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Pessoas caçando fantasmas através de óculos de realidade virtual nos Estados Unidos | Jason Henry/NYT
Pessoas caçando fantasmas através de óculos de realidade virtual nos Estados Unidos| Foto: Jason Henry/NYT

Em um extraordinário complexo de escritórios na cidade, ao lado de caixas de refrigerante e inúmeros funcionários, está o protótipo de uma atração que Hollywood acredita que vai se tornar a próxima mania do entretenimento. A invenção da startup americana de realidade virtual Void promete trazer dinheiro para os criadores, dar vida nova aos shopping centres e, finalmente, agitar as vendas de aparelhos de realidade virtual.

A invenção da Void não parece nada especial. Quatro paredes de madeira pintadas de preto formam um quadrado de 2,8 metros. O interior é dividido em salas rudimentares interconectadas. Não há teto, apenas uma rede de cabos e sensores.

Porém, tudo muda quando você coloca um capacete de realidade virtual, pega um revolver de plástico, veste uma roupa especial e coloca uma mochila com um computador dentro: em poucos segundos, você e seus amigos se transformam em Caça-Fantasmas.

Veja imagens do estúdio de Caça-Fantasmas da startup Void

Agora, a primeira sala é um apartamento nova-iorquino repleto de móveis e com poltergeists cor-de-rosa. A arma de plástico funciona como arma de prótons, assim como nos filmes, e você pode usá-la para capturar as aparições (e atirar em qualquer coisa que esteja à vista).

À medida que a aventura de 10 minutos continua, o grupo acompanha fantasmas através do prédio de apartamentos – em um elevador que se move rapidamente, do lado de fora, em uma plataforma para lavar janelas – enquanto algumas almas penadas passam através de você, gerando um sopro de vento em seu rosto e uma vibração na roupa especial.

Um homem de marshmallow demoníaco chega nos momentos finais. Se você fizer tudo direitinho, o cheiro de marshmallow torrado toma conta do ar.

“Eu já vi muitas experiências de realidade virtual interessantes, mas nada se aproxima do que a Void está fazendo. A empresa vai inspirar a adoção da realidade virtual pelo mercado, essa é a verdade”, afirmou Cliff Plumer, ex-gestor de tecnologia da Lucasfilm que se uniu à startup de realidade virtual Void em 9 de fevereiro, ocupando o cargo de executivo-chefe da empresa.

Hiper-realidade

Será que as pessoas, especialmente os jovens, pagariam US$ 20 para ter esse tipo de experiência de “hiper-realidade”? A Void, que refinou o conceito de mapear um mundo virtual sobre um espaço físico, acredita que sim – na verdade, o primeiro endereço da empresa na Times Square está ganhando bastante dinheiro. Exibindo a mesma história dos “Caça-Fantasmas”, a atração foi aberta em julho no Madame Tussauds New York e já vendeu mais de 43 mil ingressos, com uma renda de quase US$ 900 mil.

A Void pretende abrir outras 20 atrações de hiper-realidade este ano. Alguns dos Centros de Experiência Void terão mais de um “palco” e também exibirão histórias diferentes: uma floresta repleta de dinossauros ou a procura por um tesouro em uma pirâmide do Egito.

Financiamento

Até o momento, a Void foi financiada por um de seus três fundadores, Ken Bretschneider, que investiu milhões. (Anteriormente, ele havia fundado a empresa de segurança online DigiCert, que foi vendida em 2012). A Void está buscando mais investimentos em parceria com o Raine Group, banco conhecido por investir na Vice e por sua conexão com a agência de talentos William Morris Endeavor. Ao mesmo tempo, operadoras de shoppings, redes de cinema e parques de diversão estão mostrando interesse na startup.

“De uma hora para a outra, algumas das pessoas mais influentes do planeta têm entrado em contato para conhecer o serviço”, afirmou James Jensen, outro fundador da Void. (O terceiro fundador é o diretor criativo Curtis Hickman, que já trabalhou com efeitos especiais e em shows de mágicos em Las Vegas; ele é membro da Sociedade dos Mágicos Americanos).

