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A começar pelo São Bento, o Rio de Janeiro lidera o ranking nacional das escolas com base nas notas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem): nove das 20 primeiras colocadas estão no estado. Entre as 50 mais bem colocadas, 21 ficam no Rio. E das 100 melhores do Brasil, 31 são fluminenses. Já o desempenho da rede estadual contrasta com o resultado dos colégios privados: consideradas as notas das provas objetivas, 76% das escolas públicas ficaram abaixo da média nacional, segundo cálculo feito pelo Globo.

Apenas uma pública entre as 200 melhores do Rio

O número confirma a péssima situação apontada pelo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), divulgado ano passado: com nota 2,8, o estado só ficou à frente do Piauí. No Enem, a média das estaduais do Rio foi de 495,49 nas objetivas, contra 511,21 do Brasil. Em relação a edição anterior, houve uma pequena melhora, de 4,33%.

Apenas uma escola pública figura entre as 200 melhores do estado: o Colégio de Aplicação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (CAp/Uerj), no 12 lugar. A próxima escola a aparecer na lista é o Colégio Estadual Eduardo Breder, em Nova Friburgo, na 206 posição. Na outra ponta, a pior escola fluminense é o CIEP Maria Aparecida Lima Souto Tostes, em Miracema, noroeste do estado.

No ano passado, o governador Sérgio Cabral culpou seus antecessores pelo mau resultado e afirmou que foram "mais de 30 anos de destruição" da rede. Após a reeleição, Cabral disse que a educação era seu próximo desafio, depois da consolidação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP). Com a meta ousada de transformar o estado em um dos cinco melhores no Ideb até 2014, ele substituiu pela segunda vez o secretário de educação, nomeando Wilson Risolia para o lugar de Tereza Porto.

Para a professora da Faculdade de Educação da Uerj, Bertha do Valle, o fato de o governo estar no terceiro secretário em cinco anos acaba na descontinuidade das políticas públicas, o que contribui para o resultado ruim.

"Esses números são o reflexo da rede estadual: a falta de condições de trabalho dos professores e de espaços de atenção aos alunos. Há muitas escolas sem professores e outras em que o docente trabalha fora de sua área de formação. Isso sem falar nos baixos salários. As trocas de comando também prejudicam, porque a cada mudança para tudo que era feito. O que temos no Rio é política de curto prazo na educação", critica a professora.

A situação do Colégio Eduardo Breder, segunda escola estadual mais bem colocada, ilustra o contexto: localizada na zona rural e sem nenhum funcionário de apoio, a diretora Angela Ferreira fica sozinha na secretaria. Apesar da falta de professores em algumas disciplinas, a unidade melhorou seu resultado nas provas objetivas: 568,6 contra 526,8 na edição anterior. Angela atribui o fato ao envolvimento dos professores.

"Precisamos motivar os alunos para fazer a prova, porque a maioria não tem perspectiva de entrar para a universidade. Eles vão trabalhar no comércio ou na terra", conta.

Íris Rodrigues de Oliveira, professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), afirma que a solução para a melhoria dos resultados passa pelo aumento dos investimentos pedagógicos. "É preciso investir mais em material didático, escolas bem equipadas e professores sem sobrecarga de trabalho. O que acontece hoje é que o docente tem mais de uma matrícula na rede ou então trabalha em colégios privados, pois a remuneração é baixa. Ele chega em sala de aula cansado e encontra condições muito ruins de trabalho".

Secretaria evita apontar problemas da rede

Já Beatriz Lugão, coordenadora do Sindicato dos Profissionais da Educação do Estado do Rio (Sepe-RJ), diz que há muita pirotecnia do governo e falta o elementar. "Cada secretário que entra quer implantar um plano miraculoso e salvador da pátria, mas esquece do básico: boas condições de trabalho, salários e boa relação entre alunos e professores. Se você quer recuperar a educação, é preciso investir mais. O atual plano de metas (implantado por Risolia) consegue gastar menos do que o Nova Escola (plano do governo Garotinho). Eles querem fazer milagre economizando dinheiro."

Em nota, a Secretaria estadual de Educação evitou apontar razões para o mau desempenho, dizendo que "os fatores podem ser os mais variados". O órgão preferiu enumerar os projetos adotados na atual gestão, iniciada no fim do ano passado, para melhorar o rendimento dos estudantes. Mesmo com a greve dos professores, que durou mais de dois meses, o órgão não acredita que os alunos serão prejudicados

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