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Com método Waldorf, a Escola Turmalina, em Curitiba, estimula seus alunos a desenvolverem atividades lúdicas e manuais | Felipe Rosa/ Gazeta do Povo
Com método Waldorf, a Escola Turmalina, em Curitiba, estimula seus alunos a desenvolverem atividades lúdicas e manuais| Foto: Felipe Rosa/ Gazeta do Povo

O essencial

Criado pelo austríaco Rudolf Steiner, em 1919, o método Waldorf chegou ao Brasil em 1956. Entre seus principais diferenciais estão:

Materiais orgânicos

Evita-se o uso de plástico e outras substâncias sintéticas. Brinquedos e objetos pedagógicos são feitos de madeira, pano ou argila.

Trabalhos manuais

Valoriza-se práticas como marcenaria, tricô e outras que exijam esforço físico, concentração e criatividade.

Artes

Música, pintura e escultura fazem parte do cotidiano dos alunos e estão presentes em todas as disciplinas. Todos aprendem a tocar algum instrumento e a cantar.

Ensino em ciclos ou "épocas"

Durante um mês, por exemplo, ocorre a "época de História", no mês seguinte vem a "época de Matemática" e assim com todas as disciplinas.

Não à tecnologia em sala de aula

Computadores e equipamentos eletrônicos são considerados desnecessários ao desenvolvimento saudável das crianças. A pedagogia Waldorf não condena a tecnologia, mas seu uso na educação só é aceito para alunos mais velhos, a partir do ensino médio.

Três dos colégios do Brasil estão em Curitiba

Logo que se chega à Escola Turmalina, no bairro Campo Comprido, em Curitiba, a sensação de entrar numa pequena vila é imediata. Ouve-se cantigas de roda o tempo todo e as vozes geralmente estão acompanhadas de flautas e violões. Há muitas árvores e flores bem cuidadas e rodeadas de cercas de madeira feitas à mão. Madei­­ra, aliás, é um material abundante por lá – seja nas pequenas casas onde ocorrem as aulas ou nos brinquedos do quintal. Não se vê plástico. Apenas o que é orgânico, como cordas de fibra natural ou lã.

O impacto visual já diz muito sobre a maior escola Waldorf da capital e única que oferece o ensino fundamental completo. Fundada há 18 anos, a Turmali­­na é fruto de uma associação de pais e professores que desejavam criar um ambiente para seus filhos que tivesse a simplicidade dos trabalhos manuais, a sensibilidade artística e o lúdico presentes durante todo o período escolar, não apenas em determinadas aulas.

A preferência pela vivência de conteúdos escolares, antes de receber os conceitos deles, é adotado em todas as aulas – desde lições de marcenaria até as disciplinas curriculares obrigatórias. "Este ano nós fomos para uma pousada no Canyon Guartelá e tivemos aula de Astronomia observando o céu à noite", exemplifica o professor Marcelo Pupo, um apaixonado pelo método e que atua há oito anos na escola. Para ele, as experiências desenvolvem muito mais do que apenas uma habilidade específica. "O excesso de tecnologia causa acomodação, e essas práticas trabalham exatamente a nossa força de vontade", diz Pupo.

Abrangência

Além da Turmalina, Curitiba conta com outros três centros de educação infantil que adotam o método, o Ghimell, o Magê Molê e o Cordão Dou­­rado. De acordo com a diretora do Cordão Dou­­ra­­do, Margarete Flores, muitos dos pais de alunos nunca tinham ouvido falar de Waldorf antes de matricularem seus filhos, mas se encantaram com o sistema alternativo. Foi o caso de Carina Martins Nogueira, mãe de Davi, de 4 anos. "Procurá­­vamos os elementos que achamos importantes na educação. O fato de a escola se parecer com uma casa e o foco nessas brincadeiras simples nos chamaram a atenção", conta.