Stephen B. Burke, executivo-chefe da NBCUniversal, já experimentou um dos protótipos da Void, assim como Robert A. Iger, o executivo-chefe da Walt Disney Co. No ano passado, a Disney até trouxe um equipamento da Void para uma reunião de diretoria, para que os diretores da empresa pudessem conhecer o produto.

Vários diretores de Hollywood já testaram o aparelho, incluindo Steven Spielberg. “Dá para repetir muitas vezes, assim como um filme, criando uma forma extraordinariamente visceral e eficaz de contar uma história”, afirmou Ivan Reitman, que dirigiu “Os Caça-Fantasmas” I e II.

Entretenimento

O potencial da Void pode ter tanto a ver com as soluções que oferece a outras empresas, quanto com o que faz em termos de entretenimento. Para o consumidor ter contato com a tecnologia de realidade virtual, ele não precisa comprar os aparelhos. É só chegar ao estúdio e comprar um ingresso. É uma experiência social.

A Void também se vê como uma atração interessante para os shoppings que enfrentam problemas cada vez maiores, com o fechamento de lojas âncora. As redes de cinema, que muitas vezes são grandes demais, podem transformar auditórios em palcos de realidade virtual. As produtoras de cinema, em busca de novas formas de vender filmes e manter vivas as histórias entre um filme e outro da mesma série, também poderiam recorrer à Void.

“Somos uma solução importante para vários problemas difíceis”, afirmou Bretschneider.

Desafios

Exagero à parte, a Void também enfrenta muitos desafios. Um deles envolve a escala: como levar um número grande o bastante de pessoas para os palcos? A experiência dos “Caça-Fantasmas” em Nova York só consegue atender 450 clientes por dia; demora cerca de 15 minutos para que os participantes passem pela atração, incluindo colocar e tirar o aparelho. Outra questão é a sustentabilidade em longo prazo: mesmo que a Void cresça, o que a torna mais do que uma simples moda como o paintball, os simuladores de movimento e os fliperamas do passado?

Além disso, a concorrência não para de crescer. Na semana passada, a Imax afirmou que planeja abrir seis centros de realidade virtual ainda este ano, alguns em parceria com a AMC Theaters e a Regal Entertainment, ao custo de quase US$ 400 mil cada, sem falar nos imóveis. Um dos centros abriu as portas em janeiro em Los Angeles. Os ingressos custam a partir de US$7.

“A realidade virtual é um ecossistema complexo que precisa começar de algum lugar. É isso que estamos fazendo”, afirmou Rich Gelfond, executivo-chefe da Imax.

O Dreamscape Immersive também foi anunciado recentemente, com a expectativa de abrir seu primeiro centro dedicado a experiências de realidade virtual no segundo semestre deste ano. A empresa conseguiu 11 milhões de dólares em financiamentos de empresas como a 21st Century Fox, a Westfield Corp. e a Warner Bros. Spielberg também está envolvido.

“Reunimos uma equipe com anos de sucesso comprovado na criação e distribuição de entretenimento global”, afirmou Walter F. Parkes, produtor nomeado ao Oscar e fundador da Dreamscape.

Ainda assim, os líderes da Void afirmam que o fato de terem saído na frente, possuírem tecnologia própria e uma abordagem muito mais elaborada torna a concorrência irrelevante. “Obtivemos muito conhecimento e dados ao longo dos últimos três anos e isso nos colocou muito a frente do resto. Sabemos o que leva as pessoas a parar de se envolver com o conteúdo, o que é assustador o bastante e o que é assustador demais”, afirmou Jensen.

  • Caça-Fantasmas da startup Void é tipo um paintball moderno.
  • Você entra no estúdio, veste a roupa especial e coloca os óculos de realidade virtual.
  • Depois, é só sair em busca dos fantasmas
  • A experiência dura cerca de 15 minutos.
  • 450 pessoas por dia passam pelo local.
  • Se você conseguir chegar até o final, terá de destruir um marshmallow.
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