• Carregando...
Planta da Peróxidos do Brasil na Cidade Industrial de Curitiba | Albari Rosa/Gazeta do Povo
Planta da Peróxidos do Brasil na Cidade Industrial de Curitiba| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

De uma pequena sala na planta da Peróxidos do Brasil na Cidade Industrial, em Curitiba, algumas poucas pessoas se alternam para controlar o funcionamento de toda a operação. Não qualquer uma — é a maior do mundo dentro da sua categoria. Em breve, esses profissionais ganharão outra atribuição ainda mais surpreendente: controlar uma versão menor da planta erguida no interior do Maranhão, a 2600 quilômetros de onde eles se encontram. 

GALERIAVeja fotos da fábrica da Peróxidos em Curitiba

Capitaneado por Patrick D’Haese, diretor de tecnologia da Peróxidos do Brasil, o projeto MyH2O2, nome comercial de uma mini-planta de peróxido de hidrogênio controlada à distância, é mais que uma versão miniaturizada das que já operam em diversas partes do mundo. “É uma planta diferente, uma tecnologia nova que permite uma simplificação completa da tecnologia convencional”, explica D’Haese. 

A MyH2O2 se destaca pela tecnologia e pela sua viabilidade econômica. Até então, as “mini” plantas do setor existentes tinham que ser cinco vezes maiores que a MyH2O2 para fazerem sentido financeiramente. Carlos Silveira, CEO da Peróxidos do Brasil, explica que “desenvolvemos uma tecnologia que permite acompanhar passos de crescimento muito menores com um investimento em capital competitivo”. 

Desenvolvimento em etapas

O desenvolvimento da MyH2O2 levou quase sete anos para ser concluído. Ele teve início em Bruxelas, na Bélgica, em 2010, com um pequeno protótipo. No ano seguinte, já em Curitiba, a equipe de D’Haese construiu os dois primeiros mini-pilotos, desta vez empregando metal na construção, o que permitiu elevar o nível de pressão e as temperaturas. Com essa melhoria e numa escala maior, a capacidade produtiva aumentou 10 vezes. 

Em 2013, um piloto industrial foi construído na planta de Curitiba da Peróxidos do Brasil, o que permitiu alcançar um aumento de 1250 vezes na produção, chegando a 500 toneladas/ano. D’Haese diz que “foi um salto enorme de capacidade e o momento em que validamos o design, após uma série de modificações, e cristalizamos a tecnologia”.

Em 2016, veio a assinatura do primeiro contrato para a construção da MyH2O2 em Imperatriz (MA), uma mini-planta capaz de produzir 12 mil toneladas de peróxido de hidrogênio por ano para servir exclusivamente um cliente da região, a Suzano Papel e Celulose. 

Sala de controle na unidade de Curitiba da Peróxidos do BrasilAlbari Rosa/Gazeta do Povo

O início da operação dessa mini-planta previsto para o final de setembro, é um marco para a empresa e para o segmento. Silveira conta que “quando se tem uma nova tecnologia, há uma barreira a ultrapassar: convencer os 'early adopters' a investirem dinheiro em uma coisa que pode não dar certo. Nós estamos convencidos, mas o cliente não sabe, não viveu a história que passamos aqui”. 

Outras barreiras tiveram que ser superadas no processo. Uma das mais curiosas diz respeito à mini-planta em si: foi preciso transportar de caminhão a parte principal da estrutura, chamada “skid”, de Araucária, região metropolitana de Curitiba onde ela foi construída, até Imperatriz. Não é algo trivial, considerando que o skid tem 15 metros de altura e 4 metros de largura. Segundo os dois executivos, não havia estrutura na cidade maranhense para a construção do skid no local, o que exigiu essa grande operação logística.

Um olho no Maranhão, outro no Chile

A Suzano utiliza peróxido de hidrogênio para branquear celulose e terá exclusividade no consumo da produção da mini-planta de Imperatriz, substituindo outros fornecedores de quem obtinha o produto. O investimento da  mini-planta foi todo bancado pela Peróxidos do Brasil; a Suzano arcou apenas com algumas adaptações para conectar a sua fábrica ao novo empreendimento — basicamente, tubulações para o transporte do hidrogênio liberado na produção do clorato de sódio, que servirá de matéria-prima para a mini-planta, e para receber de volta o peróxido de hidrogênio produzido nela. 

