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Imagens do treino do Teresópolis FC: clube joga a Série C do Carioca e sonha com a Segundona no ano do centenário | Hugo Harada, enviado especial/Gazeta do Povo
Imagens do treino do Teresópolis FC: clube joga a Série C do Carioca e sonha com a Segundona no ano do centenário| Foto: Hugo Harada, enviado especial/Gazeta do Povo
  • Imagens do treino do Teresópolis FC: clube joga a Série C do Carioca e sonha com a Segundona no ano do centenário
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Ronaldinho Gaúcho, Neymar e Alexís dividem o mesmo campo em Teresópolis. O gramado é ralo, barrento, tem montinhos de capim e linhas mal pintadas. O alambrado enferrujado segura as bolas gastas lançadas por chuteiras surradas, mas multicoloridas como dita o mercado, e separa o campo da pequena arquibancada de seis degraus de concreto. O fim do treino, já com o dia escuro, desencadeia uma caminhada preguiçosa até o vestiário e, dali, para o alojamento, ambos acomodados em um prédio de dois andares. Vidros faltando, um forte odor de urina vindo do banheiro e meias penduradas na janela compõem o cenário em que até dez atletas dividem o mesmo quarto.

Veja fotos do treino em Teresópolis

O Estádio Antônio Sava­­tonne, do Teresópolis Futebol Clube, está fisicamente a dois quilômetros da Granja Comary, percorridos por uma só rua de paralelepípedo. Na prática são dois mundos totalmente distintos, cruzados apenas pelo futebol e pela geografia. Coincidência que traz a esperança de reduzir em breve essa distância.

Hoje, às 15 horas, o Tere­­sópolis recebe o Esprof, de Cabo Frio, pela Série C do Estadual do Rio. Mais do que a primeira vitória do clube que ano que vem completa 100 anos e jamais foi campeão, os jogadores esperam chamar a atenção de alguém do mundo da bola que vão ao estádio na tarde de folga da seleção.

"É o jogo da nossa vida. Poderia estar em um time maior, mas vim para o Teresópolis porque a seleção estaria aqui e teria a oportunidade de mostrar meu futebol", diz o meia Lennon, 23 anos, mineiro de Ipatinga.

Dentuço e com uma touca na cabeça, ele é chamado por todos de Ronaldinho Gaúcho. Diz bater falta como o sósia famoso e garante ter mais potencial para fazer sucesso com as mulheres. "Se ele fosse depender da cara para pegar mulher, não ia dar muito certo. Eu nunca tive dificuldade. E se tivesse o dinheiro dele, pegaria muito mais", brinca.

Neyvson, de 18 anos, ouve e ri. O cabelo moicano e a combinação entre ousadia e alegria dentro de campo fazem com que o apelido seja inevitável: Neymar. No início da semana, ele foi até a Granja Comary ver o ídolo de perto. Parou no portão. Agora, espera que a direção do clube consiga arrumar um jogo-treino com a seleção.

"É uma vitrine. Ninguém tem olhos para o nosso clube e a seleção estar aqui é uma oportunidade de ouro", diz ele, baiano de Salvador que guarda com orgulho a lembrança de uma pelada de fim de ano com Dante. Detalhe: no time dos amigos do zagueiro da seleção. "Mas ele nem lembra de mim", conforma-se.

A defesa brasileira também traz a inspiração para Ale­­xís Mental. Xará do atacante chileno Alexís Sanchez, companheiro de Neymar no Barcelona, o mexicano de 18 anos é fã de Marcelo, lateral-esquerdo como ele. Há pouco mais de um mês o jovem deixou o pai professor, a mãe dona de casa e os dois irmãos em Acapulco.

Não desgruda do telefone celular, com o qual tira foto de tudo e de todos para registrar a passagem pelo Brasil. Mora no clube como os demais e a família lhe envia o equivalente a R$ 200 por mês.

"No México não tive muitas oportunidades. Se você quer ser alguém no futebol, é preciso arriscar para levar o sonho adiante. Não poderia haver lugar melhor para isso do que o Brasil", diz, com um português recém-aprendido e uma articulação de fazer inveja a Neymar.

Há um ano no Teresópolis, ele passou o segundo semestre de 2013 rodando o país. Montou um elenco jovem, que custa ao clube cerca de R$ 25 mil por mês, entre salários, estrutura e viagens, sempre de ônibus e no dia da partida. Pouco diante dos R$ 15 milhões que a CBF gastou na reforma da Granja Comary.

O jogo contra o Esprof foi garantido no meio da semana, graças a um dos patrocinadores. O Açougue do Barriga desembolsou os R$ 5,5 mil necessários para pagar a taxa de arbitragem e a ambulância do jogo da vida do Teresópolis.

"Largamos tudo para estar aqui. Família, amigos, namorada. A saudade é o mais difícil de suportar, mas essa é a nossa chance", diz Neyvson, ávido por deixar de ser mais um aspirante a Neymar.

Imagens do treino

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