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Nos finais de semana, ritmos como samba, maracatu e forró atraem um grande público e auxiliam na renda da sociedade | Igor Castanho
Nos finais de semana, ritmos como samba, maracatu e forró atraem um grande público e auxiliam na renda da sociedade| Foto: Igor Castanho

Fundação é anterior a 1888

O que nas famílias convencionais pode soar como algum tipo de trauma, no caso da Sociedade Operária Beneficente 13 de Maio está perto de uma solução. O advogado Thiago Hoshino, junto com mais duas pessoas, decidiu abrir o baú velho das lembranças em papéis e fotos carcomidas para organizar a história do clube. O resultado da pesquisa, em fase de desenvolvimento, já levou o grupo a descobrir, por exemplo, que a primeira sede surgiu de modo extraoficial antes mesmo do dia 13 de maio de 1888. As reuniões aconteciam na casa de João Batista Gomes de Sá, morador da antiga Rua do Mato Grosso.

Hoshino diz que o que mais surpreende nessa descoberta é que o local da sede inicial não era um lugar habitado por negros. "Aquela região era ocupada pelos barões da erva mate. Provavelmente João Sá era um senhor de posses. Onde se suspeita que havia maior quantidade de negros é o Alto São Francisco, local da sede da 13 desde, pelo menos, 1896. Perto desse espaço possivelmente moravam alguns escravos, mas é difícil encontrar fontes sobre isso porque os escravos eram proibidos de alugar casas."

A família mudou

Das primeiras gafieiras domingueiras até as batidas compassadas da zabumba nos domingos de hoje, não foi só o ritmo do palco da 13 que ficou maleável. A tolerância com os tênis e os homens sem terno e "cipó" se refletem também na ampliação de como atua a sociedade agora. Mais do que bailes, estão entre as atividades do salão aulas de capoeira, ensaios de maracatu, forró e o velho samba. Seu Álvaro já não está sozinho e parece querer deixar sua herança aos novos bambas na forma de um ensinamento, para seguir a tradição: "Como diz o outro, aqui ninguém é diferente. Entrou no tacho é tudo igual."

Antonio Carlos Senkovski

  • Nos finais de semana, ritmos como samba, maracatu e forró atraem um grande público e auxiliam na renda da sociedade
  • Para que seus mortos não fossem enterrados como indigentes, a Sociedade 13 de Maio comprou um espaço no Cemitério Municipal de Curitiba
  • Atualmente, o jazigo possui oito gavetas, mas não se sabe ao certo quantas pessoas estão enterradas ali

As saias longas de algodão que sacodem aos domingos na Sociedade Operária Beneficente 13 de Maio lembram um tempo em que os anarquistas usavam terno e gravata. De 6 de junho de 1888 até aqui, o estilo das saias mudou – hoje já se admite a convivência entre as brancas longas e as curtas com estampas de oncinha –, mas o gingado continua parecido.

Esses 123 anos, que separam a primeira batucada dos bambas de Curitiba e os bailes de hoje, misturam no mesmo enredo várias histórias. São faíscas rebatidas em um tema que até agora sofre certo grau de miopia. O resgate da história da 13 de Maio, assim como da participação do negro na história do Paraná, ainda está em fase de construção.

O palco da Sociedade Operária Beneficente, fundada por negros libertos no final do século 19, parece cumprir hoje o papel de dar uma parcela de luz a esse capítulo ainda obscuro da história de Curitiba. Fisicamente são 43 lâmpadas no salão. Juntas, com a mistura das cores, elas dão conta de mostrar antes de tudo o motivo de cada pessoa estar ali.

Sobre anéis e bolos

Em um domingo, no canto escuro à direita, Reginaldo da Silva Martins compartilhou seu prestígio com convidados da família 13 de Maio. Não eram primos e nem sobrinhas de sangue. O bolo que marca a colocação da 35º vela na contagem dos anos foi destinado aos seus irmãos de dança. "Acabei criando um vínculo com várias pessoas aqui, aí comecei a fazer aula de dança também. Conheço quase todo mundo que vem no domingo."

Reginaldo parece ter saído naquele dia com a mesma peça de roupa "pintada" por Assis Valente na canção "Camisa Listrada", imortalizada na voz de Carmem Miranda na década de 1930. Assim como o personagem da canção, o dançarino também tenta disfarçar algo. Depois que ele baixa a cabeça e cochicha no ouvido da moça, forrozeira, o sorriso que ela lhe oferece em troca fornece pistas para os que fazem apostas. Talvez em breve haja mais do que só bolo de aniversário para as famílias de Reginaldo.

Leandro e Larissa Ribas, por exemplo, trocaram anéis para formar uma nova família depois de três anos e vários forrós na 13. Namoraram, noivaram e distribuíram bolo de casamento aos amigos. Os dois têm na lista também outro tipo de festa. Já fizeram um chá de bebê – a filha do casal nasceu há um ano.

Retrato da família 13

A luz da sociedade de maio projeta ainda a ideia de que a formação de uma grande família está presente desde o começo. O atual presidente, Álvaro da Silva, conheceu o lugar por meio do pai, Euclides da Silva, que fez parte da sociedade durante 40 anos, até 1995, quando faleceu. Era administrador de bailes e barbeiro na Saldanha Marinho, mas não quis deixar a navalha como herança ao filho; preferiu fazer seu testamento em forma de um ensinamento. "Meu pai", conta Álvaro, "dizia que se existe uma coisa que tinha de cuidar era da 13 de Maio, porque é uma casa construída por negros."

Álvaro tem uma filha de sangue e um sem número de filhos com os quais já deixou a missão de contar e seguir a história da sociedade. "O clube surgiu para amparar com moradia, saúde e trabalho os negros libertos. Também eram feitas gafieiras para arrecadar dinheiro com o intuito de ajudar as pessoas que estavam próximas ao clube e precisavam de auxílio", conta Filipe Castro, há dois anos colaborando no cuidado da 13 junto com Seu Álvaro.

A 13 se organizou ainda para que seus mortos não fossem enterrados como indigentes. Comprou um espaço no Cemitério Municipal para o qual foram levados cadáveres depois de terem sido "bebidos", como eram chamados os velórios nos primeiros anos do século 20. Hoje, para encontrar o espaço da sociedade no cemitério, basta andar 308 passos pela porta principal à frente e outros 40 à direita. O jazigo já foi maior, tem agora oito gavetas. Não se sabe ao certo quantas pessoas estão enterradas ali e não há indicação de nomes. São apenas dois números gravados em plaquinhas de metal.

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