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Na reserva de Salto Morato, em Guaraqueçaba, os alunos têm contato direto com a exuberância e a biodiversidade da Mata Atlântica | Daniel Castellano/ Gazeta do Povo
Na reserva de Salto Morato, em Guaraqueçaba, os alunos têm contato direto com a exuberância e a biodiversidade da Mata Atlântica| Foto: Daniel Castellano/ Gazeta do Povo

Garotada compara situação da cidade com área ainda preservada

"Isso aqui parece um rio? Vocês teriam coragem de entrar?", pergunta Gilnei Luis Pereira, soldado da Força Verde, mostrando o canalizado e poluído Rio Belém, em Curitiba, a um grupo de alunos de Guaraqueçaba.

Uma vez por ano, os participantes do programa Guardiões da Natureza visitam Curitiba para perceber como ainda vivem numa região preservada e como é morar em lugar que já devastou a maior parte de seus recursos naturais. Encravada numa área de difícil acesso no Litoral Norte do Paraná, Guaraqueçaba está em um dos maiores e mais completos remanescentes de Mata Atlântica do Brasil.

"A ideia é formar multiplicadores de conhecimento", comenta Gilnei. Na cidade, o programa é desenvolvido há cinco anos e é financiado pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza. A cada ano letivo, a turma é renovada. As aulas ao ar livre ocorrem no contraturno, a cada 15 dias, especialmente na Reserva Natural de Salto Morato. Os temas incluem fauna, flora, pesca, lixo.

"Falamos sobre o que é a mata ciliar, por exemplo. E mostramos o quão importante é o lugar onde eles vivem", diz o soldado. Aproximadamente 200 alunos, de 10 a 15 anos, já participaram nos cinco anos de programa em Guaraqueçaba. Os Guardiões da Natureza estão também em outras cidades do Paraná.

  • Os estudantes aprendem conceitos como a dependência entre os elementos no meio ambiente

De todas as aulas, as de educação ambiental são as que mais combinam com o ensino ao ar livre. A teoria passada em sala ganha outras cores e dimensões quando os estudantes têm, na prática, a oportunidade de relacionar conceitos e entender o funcionamento da natureza. Essa premissa norteia as práticas educacionais adotadas em quatro projetos que servem de referência e podem ser replicados em mais escolas.

Revolução

Começou em março a revolução na educação ambiental que está em curso em escolas da rede pública em Campo Largo, na Região Metropolitana de Curitiba. Uma pesquisa feita com professores mostrou que a imensa maioria aprovava a ideia de fazer aulas ao ar livre, mas que só 6% conseguia – ainda assim em espaços como a horta escolar. Eles diziam também que queriam ensinar, mas não se sentiam aptos ou não tinham condições de tornar a educação ambiental mais efetiva.

O trabalho, desenvolvido pela Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS), envolvia também a percepção prévia dos alunos. "Nos desenhos deles não aparecem araucárias ou outras espécies típicas da região. Eles não retrataram a fauna e flora próxima do lugar em que vivem", conta a bióloga Solange Latenek, à frente do projeto.

A fase seguinte foi o treinamento dos professores. Durante uma semana com aulas teóricas e outra só com atividades práticas, cerca de 600 docentes se envolveram na capacitação. "Os professores têm interesse, mas como estudaram pedagogia ou licenciaturas, muitos ainda não tinham recebido conhecimento na área", afirma Solange. A ideia era desenvolver atividades simples, que podem ser aplicadas sem necessidade de investimento.

Basta apenas um barbante para realizar o exercício "Teia da Vida". Forma-se uma roda e cada criança escolhe um elemento da floresta de araucária (pinhão, gralha azul, cotia, grimpa, terra, luz solar etc). Os elementos começam ser citados e vão se estabelecendo relações entre eles. A medida que vão sendo incluídos, os alunos recebem um pedaço do rolo de barbante. O fio vai cruzando a roda e quando a trama está bem fechada, uma intervenção é feita: surge algo que "corta" a cadeia, como uma situação de desmatamento.

"É uma atividade de reflexão, que mostra a dependência entre tudo o que há no meio ambiente", destaca Solange. Ela afirma que, depois da capacitação, 100% das escolas da rede de Campo Largo passaram a ter aula em ambiente natural, principalmente nos parques da cidade, como o Cambuí.

A estimativa é de que 10,5 mil crianças e suas famílias tenham sido afetadas pelo projeto. Não dá para ter certeza da relação de causa e efeito, mas algumas situações que aconteceram na cidade estão sendo atribuídas ao processo de educação ambiental. Aumentou a coleta de lixo reciclável. Cresceu também a quantidade de denúncias de desmatamento, queimadas, poluição em córregos e maus tratos a animais.

Situações do cotidiano viram motor para ações pedagógicas

Até os pais foram incluídos nas aulas práticas de educação ambiental da professora Mariana de Oliveira Tozato. O Rio Belém passa a quatro quadras da Escola Municipal Wenceslau Braz, no Boqueirão, e frequentemente transborda, inundando as casas da região.

Como os problemas estavam batendo à porta, Mariana decidiu convidar pais e alunos para irem até o rio para saber qual o papel da população nas condições do Belém. De sofás a bonecas foram encontrados lá.

O projeto, envolvendo 73 crianças de 7 a 8 anos, cresceu. Os alunos participaram de uma caminhada, foram ao Jardim Botânico, produziram panfletos. Participaram de campanhas de reutilização de recicláveis e também debateram reportagens da Gazeta do Povo sobre rios e enchentes. Mariana acredita que o trabalho mudou a percepção dos alunos sobre o ambiente em que estão inseridos.

Já na Escola Municipal Professor José Wanderley Dias, no Barreirinha, 90 alunos fizeram pesquisas sobre a quantidade de lixo que produziam durante as refeições. Depois de separar os recicláveis, os estudantes montaram uma árvore de Natal com materiais coletados na própria escola. Também fizeram enfeites natalinos com a família.

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