar uma empresa. Mesmo uma enorme. Daí se pode simplesmente agonizar e jogar a toalha – ou, ainda, sacudir a poeira e correr atrás do tempo perdido.

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Em grande parte das vezes, entretanto, a reelaboração vem com um alto custo cobrados na forma de prestígio.

Já a Kodak precisou virar a página de uma liderança que tomou quase toda a metade do século passado, desmembrando-se em uma busca por oferecer soluções mais condizentes com o momento atual (conforme prova a Kodak Alaris). Para evitar a falência, a empresa teve que vender, por aproximadamente US$ 525 milhões, a maior parte de suas patentes para um grupo de empresas formado por algumas rivais de peso.

Confira quatro cases de empresas que já foram enormes, tiveram algum contratempo grave e, para não sumirem do mercado, precisaram se reinventar e se conformar com uma atuação mais modesta.

Eastman Kodak Company

A onipresença da Eastman Kodak Company era inegável durante grande parte do século XX. Tornando-se quase um sinônimo do registro fotográfico – referido em campanhas de marketing como “Momento Kodak” –, a companhia chegou a controlar 90% da venda de filmes fotográfico e 85% do comércio de câmeras em meados da década de 1970.

Negar a digitalização da fotografia, no final dos anos 1990, cobraria um preço alto posteriormente. Perdendo cada vez mais território para celulares e câmeras digitais, a solução foi rumar para outros departamentos a fim de se reerguer.

A Kodak Alaris, por exemplo, formada por pensionistas da antiga empresa matriz, dedica-se atualmente em oferecer soluções ao “caos de dados” das empresas. Aliando a venda de scanners a ações de consultoria focadas na digitalização e na organização de grandes volumes de dados, o spin-off segue ganhando mercados ao redor do planeta. “Nosso portfólio se baseia no processo de captura de dados, tanto em formato físico quanto virtual”, diz o diretor de negócios para a América Latina da companhia, Paulo Fernandes.

Atualmente em crescimento acima do mercado na região, a Kodak Alaris pretende ganhar mais terreno no Brasil, no México, na Argentina, no Chile, na Colômbia e no Peru. Os genes, entretanto, permanecem. “Temos nosso legado de patentes e conhecimento”, diz Fernandes. “Quando você pensa na parte técnica, há muito de reconhecimento de imagem, que é necessário para extrair informações – e isso é uma vantagem competitiva que ninguém nos tira”, conclui.

SEGA

A SEGA, uma empresa de jogos digitais do Japão, tornou-se sinônimo de entretenimento eletrônico durante os anos 1990. Ao lançar o seu video game Genesis/Mega Drive para fazer frente à Nintendo, a companhia passou a protagonizar uma das maiores batalhas mercadológicas do setor. Também uma das mais cômicas, conforme era lançados em ritmo semanal vídeos com “cutucadas” divertidas entre as competidoras.

O primeiro tropeço, entretanto, veio com o Saturn, video game baseado em CDs lançado em meados dos anos 1990. O primeiro aparelho capaz de gerar gráficos tridimensionais, ele, porém, apresentava vários problemas técnicos, amargando ainda falta de amparo de empresas terceiras no desenvolvimento de novos jogos. Como resultado, a estreante Sony abocanharia uma fatia gigantesca do mercado, preparando o terreno para o sucesso estrondoso do PlayStation 2.

Mesmo as tecnologias de ponta e o design inovador do SEGA Dreamcast, sucessor do Saturn, foram insuficientes para devolver o espaço perdido à fabricante – que acabou abandonando o mercado de equipamentos de video game poucos anos depois. Atualmente, a SEGA segue apenas com a produção de jogos para outras plataformas, incluindo Sony, Microsoft e a antiga rival dos tempos áureos, a Nintendo.

BlackBerry

Por vários anos, antes do furacão iPhone varrer o mundo, BlackBerry foi sinônimo de inovação no ramo de celulares, tornando-se particularmente célebre nas mãos de executivos e políticos. Em 2010, a empresa canadense chegou a dominar 43% do mercado de smartphones – porcentagem que incluía tanto o aparelho quanto um sistema operacional próprio, exclusivo para os dispositivos da marca.

O declínio, entretanto, viria com a chegada das telas sensíveis ao toque lançadas por companhias como a Samsung e a Apple. Com quedas acentuadas desde de 2011 – chegando a uma fatia de mercado de apenas 3,8% em 2013 –, muita gente apostava em um encerramento de atividades.

Hoje, a empresa ainda se mantém na ativa, com um rol de patentes avaliadas entre US$ 2 bilhões e US$ 3 bilhões. Mas a BlackBerry não fabrica mais celulares, embora modelos com sua marca estejam disponíveis no mercado. A diferença é que eles são fabricantes pela chinesa TCL, que garantiu um acordo de licenciamento para usar a prestigiada marca rival.

Reader’s Digest

Embora a mídia impressa, de forma geral, enfrente uma fase difícil, algumas marcas apresentam fissuras desde muito antes da tomada de territórios pela Internet.

Conhecida atualmente por epítetos inglórios como “revista de avós”, o periódico Reader’s Digest chegou a somar 16 milhões de leitores mensais nos EUA durante as primeiras décadas do século passado. A revista também chegou a ser disponibilizada em 17 línguas, inclusive o português brasileiro.

Entretanto, a mesma aposta que colocou a Reader’s Digest no topo também foi responsável por solapar suas bases. Embora tenha sido inicialmente amigável à revolução que desembocaria na formação da União Soviética, a revista passou progressivamente a identificar comunistas como “inimigos”, algo escancarado em muitas matérias.

Com a queda do Muro de Berlim, entretanto, a polarização que havia definido o globo por décadas arrefeceu – levando consigo parte considerável dos leitores da Digest, que ainda insistia na retórica antissoviética.

“Diante das revoluções sociais e políticas da contracultura dos anos 1960, da queda no interesse geral por revistas e do crescimento dos periódicos de nicho, talvez a queda da Reader’s Digest tenha sido mesmo inevitável”, escreveu a autora do livro Condensing Cold War: Reader’s Digest and American Identity (”Condensando a Guerra Fria: a Identidade Americana e da Reader’s Digest”, sem tradução para o português), em artigo especial à CNN.

A Reader’s Digest intensificou sua oferta de conteúdo digital após alguns tropeços nos anos 2000, que culminaram em um pedido de recuperação judicial em 2009. Apesar de não ter a mesma força de outrora, a revista se mantém firme com uma tiragem global estimada em 10,5 milhões de exemplares. 

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