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 | Antônio MoreGazeta do Povo
| Foto: Antônio MoreGazeta do Povo

Quando tinha 17 anos, tive a oportunidade de ensinar música para crianças em uma escola primária. Ainda no ensino médio, a experiência foi um pouco intimidadora, mas persisti e logo estava ensinando como um profissional. 

O maior benefício desse esforço empreendedor foi dinheiro que me proporcionou. Mas um benefício secundário e talvez mais valioso foi o que aprendi. Ter que ensinar os outros – que às vezes não estavam muito longe de mim em termos de conhecimento – me obrigou a prestar atenção, trabalhar duro e revisar conceitos musicais que não eram o meu forte. 

Nunca aprendemos tão bem quanto ensinamos 

Lembrei-me dessa experiência inestimável quando li um artigo recente na Education Week sobre Brianna Aubrey, estudante no último ano do ensino médio em Vermont. Com a mesma idade que comecei a ensinar música, Aubrey entrou em uma sala de aula para dar uso aos seus conhecimentos em idioma. 

Sua incursão na docência começou com um projeto escolar em que ela fez livros ilustrados em espanhol e leu-os para alunos da segunda série. A animação com que ela foi recebida a incentivou a começar um programa piloto ensinando espanhol para alunos do ensino fundamental. 

De acordo com funcionários da escola, as crianças aprenderam rapidamente, mas, como era provável, Brianna Aubrey também aprendeu. A sabedoria popular reconhece que aqueles que ensinam geralmente aprendem mais, e agora esse fato tem base científica. Como Annie Murphy Paul explicou há muitos anos na TIME: 

Estudantes chamados para ensinar os demais, conforme os pesquisadores constataram, se esforçam mais para compreender o material, se lembram com mais precisão e aplicam de modo mais eficaz. No que os cientistas chamam de ‘efeito mentorado’, professores estudantes têm notas mais altas em exames do que os estudantes que aprendem apenas para si mesmos. Mas como as crianças, que ainda estão aprendendo, podem ensinar outras? Uma resposta: elas podem ensinar crianças mais novas. 

Esse exemplo é uma exceção, não uma regra 

Infelizmente, o fato de que os esforços de docência de Brianna Aubrey são destacados por uma publicação de destaque em educação parece sugerir que essa atitude, apesar de ser benéfica tanto para os estudantes mais novos quanto mais velhos, é algo raro na educação americana. Isso acontece porque as escolas americanas buscam colocar apenas os indivíduos mais qualificados e credenciados na frente da sala de aula. 

Essa seleção cuidadosa é algo bom. Mas deixa o questionamento: será que essa atitude nega aos estudantes mais velhos oportunidades importantes de aprender e solidificar conhecimento – um conhecimento aprofundado adquirido apenas com a responsabilidade de ensinar? 

O finado autor e professor da Universidade de Chicago, Richard Weaver, escreveu: 

[Um] fardo da responsabilidade é, afinal, o melhor jeito de fazer alguém pensar direito. Se ele se sentir responsável pelos resultados, ele olha firmemente para a situação e se esforça para descobrir o que realmente é verdadeiro. Isso é disciplina. Mas quando ele já está há muito tempo absolvido do dever de pensar, ele pode ser tomado por um senso de desamparo e pânico quando a necessidade disso for colocada sobre ele. 

Falamos muito hoje em dia sobre como os jovens são infantilizados e vivem em uma espécie de Terra do Nunca até o final dos vinte e começo dos trinta anos. Será que veríamos estudantes agirem mais cedo como adultos sábios e bem equilibrados se lhes déssemos mais responsabilidade mais cedo? 

©2018 Foundation for Economic Education. Publicado com permissão. Original em inglês 

 Tradução: Andressa Muniz.

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