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| Foto: Henry Milleo/Gazeta do Povo

Dois profissionais que já foram membros de bancas examinadoras afirmam que as tentativas de fraudes são comuns e não se restringem às universidades. No serviço público e em empresas privadas, também há casos recorrentes de candidatos brancos que se declaram negro ou pardo.

“Em uma empresa de São Paulo, de mil inscritos por cotas, tivemos mais de 50 tentativas de fraude”, conta o diretor da Associação Cultural de Negritude e Ação Popular (Acnap), Paulo Borges, que já participou de mais de 15 comissões examinadoras.

Em geral, as bancas fazem uma espécie de entrevista com cada candidato autodeclarado negro ou pardo. Nesta ocasião, os avaliadores fazem a análise do fenótipo do pretenso cotista. Em algumas bancas, mesmo sendo branca, a pessoa chegava a assinar a autodeclaração na frente dos examinadores.

“Sempre há negros na banca. Em alguns casos, a pessoa ficava constrangida de, sendo branca, tentar concorrer pelas cotas”, diz o promotor André Luiz Querino, que participou de bancas para ingresso no Ministério Público.

Ele próprio é negro e entrou para o MP-PR por meio de cotas, em 2014. Na ocasião, foi submetido a uma comissão que avaliou se ele atendia aos requisitos e diz que não sentiu qualquer constrangimento. “Eu acredito que a banca seja necessária para evitar um abuso de direito, para que pessoas que não são negras ou pardas concorram a vagas destinadas a estes grupos, que carregam um histórico de discriminação e de negação de direitos.”

Paulo Borges destaca que, mesmo diante de fraudes evidentes, se esforça para não causar constrangimento ao candidato branco que tenta disputar uma vaga pelas cotas raciais. Diz que, nestes casos, tenta conversar com o falso cotista, explicando porque essa política afirmativa é importante.

“A gente percebe que a sociedade brasileira tem muita resistência à inclusão da pessoa negra em qualquer espaço que seja predominantemente branco. Mas tem todo um processo histórico aí. Foram trezentos anos de escravidão, uma abolição que se deu sem que os negros não tivessem direito a nada. Os resultados disso permanecem”, apontou.

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