A notícia de que duas pessoas ficaram feridas na quinta-feira da semana passada, em Curitiba, depois que um motorista de ônibus passou sobre uma lombada em alta velocidade voltou a chamar a atenção para a segurança do transporte coletivo na cidade. Foi o terceiro acidente grave envolvendo ônibus neste ano: no dia 28 de janeiro, a auxiliar de serviços gerais Cleonice Ferreira Gouveia, 29 anos, morreu ao cair de um ligeirinho que fazia a linha Araucária. O veículo estava cheio e a porta abriu. Dois dias depois, o mesmo problema causou outro acidente: uma mulher de 65 anos ficou presa na porta de um ônibus e foi arrastada. Amélia Terezinha Belinásio sofreu ferimentos no braço.
Segundo o Batalhão de Polícia do Trânsito (BPTran) da Polícia Militar, Curitiba teve em média dois acidentes por dia envolvendo ônibus nos seis primeiros meses deste ano. Foram 383 acidentes entra janeiro e junho, média de 2,1 ocorrências por dia. O número foi maior ainda no ano passado, quando foram registrados 473 acidentes entre janeiro e junho. A média, para os 182 dias deste período no ano passado, foi de 2,5 registros por dia. Os dados dizem respeito a todos os tipos de ônibus (do transporte coletivo, escolares e de viagens), mas, segundo o setor de estatísticas do BPTran, pelo menos 80% das ocorrências dizem respeito a veículos do transporte coletivo da capital.
Sinal fechado
Na semana passada, a reportagem da Gazeta do Povo flagrou três imprudências cometidas por motoristas de ônibus biarticulados em Curitiba. Os motoristas desrespeitaram o sinal vermelho nas esquinas da Avenida Sete de Setembro com a Rua Brigadeiro Franco; da Avenida Affonso Camargo com a Rua Zélia Moura dos Santos, perto da Rodoferroviária; e da Avenida Paraná com a Rua Vereador Antônio Reis Cavalheiro, no bairro Boa Vista. A Urbs, empresa da prefeitura de Curitiba que gerencia o trânsito na cidade, não se pronunciou sobre o assunto e informou apenas que os ônibus são multados quando cometem infrações, como outros veículos.
O advogado, consultor de trânsito e professor de Direito de Trânsito da Unicuritiba Marcelo Araújo afirma que alguns motoristas costumam vir embalados achando que o sinal vai abrir logo e acabam passando ainda no vermelho. "A direção defensiva ensina que ele deveria parar. Depois não adianta tentar saber quem foi o culpado, porque já pode ter matado alguém", afirma.
Multas são raras, dizem empresas
Marcelo Araújo lembra que o Código de Trânsito Brasileiro prevê multas para qualquer tipo de veículo que desrespeitar as normas de trânsito. "Não tem diferenciação nos tratamentos. O sinal vermelho vale para ônibus e até para bicicleta. A infração por desrespeitar é gravíssima", diz. Uma exceção é para ambulâncias e veículos da polícia com sirene e luz ligadas. "Além disso, quando estes veículos pedem passagem os outros têm de deixar. Não dar a passagem também é uma infração gravíssima", afirma o advogado.
"As empresas até se obrigam a liberar o motorista para passar pela reciclagem no Detran", diz Mário Schmidt, encarregado de tráfego da Viação Cidade Sorriso. Segundo ele, no entanto, esta é uma situação rara, já que os motoristas dependem da habilitação para trabalhar. "É difícil de acontecer, os horários são adequados à demanda. (Infrações) acontecem mais se tiver uma obra na pista, que obrigue o motorista a fazer um desvio no itinerário", justifica.
O supervisor de tráfego da Viação Nossa Senhora do Carmo, Loristan Borges, também diz que as multas são raras. "O motorista depende da carteira para sobreviver, se fizer muita multa vai ser prejudicado. Acontece de vez em quando", comenta. "São coisas corriqueiras do dia a dia, às vezes algum é pego no radar ou em uma lombada eletrônica. Mas não tem nada a ver com horário, às vezes é pressa", alega. Ricardo Langa, encarregado de tráfego da Viação Curitiba, também confirma que as multas são repassadas para as empresas.
A assessoria da Urbs informou que existe a possibilidade de radares serem instalados em semáforos ao longo das canaletas. A licitação aberta para a contratação da empresa que vai operar os radares na cidade inclui a instalação de 70 equipamentos que registram avanços de sinal e parada sobre a faixa de pedestres. A licitação também prevê que a empresa vai operar os radares e as lombadas eletrônicas. Sete empresas participam da licitação e as propostas foram entregues em 20 de julho. A Urbs não soube informar quantas multas para ônibus do transporte coletivo foram aplicadas neste ano.
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