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Uma realidade europeia contrasta com o futebol da bagunçada América do Sul. Não dá mais para evitar as comparações e a fase de alerta já passou. Nada vai impedir que o futebol continue em franca evolução tática e exija dos praticantes múltipla participação nas ações de defesa, de armação e de ataque.

O futebol total, sonhado pelos pioneiros holandeses da Laranja Mecânica nos anos 1970, transformou-se em verdade universal até hoje. Bem ou mal, com vagar ou com pressa, todos os times caminharam nesse sentido. O Barcelona, no tempo de Guardiola, foi o time que mais se aproximou da fantasia holandesa criada por Rinus Michells.

No ápice do Barcelona ele arrancou suspiros dos puristas do futebol e mesmo sem o brilho do estilo tiki-taka do seu passado recente, a polivalência de um Messi acaba valendo mais do que a presença de um avante como Suárez na área. Os números finais e o sentido coletivo de jogo comprovam isso. A evolução do futebol vai tirando dos campos os especialistas e valorizando os polivalentes. É preciso ser um gênio em sua especialidade – como foram Romário e Ronaldo Fenômeno, por exemplo – para ganhar dispensa, no futebol de agora, da obrigação de desempenhar múltiplas funções.

Muito dificilmente um grande time pode jogar em função de um ou de dois jogadores na atualidade.

Pelo contrário, os talentos individuais precisam se encaixar no jogo coletivo. A polivalência dos jogadores é uma exigência da imprescindível variação de jogadas no futebol moderno. Os times e jogadores monocórdios estão condenados ao fracasso.

A facilidade para o drible de um craque como Neymar o acaba prejudicando mais do que ajudando em determinadas circunstâncias da partida. O jogador mais talentoso e as equipes mais técnicas terão dificuldades muitas vezes para ultrapassar marcadores e adversários apenas medianos se insistirem em abusar apenas de suas melhores características naturais.

É indispensável o cultivo da multiplicidade de recursos e de funções para que craques e times transformem em rendimento o que originalmente era apenas dom. Acabou-se o futebol improvisado.

A desorganização fora e o improviso dentro de campo foram marcas do futebol brasileiro através dos tempos. A coleção de vitórias internacionais e de títulos com a profusão de craques encobriu a estagnação tática e a defasagem administrativa de clubes e entidades, como a CBF e as anacrônicas federações estaduais.

O improviso não é mais o tom do melhor futebol sul-americano, mas ainda é o que o diferencia do melhor futebol europeu. É preciso encontrar uma forma de unir a organização tática com a polivalência sem perder a capacidade de improvisar dentro do jogo. Nem tudo está perdido.

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