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Há três anos, a dona de casa Valdi­néia Lopes da Silva, 24 anos, aguarda uma vaga na creche para a sua filha Nicole, 3 anos e 8 meses. No começo do mês, Valdinéia acabou demitida devido ao grande número de faltas que teve no trabalho para poder ficar com a menina. Moradora do Terra Santa, no bairro Tatuquara, em Curitiba, Val­dinéia conta que a situação piorou depois que a sua mãe foi viver em Colombo, na região metropolitana. "Antes ainda poderia deixar com minha mãe, mas agora não tem como", afirma.

O drama de Valdinéia e Nicole pode ser comum: das 582,4 mil crianças entre zero e 3 anos no Paraná, 452,4 mil (78%) estão fora da escola. Além da dificuldade de acesso às poucas vagas que existem, os pais ainda têm uma compreensão errada do que é a educação infantil. "Acreditam que é mais um benefício do que um direito. Têm a ideia de que a creche é um lugar onde se deixa a criança para que alguém cuide enquanto eles trabalham. Mas não é isso. Esta faixa etária também precisa de atendimento educacional", explica o educador da UFPR Angelo Souza. Para Hirmínia Dorigan de Matos Diniz, promotora pública em Educação de Curitiba, do Mini­stério Público Estadual do Paraná, os gestores públicos também não entendem que a lei já estabelece a obrigatoriedade de oferta das vagas. "Há muita confusão sobre isso. A frequência ainda não é obrigatória, mas o poder público tem a obrigação de oferecer a vaga", afirma.

Apesar dos avanços em relação ao número de vagas nas creches nos últimos 20 anos, elas ainda são insuficientes. Só em Curitiba existem cerca de 9,2 mil crianças na fila. "O compromisso é que a de­­manda de hoje será atendida até o fim da gestão. Estamos trabalhando com a ampliação de alguns Cmeis (Centros Municipais de Educação Infantil) e a construção de outros", explica a superintendente de Gestão Educacional da secretaria municipal de Educação, Meroujy Giacomassi Cavet.

De acordo com a promotora Hirmínia, o compromisso por parte da prefeitura veio após o Minis­tério Público Estadual ter ingressado com uma ação civil contra o município. Para a promotora, também falta comprometimento por parte dos vereadores. "Os parlamentares podem apresentar emendas ao orçamento e criar mais vagas. A responsabilidade também é deles. A população precisa exigir do seu representante local porque os vereadores não apresentam interesse em criar mais vagas em creches", afirma.

Em casa

Parte dos pais prefere – e tem condições para isso – ficar com os filhos até que eles completem 3 ou 4 anos, porque acreditam que a criança se desenvolve melhor emocionalmente. "Não existem estudos científicos sérios, de longo prazo, que mostrem se é melhor deixar a criança em casa ou levá-la para a escola desde muito cedo. A decisão deve partir dos pais após avaliar o grau de independência da própria criança", afirma o neurologista Antonio Carlos Farias, especialista em distúrbios do desenvolvimento infantil e pesquisador do Instituto Pelé Pequeno Príncipe. Hirmínia ressalta, no entanto, que mesmo para os pais que preferem deixar seus filhos em casa é bom deixar claro que a estimulação da criança não será a mesma recebida na educação infantil.

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