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Operador na bolsa de Manila, nas Filipinas: crise afetará economias de todo o mundo. | Cheryl Ravelo/Reuters
Operador na bolsa de Manila, nas Filipinas: crise afetará economias de todo o mundo.| Foto: Cheryl Ravelo/Reuters

A concordata do Lehman Brothers e a venda da Merril Lynch bombaram nos sites econômicos por todo o dia de ontem, e os efeitos dessas notícias apareceram no índice Ibovespa, que caiu 7,59% – ou seja: em sete horas de pregão, as 60 ações que compõem o índice se desvalorizaram em R$ 110,7 bilhões. Quem investe em ações já sentiu, portanto, o efeito desse novo desdobramento da crise americana. E quem tem seu dinheiro em outro tipo de aplicação, também vai sofrer com o problema? Mesmo que seja um pequeno poupador?

Para o professor Marcelo Curado, do departamento de Ciências Econômicas da Universidade Federal do Paraná, a resposta é "sim". Curado avalia que ainda não é possível delimitar o impacto da crise atual. "Mas o que está bem claro é que ela é muito grave e chegou ao coração da economia americana, que é o sistema bancário", diz. "O Alan Greenspan, que foi presidente do Fed (o Banco Central dos Estados Unidos), disse que essa é uma crise do tipo que acontece uma vez a cada século", conta. Uma das conseqüências do problema é que ele fará com que a economia dos Estados Unidos encolha. E como os americanos puxam o crescimento global, o resto do mundo também sofre.

Na avaliação dele, o "descolamento" de que alguns economistas falavam no início do ano – ou seja, a idéia de que o Brasil poderia assistir aos problemas globais sem sofrer perdas em seu crescimento – não existe. E vários segmentos da economia sentirão os efeitos de uma crise prolongada. No centro dos eventos dos Estados Unidos está o crédito imobiliário, por isso ele acredita que também por aqui esses segmentos (imóveis e crédito em geral). "Estamos num ciclo de aumento no preço de imóveis, que parece que não vai ter fim. Mas vai ter", observa. "Essa bolha estourar em algum momento. Mas é algo mais para um médio prazo; os imóveis vão continuar sendo um bom negócio por mais alguns meses."

A dica de Curado é optar pelo conservadorismo. "As aplicações de risco", diz, "vão se tornar mais arriscadas nos próximos tempos." Exemplo disso está nas ações: o investidor estrangeiro está se retirando da bolsa brasileira, e essa é a principal razão de perdas como as de ontem. "No momento de instabilidade a melhor alternativa é ficar com aplicações que rendam juros pós-fixados", afirma.

Exemplos de papéis desse tipo são alguns dos títulos do governo federal disponíveis para compra pelo Tesouro Direto, como as NTN. OS CDBs, títulos privados (emitidos por bancos) de renda fixa também podem ser boas opções, dependendo dos juros que eles pagarem. "Dependendo do valor investido, os bancos aceitam pagar ao investidor a variação da Selic", diz Curado. "Mas depende muito de uma negociação entre a instituição e o cliente."

Um fato decisivo para a evolução das taxas de juros deve ocorrer hoje. O Fed deve definir a nova taxa de juros dos Estados Unidos, e a expectativa é de que ela caia 0,25 ou 0,5 ponto porcentual. Para Roberto Sevalli, diretor da Paraná Banco Asset Management, essa redução favorece o Brasil, já que a diferença entre as taxas brasileira e americana voltará a crescer. Por isso, Sevalli não acredita que o Banco Central brasileiro venha a elevar os juros em mais 0,75 ponto em outubro, medida que contribuiria para deprimir ainda mais a bolsa e estimular as aplicações de renda fixa.

Sevalli é um dos otimistas do mercado, e avalia que a aversão ao risco da renda variável deve diminuir nos próximos meses. Nesse caso, as ações voltariam a subir e recompensariam o investidor que aproveitar o momento para montar uma carteira de ações. "A situação deve estar acomodada no prazo de um ano", diz.

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