Segundo a Federação das Esco­­las Waldorf no Brasil (FEWB), há 82 instituições que adotam o método no país. Não há um sistema de fiscalização rígido para acompanhar a qualidade do serviço. Para receber o reconhecimento, em geral, ao declarar-se como Wal­­dorf e seguir as linhas gerais desse pensamento, a escola já é cadastrada. Eventualmente, tutores vinculados à FEWB visitam as instituições credenciadas, mas limitam-se a fazer recomendações.

Jônatas Dias Lima

As principais ferramentas de ensino de algumas escolas norte-americanas localizadas no Vale do Silício – epicentro da economia tecnológica e onde estão as sedes de gigantes como Google, Apple, Yahoo e Facebook – não têm nada de alta tecnologia: quadro-negro com giz colorido, estantes com enciclopédias, mesa de madeira cheia de apostilas, lápis preto, papel e agulhas de tricô. Não há um único computador à vista. Eles não são permitidos em sala de aula e o colégio até desaprova seu uso em casa. Essa postura faz parte do método Waldorf de ensino, adotado em vários países e presente em 82 escolas no Brasil e cerca de 160 nos Estados Unidos.

Essas escolas caminham na direção oposta da grande maioria das instituições de ensino. Vincu­­lar o aprendizado com no­vas tecnologias é um caminho defendido por muitos especialistas. Contudo, a metodologia waldorfiana está focada em atividade física e aprendizado por meio de tarefas criativas e manuais. Aque­­les que apoiam essa abordagem dizem que os computadores inibem o pensamento criativo, a atividade, a interação humana e a atenção.

Entre os alunos de uma das escolas Waldorf de Los Altos, na Califórnia, três quartos são filhos de pessoas que trabalham nas grandes corporações do Vale do Silício e têm forte conexão com a informática. Alan Eagle, 50 anos, é formado em Ciência da Com­­putação e trabalha na área de co­­municação executiva do Google. Ele usa iPad e smartphone e matriculou os dois filhos, Andie e William, em instituições com essa metodologia. Como outros pais, Eagle não vê contradição na postura adotada com os filhos. A tecnologia, diz ele, tem tempo e lugar. "Eu rejeito a ideia de que se precisa de auxílios tecnológicos no ensino fundamental. É ridículo defender que um aplicativo de iPad possa ensinar meus filhos a ler ou a fazer aritmética melhor", diz.

Comparação

Defensores do método Waldorf dificultam a comparação com outras metodologias. Em parte porque não são administrados testes padronizados nas séries primárias. Eles seriam os primeiros a admitir que alunos das séries iniciais podem não obter boas notas nessas provas pelo fato de não serem treinados segundo um currículo padrão de Matemática e Leitura. Diante disso, o debate recai na subjetividade, na escolha parental e numa diferença de opinião sobre envolvimento.

Paul Thomas, professor de Educação na Universidade de Furman (EUA) e autor de 12 livros sobre métodos de educação pública, diz que "uma abordagem parcimoniosa da tecnologia na sala de aula sempre beneficiará o aprendizado". Contudo, ele afirma que "a tecnologia é uma distração quando precisamos de alfabetização, alfabetização matemática e pensamento crítico".

Na área pedagógica, uma preocupação comum a respeito do método Waldorf refere-se aos casos em que um aluno é transferido para uma escola mais convencional. Na opinião da professora Maísa Pannuti, dos cursos de Pedagogia e Psicologia da Univer­­sidade Positivo, as crianças da educação infantil são as que sentem mais o impacto da mudança, já que as escolas Wal­­dorf não alfabetizam até os 7 anos de idade. Entretanto, o processo de adaptação costuma ser curto. "Eles desenvolvem muito bem outros aspectos essenciais à primeira infância. Por isso acabam se adaptando rápido", diz Maísa.

Interatividade

O que você acha do sistema Waldorf? Você concorda que o uso de novas tecnologias pode ser prorrogado no processo de ensino? Por quê?

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