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Tweetbot, app de Twitter para iOS, é um exemplo de app bem feito e com tamanho enxuto | TweetbotDivulgação
Tweetbot, app de Twitter para iOS, é um exemplo de app bem feito e com tamanho enxuto| Foto: TweetbotDivulgação

A memória dos celulares, essa que usamos para instalar apps, guardar fotos e outros arquivos, não é infinita. Nos modelos mais limitados, exige-se algum malabarismo para não esgotar o limite disponível. Um inimigo quase invisível pode estar pesando nesse aspecto, além de saturar sua conexão à Internet: o inchaço dos apps e a quantidade de atualizações que eles demandam rotineiramente.

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A Sensor Tower, uma empresa de análise de apps, detectou que entre maio de 2013 e maio de 2017, ou seja, em um intervalo de quatro anos, o tamanho dos 10 apps mais populares para iOS nos Estados Unidos cresceu 1100%, indo de 164 MB para 1,9 GB.

Crescimento no tamanho dos 10 apps mais populares do Twitter
Sensor Tower

Alguns cresceram mais que outros; o Snapchat lidera esse ranking ingrato, com um aumento de 51 vezes no tamanho necessário para ser instalado em algum iPhone. Ele não é o único que assusta pelo tamanho, porém. Apps que aparentam ser simples, como o Messenger do Facebook e o Twitter, são enormes – esses têm 154 e 122 MB, respectivamente. 

Crescimento vazio

Todo esse tamanho não se traduz necessariamente em novos recursos ou melhorias explícitas. Em boa parte dos casos, trata-se de redundâncias que seriam evitáveis ou códigos de monitoramento e testes. Às vezes, as empresas mantêm dois apps na mesma instalação para a realização do que, no jargão técnico, é chamado de “teste A/B”, quando uma parcela dos usuários recebe um recurso ou experiência diferente que, se for bem aceita, é estendida a toda a base de usuários.

Códigos de serviços de monitoramento também acrescentam “peso” aos apps. O desenvolvedor de iOS João Pedro Melo, 22 anos, explica: “algo muito comum nos apps hoje é ter vários e vários serviços de análise e estatísticas para rastrear o que o usuário faz. Um deles sozinho talvez não faça muita diferença no tamanho, mas quando você junta cinco diferentes, o que eu já vi, com certeza tem um efeito.”

O site App Size Calculator exibe a divisão de recursos presente em sites populares. No Snapchat, por exemplo, 82,7% do espaço consumido pelo instalador é código. Análises mais detalhadas, como esta do app do Facebook feita pelo engenheiro de software Alexandre Colucci, mostra que há muito conteúdo duplicado, como imagens, e arquivos de localização que poderiam ser eliminados ou baixados sob demanda – alguém no Brasil dificilmente precisaria do idioma húngaro no app.

O custo das atualizações

Históricos de atualização vagos

O crescimento exponencial dos apps serve de base para outro problema, o de mantê-los atualizados. O app do Twitter para iOS teve, em 2017, em média três atualizações por mês. Embora algumas tenham trazido mudanças significativas, como a do dia 15 de junho, que alterou a interface do app, a maioria traz explicações vagas. A de 5 de junho, por exemplo, se limita a dizer “algumas pequenas atualizações para melhorar ainda mais o Twitter.”

O app do Facebook, 227 MB no iOS, está na versão 100. Em junho, ele teve cinco atualizações. A empresa jamais revela quais novidades ou alterações o app sofre a cada nova versão que é lançada, como se vê na imagem acima.

Mesmo com esse nível de desinformação, manter os apps atualizados é uma recomendação básica de segurança. Atrás de relatórios de mudanças vagos, que não dizem muita coisa, podem estar otimizações e correções que blindam o app contra defeitos no funcionamento e tapam brechas para vírus e outras ameaças. O problema, para muitos, é dar conta desse fluxo sem ter uma conexão de dados robusta.

Hoje, as operadoras que atuam no Brasil oferecem planos com até 150 MB semanais, caso da TIM em seu mais básico. A cota seria insuficiente para atualizar o Facebook, por exemplo. E, no caso do iOS, isso nem mesmo é possível, já que o sistema bloqueia atualizações e instalações de apps que tenham mais de 100 MB via redes móveis. Mesmo no mais robusto entre os pré-pagos semanais, o da Claro, com 2,5 GB, a cota que seria comprometida apenas com atualizações rotineiras de aplicativos seria enorme. 

Paliativos

Apple e Google, que controlam as principais plataformas móveis em uso, iOS e Android, têm algumas medidas para amenizar o problema. A Apple usa uma técnica chamada “app thinning” para reduzir a demanda dos downloads de apps e atualizações. Trata-se, na realidade, de um conjunto de técnicas que faz com que o sistema baixe recursos do app de maneira inteligente. Exemplo: se um app tem versões para iPhone, iPad e tvOS, ao instalá-lo em um iPhone, ele baixará apenas os elementos necessários para rodar nessa plataforma, deixando de lado os do iPad e tvOS.

Outra coisa que o app thinning faz é baixar recursos sob demanda. Em um jogo, por exemplo, o sistema consegue baixar os recursos necessários para o primeiro nível e, apenas quando o usuário está próximo de chegar ao segundo, os referentes a esse são baixados. É uma maneira de acelerar a instalação e economizar tráfego e espaço no dispositivo.

Outra saída esperta são as atualizações delta – no Android, “smart updates”. Em vez do sistema baixar todo o código novamente na hora de atualizar um app que já está instalado, essa técnica permite que se baixe apenas os arquivos que foram modificações pelo desenvolvedor. O blogueiro Matt Birchler comparou os tamanhos exibidos nas lojas de apps e quanto, efetivamente, o iOS baixa nas atualizações. Encontrou uma diferença de 60% nos resultados.

O usuário também tem armas à sua disposição. A melhor delas é desativar a atualização automática em redes móveis. Dessa forma, os apps só são atualizados quando se está em uma rede Wi-Fi, de banda larga fixa, que (por enquanto) não tem limites de franquia. Isso só vale, evidentemente, para quem tem à disposição uma conexão Wi-Fi. Pelo custo, não é um cenário garantido.

Apps alternativos mais leves

Embora amenizem o problema, essas soluções não o resolvem. Na raiz dele estão duas perguntas inconvenientes: por que esses apps são tão grandes? E por que eles precisam ser atualizados com tanta frequência? As empresas não dizem, mas alternativas evidenciam que é possível um caminho diferente.

Tweetbot, um app de terceiros para usar o Twitter no iOS, tem 7,5 MB contra os 120 MB do app oficial. O Facebook, ciente do problema e sensível a áreas onde a disponibilidade de conexão não é abundante, oferece versões “lite” para Android dos seus principais apps, FacebookMessenger, com instaladores que têm menos de 10 MB.

Embora nem sempre essas alternativas tenham todas as funções dos apps principais, elas costumam manter as principais e mais importantes. Para quem não precisa de todas as funções, acaba sendo uma boa saída para preservar espaço no celular e tráfego de dados.

Outra boa solução, para quem tem acesso ao Wi-Fi, é limitar a atualização de apps a esse tipo de rede. Dessa forma, o sistema não faz as atualizações enquanto estiver no 3G ou 4G, evitando o gasto de dados com atualizações.

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