Entrar em uma empresa em função técnica pode ser um primeiro passo para se destacar. Mas continuar os estudos é fundamental para crescer na carreira. | Bigstock
Entrar em uma empresa em função técnica pode ser um primeiro passo para se destacar. Mas continuar os estudos é fundamental para crescer na carreira.| Foto: Bigstock

Se o diploma universitário sempre foi visto como a melhor forma de entrar no mercado de trabalho pela “porta da frente”, hoje existem outras formas de conquistar uma boa colocação sem precisar esperar os quatro ou cinco anos de formação universitária tradicional. Essa “pressa” em ter profissionais prontos cada vez mais cedo para o mundo corporativo não é apenas do estudante que quer conquistar um bom emprego e ter uma renda melhor, é também do próprio mercado que, carente de mão-de-obra especializada, muitas vezes improvisa para ocupar funções estratégicas com pessoas não qualificadas para elas.

O diretor da Hays Response e Experts, empresa especializada em recrutamento, Raphael Falcão, acredita que existe uma lacuna grande de pessoas especializadas em funções técnicas, mas que podem crescer e se desenvolver dentro de uma empresa enquanto continuam sua formação acadêmica.

“Quando um técnico dentro de uma empresa faz um bom serviço, ele tem tudo para se desenvolver e continuar crescendo. Ele não precisa ser técnico para sempre, mas ele usa esse primeiro step para se destacar”. 

Mas investir em uma formação técnica para só depois buscar o ensino superior não poderia atrasar um projeto profissional? Atualmente existe a possibilidade de realizar as duas coisas ao mesmo tempo. Por exemplo, quem deseja um título de administrador pode antecipar à chegada ao mundo corporativo com um título de analista financeiro sem que, para isso, precise interromper os estudos no ensino superior para conseguir o certificado. Essa possibilidade existe com a Certificação Intermediária, um mecanismo previsto pelo Conselho Nacional de Educação, mas oferecido por poucas instituições de ensino superior no Brasil. 

A professora Kelly Cristina Vieira, do Centro Universitário Dom Bosco (UniDBSCO), explica que, no processo para conseguir a certificação, o aluno consegue perceber a interligação entre todos aqueles conteúdos que dão sustentação para a sua formação como um todo. Na opinião dela, o profissional que chega ao mercado com o conhecimento das disciplinas de forma associada pode ser melhor aproveitado pela empresa. 

“Na Administração, por exemplo, ao terminar as disciplinas do núcleo financeiro, o aluno consegue enxergar todo o processo do departamento de finanças de uma empresa. Então, qual é o próximo departamento em que um administrador pode atuar? Aí vem RH, produção, contabilidade... Então, a cada núcleo concluído, ele compreende melhor a estrutura organizacional. Por meio da espiral do conhecimento, é possível engajar melhor o aluno e ele perceber que aqueles conteúdos têm a ver com a atuação dentro da empresa e não são fragmentados, como a maior parte das instituições trabalha”. 

Na matriz curricular por núcleos, o aluno consegue perceber a interligação entre de todos os conteúdos que dão sustentação para a sua formação como um todo.Divulgação UniDomBosco

Kelly participou da reestruturação da matriz curricular da UniDBSCO que, este ano, recebeu o título de Centro Universitário (com certificação nota máxima, 5, pelo MEC). Ela explica que, para possibilitar a emissão das certificações intermediárias, que dão títulos profissionais previstos na Classificação Brasileira de Ocupações, as disciplinas foram organizadas em núcleos de atuação profissional. 

“Nós construímos as matrizes de todos os cursos de gestão baseadas em núcleos. A partir do momento em que a gente consegue concentrar as disciplinas que são a base para atuação profissional, levando em consideração carga horária e conteúdos de sustentação para a prática, aquele profissional já estará apto a desenvolver uma atividade dentro da área dele. Então disponibilizamos a certificação intermediária”. 

Limite? 

Especialista em recrutamentos, Falcão acredita que entrar no mercado de trabalho com um título anterior ao universitário não significa limitar a pessoa àquela posição ou mesmo desestimulá-la a continuar sua formação. “Quando a pessoa percebe que, graças àquela formação, ele recebe reconhecimento, serve como um grande motivacional, um combustível para ele dar o próximo passo. Vai além do incentivo financeiro. Se está em uma empresa que reconhece o profissional que se aprimora, incentiva a galgar o próximo passo, ele já sabe melhor o que precisa e isso vai se retroalimentando”. 

O profissional que chega ao mercado com o conhecimento técnico, mas também com uma compreensão mais ampla sobre o setor em que pretende atuar, está em vantagem.

“Eu trabalho em indústria. É muito clara a falta de maturidade profissional da maioria, e isso se dá por eles não entenderem a associação e a interdependência dos conteúdos trabalhados nas disciplinas visto que são tratadas de forma isolada. A empresa tem que se desdobrar para fazer uma inserção do profissional dentro de um departamento. Por ele não ter tido essa junção, esse processo da hierarquização do conhecimento, fica tudo solto e ele não consegue compreender. Trabalhar com núcleos de conhecimento ajuda muito a atuação do profissional e também facilita a socialização dele e m sua nova atividade, sua nova área”, avalia a professora Kelly. 

Possibilidades 

O UniDomBosco atualmente oferece a possibilidade de obter certificações intermediárias nos cursos de Administração, Ciências Contábeis, Marketing, Gestão de RH, Gestão de TI e Gestão Financeira. O aluno recebe a certificação automaticamente ao concluir as disciplinas do núcleo que possibilita aquela formação específica. Ele precisa ter a frequência mínima de 75% e nota superior a 7 em todas as disciplinas. A certificação intermediária tem valor legal e pode ser utilizada em concursos públicos – para critério de desempate quando existe prova de títulos – ou para obter progressões de carreira no funcionalismo público.