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Por causa das recentes denúncias, Nuzman tem evitado o contato com a imprensa | Bruno Domingues/ Reuters
Por causa das recentes denúncias, Nuzman tem evitado o contato com a imprensa| Foto: Bruno Domingues/ Reuters

Linha do tempo

A carreira do dirigente Carlos Arthur Nuzman:

1990 - Carlos Arthur Nuzman elege-se vice-presidente do COB.

1995 - Vira presidente da entidade.

2000 - O Brasil tem, nos Jogos de Syd­­ney, um desempenho pífio, sem medalhas de ouro.

2001 - Para reverter o fracasso do ano anterior, o COB auxilia na criação da Lei Agnelo/Piva.

2004 - Em Atenas, o Brasil tem seu melhor desempenho no quadro de medalhas, com a 16ª posição.

2007 - O Rio sedia o Pan-Americano.

2008 - Relatório do Tribunal de Contas da União aponta superfaturamento no Pan. A eleição do COB é feita às escondidas.

2009 - O Rio é eleito sede dos Jogos Olímpicos de 2016. Nuzman se autoindica para a presidência do Comitê Organizador.

2011 - Depois de retirar o patrocínio ao COB, a Petrobras opta por investir diretamente em cinco confederações.

2012 - Comitê Rio 2016 furta dados de segurança do Comitê Organizador dos Jogos de Londres (Locog).

A dois dias das eleições mu­­nicipais, o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Carlos Arthur Nuzman, conseguirá hoje um feito digno de causar inveja a qualquer candidato a um posto público. Será aclamado para mais quatro anos de mandato à frente da principal entidade esportiva do país, podendo chegar a 21 anos consecutivos no posto.

A eleição, às 11h30, no Rio de Janeiro, porém, será a mais contraditória que o dirigente já enfrentou. Ao mesmo tempo em que vai para o pleito certo da vitória – tem apoio de 32 dos 33 votantes, além de seu próprio voto –, nunca teve a gestão tão questionada pela opinião pública. Imerso em uma maré de denúncias e escândalos, tem de administrar também o fraco desempenho da delegação brasileira nos Jogos de Londres. 17 medalhas, resultado de um investimento de R$ 558 milhões oriundos da Lei Agnelo/Piva). Ou seja, vê crescer o número de opositores.

Absoluto no COB desde 1995, em reeleições que já se perderam no tempo – as contas estimam que vai para o quinto mandato, mas nem mesmo a assessoria de imprensa do órgão soube confirmar quantos pleitos foram realizados nos últimos 17 anos –, Nuzman também acumula a presidência do Comitê Rio-2016, responsável pela organi­zação dos Jogos Olímpicos no Brasil.

"Logo que o Rio venceu os Jogos, fui ao COI [Comitê Olímpico Internacional] e perguntei se tinha alguma dúvi­da em eu presidir as duas organizações. O presidente [Jacques Rogge] disse que não tinha problema. Por isso, me sinto confortável", relatou.

Mas são poucos os que concordam com Nuzman. Ontem, senadores se manifestaram, pedindo investigação nas entidades por ele comandadas. Entre eles, Alvaro Dias (PSDB-PR) e Eduardo Suplicy (PT-SP) – o petista é autor de um dos projetos de lei que tenta limitar a autonomia de entidades esportivas, permitindo intervenção estatal.

As declarações vieram no embalo das denúncias do deputado federal Romário (PSB-RJ), que pede investigações sobre a relação de Nuzman com o membro da diretoria executiva do COI, Patrick Hickey, acusado de omitir casos de suborno para a escolha da cidade-sede dos Jogos de Inverno de 1991, em Salt Lake City. "É fundamental estarmos atentos para saber se o presidente do COB está realmente comprometido com os interesses do Brasil ou se atende, em primeiro lugar, ao COI", divulgou o ex-jogador em seu blog.

Atletas também se manifestam quanto à falta de alternância nas entidades esportivas. O movimento Atletas pela Cidadania, capitaneado pelo velejador Lars Grael, divulgou nota em repúdio ao recuo do Ministério do Esporte na criação de tais dispositivos. "Seria a hora de fincarmos a bandeira por um modelo de gestão esportiva mais democrática, plural e transparente. Os bons presidentes de confederações, se forem bons, serão capazes de eleger um sucessor", afirma.

Outro desafeto é o presi­dente da Confederação Bra­­sileira de Desportos no Gelo (CBDG), Eric Maleson, que, na quarta-feira, divulgou à ESPN Brasil imagens de membros do COB invadindo a sede da CBDG. Maleson acusa Nuzman de intimidar outros presidentes das entidades filiadas ao COB que pensavam na criação de uma chapa opositora. O voto da CBDG é o único que Nuzman não terá hoje.

O fato que mais gerou alarde foi a revelação do Comitê Or­­ganizador dos Jogos de Lon­dres (Locog) de que membros do Rio-2016 furtaram documentos de segurança durante a Olimpíada. A princípio, o Rio-2016 afirmou ter demitido dez envolvidos; depois, recuou e confirmou apenas uma dispensa. O jornalista Juca Kfouri, porém, confirmou ontem em seu blog o nome de oito demitidos.

Dirigente faz uso do ‘boca de urna’ para confirmar reeleição

Apesar de a votação ser secreta, Carlos Arthur Nuzman já sabe que terá mais quatro anos de mandato. "Tenho o apoio de 29 das 30 confederações", declarou. Além do voto das entidades, três membros natos do comitê participam da eleição: o próprio Nuzman, seu candidato à vice, André Gustavo Richer, e o ex-presidente da Fi­­fa, João Havelange, que manifestou seu apoio.

Para se certificar do núme­ro de votos, Nuzman entrou em contato com cada um dos presidentes de confederações. "O senhor Nuzman me telefonou, perguntando se eu o apoiaria e respondi que eu não estaria fora disso", conta o presidente da Confederação Brasileira de Ciclismo (CBC, com sede em Londrina), Jo­­sé Carlos Vasconcellos. "Con­­firmo meu voto. Vejo mais pelo o que ele fez em favor do es­­porte do que pelo tempo no poder", emenda.

No início do ano, o presi­­dente da Confederação Bra­­si­­leira de Tênis de Mesa (CBTM), Alaor Azevedo, ensaiou um enfrentamento à atual gestão, quando tentou concorrer no pleito de hoje. Mas, sem apoio de outras nove confederações, como exige o estatuto da enti­­dade, recuou.

Além de 17 anos na presidência do COB, Nuzman foi, de 1990 a 1994, vice-presidente no mandato de Richer.

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