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Currículos com ênfase em conceitos matemáticos básicos, desenvolvimento de linguagem e introdução a leitura impulsionam habilidades. | PIXNIO.
Currículos com ênfase em conceitos matemáticos básicos, desenvolvimento de linguagem e introdução a leitura impulsionam habilidades.| Foto: PIXNIO.

As desigualdades de desempenho entre alunos no ensino fundamental e médio tem uma raiz anterior: desde educação básica, existem diferenças de níveis de aprendizado entre as crianças. Para preencher essa lacuna, especialistas indicam que uma educação infantil mais focada no desenvolvimento de competências pode ser a solução. 

Um estudo da Universidade de Berkeley na Califórnia aponta que uma educação infantil mais acadêmica, ou seja, baseada no desenvolvimento de habilidades em linguagem e conceitos de matemática, tem efeito em toda a trajetória acadêmica de crianças de classes média e baixa. 

“Pela primeira vez podemos detectar os efeitos da educação a partir da pré-escola nessas camadas da população”, afirma o professor Bruce Fuller, autor da pesquisa. De acordo com o estudo, currículos com ênfase em conceitos matemáticos básicos, desenvolvimento de linguagem e introdução a leitura impulsionam habilidades cognitivas das crianças em idade pré-escolar, quando comparados com aquelas que iniciam a vida escolar depois da educação infantil. 

Modelo controverso 

Uma das principais diferenças desse modelo é a diminuição do foco em atividades recreativas, como jogos e brincadeiras, e maior exigência de concentração na sala de aula. 

Essa mudança de perspectiva gera controvérsia entre especialistas que defendem que as atividades lúdicas desenvolvem habilidades importantes para o sucesso acadêmico, como controle emocional, laços afetivos, sociabilidade e senso de pertencimento a um grupo. A importância do lúdico é tema central entre psicólogos do desenvolvimento. Segundo eles, um excesso de atividades acadêmicas muito cedo na vida escolar pode atrapalhar a progressão da infância e ter consequências psicológicas até a vida adulta. 

“Minha hipótese é que o aumento geracional em objetivos externos, ansiedade e depressão são todos causados, em grande escala, pelo declínio em oportunidades de brincar livremente e o aumento do tempo e peso de tarefas escolares”, defende o psicólogo Peter Gay, professor da Universidade de Boston e autor de “Free to Learn” (Livre para Aprender, em tradução livre). 

Mas o desenvolvimento emocional é apenas um aspecto. As diferenças no desempenho acadêmico persistem quando se colocam na balança as demais influências sobre o desenvolvimento cognitivo das crianças – ambiente familiar e perfil socioeconômico, por exemplo, podem influenciar a capacidade dos pais de oferecerem auxílio na aprendizagem dos filhos. 

Reduzindo diferenças 

A pesquisa de Fuller reforça a tese de que a educação infantil acadêmica é uma solução para diminuir o hiato entre as crianças de diferentes perfis socioeconômicos. Para isso, foram analisados os dados de aprendizagem de 6.150 crianças norte-americanas desde o seu nascimento, em 2001, até os cinco anos de idade. O grupo foi dividido entre aqueles que frequentaram educação infantil acadêmica e os que permaneceram em casa até o começo do ensino fundamental. 

Segundo ele, as crianças de famílias com renda mais baixa foram as que tiveram mais benefícios pelo modelo, com um aceleramento das suas habilidades em linguagem e matemática em até quatro meses em relação àquelas que ficaram em casa até os quatro anos de idade. Em seguida, vieram as crianças de classe média, com aceleramento médio de 2,5 meses. 

As mudanças se mantiveram até o final do período de educação infantil, sem desvantagens emocionais ou sociais, até o começo do ensino fundamental.

Para especialistas, o modelo ideal tem  atividades focadas no desenvolvimento de habilidades, mas com caráter lúdico adequado ao perfil das crianças de até cinco anos.   

“O trabalho pedagógico aliado à atividade lúdica aproxima a criança do universo estudado e proporciona divertimento, tornando o processo de aprendizado algo prazeroso que tende ao alcance de resultados positivos”, afirma a pedagoga Michele Santos de Meneses em pesquisa sobre o papel das atividades lúdicas no cotidiano escolar da educação infantil.

Dessa forma, estudo e brincadeira não precisam estar separados: “O professor deve oferecer atividades que façam parte do mundo infantil e que através disso incentivem o seu desenvolvimento”.

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