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Estudantes e professores protestam na Praça Santos Andrade contra a reforma do Ensino Médio. | Henry MilleoGazeta do Povo
Estudantes e professores protestam na Praça Santos Andrade contra a reforma do Ensino Médio.| Foto: Henry MilleoGazeta do Povo

Se faltava um episódio simbólico dos novos tempos nas universidades brasileiras, não falta mais: na última sexta-feira, na UFPE, militantes de esquerda radical, ligados ao PCO e ao PCdoB, encontraram do outro lado um grupo disposto a revidar na mesma proporção: impropérios com impropérios, agressão física com agressão física. 

O incidente aconteceu logo depois da exibição do filme O Jardim das Aflições, sobre o filósofo conservador Olavo de Carvalho. A plateia era de mais de 200 pessoas – o que mostra que, se a esquerda ainda tem amplo domínio nos campi universitário, já não é mais a única voz audível nesses ambientes. 

O aumento da diversidade de ideias é bem-vindo, e talvez ajude a levar as universidades brasileiras para fora de sua prisão ideológica em algum lugar dos anos 60. Mas os estudantes da direita emergente também precisam decidir como vão fazer essa disputa: se com as armas e os métodos dos adversários ou com aquelas que sempre professaram defender, justamente por serem moralmente superiores. 

Dois dias antes do incidente na UFPE,  um grupo de direita invadiu uma palestra Revolução Russa na UERJ e interrompeu a atividade aos gritos. É uma prática injustificável.

Durante anos, a direita acusou os grupos esquerdistas de usarem censura e  intimidação para impedir a livre circulação de ideias nas universidades.  De fato, tudo o que não seguia a ortodoxia da esquerda corria o risco de ser abafado por claques socialistas.

Isso não pode ser tolerado: o direito à livre expressão não é justificativa para cercear o direito de terceiros à mesma liberdade de expressão. 

Agora, a direita emergente precisa decidir como se posiciona. São três opções:

a) Isso é errado em qualquer circunstância;

b) Isso é certo em qualquer circunstância;

c) Isso só é errado quando usado em defesa de ideias equivocadas.

Enquanto a esquerda teve o monopólio, os direitistas costumavam criticar os oponentes usando o argumento da opção “a”: impedir a livre expressão seria sempre errado. Agora que parte da direita usa do mesmo expediente, alguns parecem ter aberto mão dessa posição. Restam duas. 

Ou eles admitem que não há nada de errado nesse comportamento (o que invalida o argumento “a”, defendido por eles no passado) ou adotam a opção “c”. Parece ser este o caso de alguns. Para eles, palestras sobre a Revolução Russa ou em defesa da ideologia de gênero devem ser barradas porque propagam ideias inaceitáveis.

Ou seja: algumas ideias podem ser expostas em público sem cerceamento, outras não. Não é nisso que creem os pensadores liberais e conservadores.

Embora a defesa do comunismo soviético seja incomperável com a simples exibição de um filme de filosofia, a direita precisa resistir à tentação de calar a voz dos oponentes. 

Em primeiro lugar, por que isto é contraproducente e apenas alimentará a narrativa da esquerda. Mais importante:  esse comportamento mina uma das bases do pensamento que forjou a tradição liberal e conservadora.

Comunistas radicais praticando a censura e a intimidação estão apenas seguindo o que dita sua cartilha ideológica. Mas, para os defensores da liberdade, não há opção que não seja a tolerância.

ARTIGO: Como George Orwell disse, 'algumas ideias são tão estúpidas que apenas intelectuais acreditam nelas', lembra o professor Walter E. Williams.

Publicado por Gazeta do Povo em Segunda, 16 de outubro de 2017
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