A próxima mini-planta da Peróxidos do Brasil já tem local e data para ser inaugurada. Será no Chile, em 2019. A empresa já distribui peróxido de hidrogênio para outros países além do Brasil, boa parte por via marítima. A escolha do Chile é estratégica. Atualmente, o produto é estocado após chegar pelo Porto de São Vicente, no sul do país, para suprir dois clientes, a CMPC e a Arauco, em nove plantas localizadas num raio de 200 km. Com a mini-planta, em vez de estocar, a produção será feita localmente. 

Além da redução de custos, o conceito de mini-plantas reduz o gasto energético e promove economia em toda a cadeia de produção e distribuição do peróxido de hidrogênio. Ele próprio é muito interessante do ponto de vista ambiental, como explica Silveira: “depois que cumpre a sua função, ele vira duas coisas: oxigênio e água. Não tem químico mais interessante que esse, embora seja um de 200 anos”. 

Silveira e H'Daese atentam, ainda, a outras vantagens econômicas e ambientais: os caminhões que não precisarão mais rodar milhares de quilômetros para levar o produto à fábrica da Suzano e a utilização mais eficiente do hidrogênio como subproduto das plantas que usam o peróxido de hidrogênio em seu processo industrial. “E ajuda no desenvolvimento regional, investindo em regiões desprovidas de recursos, algo importante quando se olha a questão do desenvolvimento sustentável de maneira mais ampla”, complementa Silveira.

Água oxigenada

Instalada em Curitiba, a fábrica da Peróxidos do Brasil é única em sua categoria — a de plantas comerciais, que compreende aquelas com capacidade de produção entre 30 e 100 mil toneladas. Desde que foi inaugurada, investimentos bianuais em expansão e pesquisa e desenvolvimento para a aplicação do produto em novos segmentos catapultaram a capacidade produtiva da fábrica. Hoje, ela produz 187 mil toneladas de peróxido de hidrogênio, respondendo por 60% da demanda pelo químico na América Latina, com um quadro de funcionários de 180 profissionais.

O peróxido de hidrogênio é a popular água oxigenada. Silveira ressalta que essa não é a única destinação dele, porém: “Pelo poder oxidante da água oxigenada, essa é uma das aplicações, mas com esse mesmo efeito você branqueia outras coisas”. O leque de usos do material é amplo, vai de branqueamento da celulose até desinfetante de embalagens de sucos, passando pela mineração, tratamento de água, aplicações eletrônicas e como síntese de um plastificante à base de óleo de soja que torna mais flexíveis produtos como sandálias e brinquedos. 

Além de investimentos para o aumento puro e simples da capacidade de produção, a Peróxidos do Brasil sempre busca novas aplicações para o peróxido de hidrogênio, ou o que Silveira chama de “crescimento que nós criamos”. Segundo o executivo, isso ocorre “através da inovação, desenvolvendo aplicações que outrora eram feitas com outros oxidantes menos sustentáveis. Conseguimos, com essa pegada sustentável, substituir muitos dos nossos concorrentes — que não são os que fazem peróxido de hidrogênio, mas os que têm produtos que no passado faziam a mesma função, mas com um legado ambiental pior”.

  • Fábrica da Peróxidos do Brasil na Cidade Industrial de Curitiba (CIC).
  • Empresa produz peróxido de hidrogênio, popularmente conhecido como água oxigenada.
  • Produção anual responde por 60% da demanda pelo químico na América Latina.
  • Unidade da CIC conta com 180 funcionários.
  • E é de Curitiba que a Peroxido controla uma “mini-planta” no interior do Maranhão, chamada de MyH2O2.
  • Planta do Maranhão fica a 2,6 mil quilômetros de distância e é controlada pela equipe que fica na capital paranaense.
  • Na foto, da esquerda para a direita, Carlos Silveira, diretor geral da Peróxidos no Brasil, e Patrick Markus Dhaese, diretor de tecnologia.
0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]