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| Foto: Divulgação/American Airlines

As companhias aéreas vêm diminuindo seus assentos há um bom tempo, para reduzir o peso dos aviões e transportar mais passageiros por vez. Porém, ultimamente, algumas operadoras têm ido mais longe ao projetar suas poltronas: estão eliminando as telas dos assentos.

Formalmente chamadas de entretenimento de bordo, as telas e os programas pré-selecionados que exibem ajudam bastante a manter os passageiros distraídos e satisfeitos. Quanto mais longo o voo, mais útil se torna a telinha. Mas a instalação desses sistemas é cara: pode custar US$ 10 mil por assento, estima Dan McKone, diretor administrativo e responsável pela área de viagens e transporte da firma de consultoria L.E.K.

Eles também adicionam volume e peso aos assentos e rapidamente se tornam tecnologicamente obsoletos, especialmente porque a maioria dos americanos voa com pelo menos um dispositivo móvel, disse Henry Harteveldt, analista do setor de viagens e um dos fundadores do Atmosphere Research Group. “Algumas companhias aéreas veem essa remoção do ponto de vista de corte de custos, pois conseguem reduzir o peso da aeronave e os custos associados à manutenção dos equipamentos”, disse ele.

A American Airlines e a United estão aos poucos extinguindo as telas nas novas aeronaves que cobrem distâncias curtas, dando preferência à oferta de conteúdo que os passageiros podem assistir em seus dispositivos pessoais.

A decisão de atualizar ou não as telas, disse McKone, é basicamente econômica. “Acho que continuaremos vendo o aumento da pressão econômica para não atualizá-las, especialmente nos trajetos mais curtos.” Ele prevê que mais voos domésticos no futuro ofereçam conteúdo de streaming no modelo traga-seu-próprio-dispositivo.

Eliminação das telas dos assentos é também uma adaptação aos novos hábitos...

Melissa Golden/NYT

Alguns passageiros ficam felizes de dar adeus às telas do encosto. Lindsay Renfro, professora associada da Clínica de Mayo, é uma delas. Ela viaja uma vez por mês a trabalho, desenvolvendo ensaios clínicos para pesquisas sobre o câncer, e acha que esse tipo de entretenimento é redundante. “Estamos cercados de telas o tempo todo. Percebo isso quando estou voando e olho ao redor: as pessoas estão sempre com dispositivos pessoais, mesmo que uma tela do encosto esteja disponível.”

Essa é uma das razões pelas quais a Hawaiian Airlines não as instalou em seus novos aviões A321, como explica Peter Ingram, o diretor comercial. “Com o 321 percebemos que muita coisa vem mudando, e isso ajudou muito nessa nossa decisão. A maioria embarca com um dispositivo próprio e ignora os que oferecemos no assento.” Ele acrescentou que o ritmo acelerado da mudança tecnológica significa que o dispositivo do sistema de entretenimento instalado logo fica obsoleto. “Estamos focados no fato de que a maioria está trazendo seu dispositivo”, disse Ingram.

...mas há passageiros que criticam a nova tendência

Mas especialistas do setor dizem que há o risco de as companhias aéreas alienarem os passageiros que não usam o próprio dispositivo para acessar algum tipo de entretenimento durante o voo. Patrick Ligonde, responsável pelas operações em terra de uma companhia aérea que se autodenomina “nerd de avião”, viaja com seu smartphone por causa do trabalho, mas quando tem que deixar sua base na Filadélfia, faz questão de que o assento que comprou tenha a telinha no encosto, e chega até mesmo a pesquisar a configuração da aeronave antes selecionar seu assento.

“Tento usá-lo o máximo possível. Do ponto de vista do passageiro, facilita ter o monitor ali, em vez de ter que usar seu próprio dispositivo.” Outra vantagem, afirmou ele, é não chegar ao destino com a bateria descarregada.

Harteveldt disse que a pesquisa da empresa indicou que muitos viajantes frequentes preferem o mesmo. “Quem viaja a negócio diz que não há espaço para um smartphone na mesinha, caso esteja trabalhando em um laptop, ou se está usando um tablet ou smartphone para o trabalho, é difícil usá-lo para entretenimento. Ter duas telas separadas é uma vantagem”, disse.

Se há companhias que estão eliminando as telas, outras aumentam as opções de entretenimento

Algumas companhias aéreas apostam que podem conquistar parte do mercado de seus concorrentes atendendo a passageiros como Ligonde, tornando o entretenimento a bordo um diferencial da marca. Em 2017, a Delta lançou mensagens móveis gratuitas em seus voos e está no processo de instalar novas telas e disponibilizar mais conteúdo.

“Vemos a forma que as pessoas vivem, com cada vez mais acesso à mão, e queremos reproduzir isso no avião. Acreditamos que precisamos ter a tela no encosto do banco para nossos clientes”, disse Andrew Wingrove, diretor-gerente de experiência do cliente e estratégia de produto da Delta.

A Alaska Airlines também começou a oferecer mensagens gratuitas nos voos no ano passado, além do acesso Wi-Fi mais rápido. A JetBlue Airways, que fez do entretenimento uma parte crucial de sua imagem desde o princípio, está investindo em novos sistemas de entretenimento para seus aviões A320 e A321, segundo Mariya Stoyanova, diretora de desenvolvimento de produto da empresa. “Quando começamos a funcionar em 2000, tínhamos TV ao vivo em todos os assentos, coisa inédita na época. Faz parte do compromisso de nossa marca”, disse ela.

Algumas companhias aéreas estão investindo também em conteúdo, até mesmo encomendando vídeos da marca para acompanhar a variedade de filmes, programas de televisão, jogos e outras distrações que os passageiros podem consumir durante os voos.

“Temos conteúdo em nosso hub de Fly-Fi que é como uma revista de bordo”, disse Stoyanova. Ela contou que a JetBlue estava trabalhando com a empresa de mídia PureWow para criar conteúdo, incluindo vídeos de curta duração com dicas de viagem e conselhos de membros da tripulação. “Queremos que seja relevante para os clientes”, afirmou.

Michael Keating, executivo da Ink, que produz revistas de bordo, também desenvolve o conteúdo de vídeo personalizado para 40% das mais de 25 companhias aéreas que são suas clientes em todo o mundo. Segundo sua previsão, até o final de 2018, esse número será de cerca de 60%. “O mais importante para as empresas é se envolver com seus passageiros.”

Não importa o meio, entretenimento a bordo é essencial

As companhias aéreas dependem de suas ofertas de entretenimento durante o voo não só para promover a fidelidade à marca, mas também por causa de uma necessidade: distrair os passageiros amontoados na classe econômica. Robert W. Mann, consultor da indústria aérea, disse: “Basicamente, a finalidade é esta: manter os clientes ocupados e em seus lugares. É incrivelmente útil e, quanto mais longo for o voo, mais vantajoso se torna”.

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