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Rubens Bohlen disse não saber até quando suportará a pressão pela sua saída, mas reforça intenção de levar o mandato até o fim. | Jonathan Campos/ Gazeta do Povo
Rubens Bohlen disse não saber até quando suportará a pressão pela sua saída, mas reforça intenção de levar o mandato até o fim.| Foto: Jonathan Campos/ Gazeta do Povo

Ao ver a reportagem da Gazeta do Povo sentada no sofá amarelo sem encosto ao lado da parede, o funcionário do Paraná diz – mais sério do que brincando: “Você está bem no meio da faixa de Gaza.” A definição é precisa do momento político tricolor. Atrás da parede fica a sala do vice-presidente Luiz Carlos Casagrande, o Casinha. No outro lado da recepção enfeitada por quadros dos times paranistas campeões fica a sala do atual presidente, Rubens Bohlen. Os dois mais altos dirigentes do clube vivem uma guerra pelo poder, que envolve quase todos os nomes que ocuparam algum cargo relevante no clube na última década.

Sentado em sua mesa, com o superintendente de futebol Marcelo Nardi ao lado, Bohlen abre um diário onde registra todas as reuniões e discussões importantes do clube. Vai até o dia 19 de fevereiro, onde estão detalhes daquilo que, sem cerimônia, ele classifica como uma tentativa de golpe.

Nesta data, foram até ele o empresário Carlos Werner, então investidor das categorias de base, e João Quitéria, presidente da torcida organizada Fúria Independente. Eles falavam em nome de um grupo de paranistas que estaria interessado em por R$ 4 milhões no clube. Investimento, àquela altura, que não afetava a presença de Bohlen no comando do clube. O dirigente ouviu e marcou um novo encontro para seis dias depois.

Quando Werner e Quitéria voltaram, expuseram alguns dos nomes que formavam o grupo. Sem serem provocados, diz Bohlen, citaram o ex-presidente Aquilino Romani, os ex-dirigentes Waldomiro Gayer Neto e Durval de Lara Ribeiro, o ex-diretor da Base Renê Bernardi e o vereador Thiago Gevert. Havia ainda mais três nomes que não foram mencionados. Cada um entraria com R$ 400 mil, fechando os R$ 4 milhões. A exceção seria Quitéria, que subdividiria sua parte em cotas de R$ 20 mil. Havia, porém, uma condição nova: Bohlen sairia da presidência, que seria assumida por Casinha no dia 2 de março.

“Queriam comprar minha cadeira por R$ 4 milhões”, disparou o presidente. “Queriam que eu assumisse toda a culpa pela situação do clube”, prossegue, antes de reproduzir o que teria sido dito a ele sobre o organograma de poder proposto. “Eles comandariam o futebol e o Casinha seria uma rainha da Inglaterra”.

Bohlen recusou a proposta. Pediu, primeiro, o detalhamento do investimento a ser feito. Não apenas para ele, mas diante do Conselho Deliberativo e de ex-presidentes. “Gente que ponha o dedo na ferida, questione, aponte problemas”, justifica. Ainda assim, disse que só renunciaria se Casinha e o outro vice-presidente, Aldo Coser, fossem com ele. “Falei que comigo não tem comissão, não tem essa de 10%”, acrescentou.

O presidente garante também ter dito não a outro pedido do grupo: a retirada de processos do clube contra os ex-presidentes José Carlos de Miranda e Aurival Corrêa – este segundo, referente ao caso Thiago Neves, maior dívida do clube, na casa de R$ 30 milhões. “Não cancelei nenhum processo. O do Aurival nós vamos suspender, mas por causa de um fato novo que surgiu”, disse, sem detalhar qual seria este fato.

A manifestação de Bohlen foi uma reação ao crescimento dos rumores sobre sua renúncia, na segunda-feira (2). Procurados pela Gazeta do Povo, vários dirigentes e ex-dirigentes negaram saber da movimentação. Entre eles Vavá, envolvido no grupo de Werner. Também os atuais presidentes do Conselho Deliberativo, Rodrigo Vissoto, e Consultivo, Benedito Barboza, a quem Bohlen diz ter alertado já no dia 25 de fevereiro sobre a movimentação em prol de Casinha.

Bohlen tem consciência de que a pressão pela sua saída só aumentará. Diz que a própria saída de Werner e Leonardo Oliveira das categorias de base, na segunda-feira (2), é o primeiro indicativo disso. Werner havia transformado o Ninho da Gralha em uma ilha de tranquilidade em meio à dificuldade financeira geral do clube. Agora, o presidente sabe, será difícil evitar que a sede da base volte a sofrer com a falta de dinheiro. O que, fatalmente, virará munição contra a sua administração. Uma gestão que termina em dezembro, terá um sucessor definido já em setembro, mas que o próprio Bohlen admite não saber se suportará levar até o fim.

“Não sei até quando vou aguentar. Só me pergunto por que essas pessoas não pensam na instituição. Serei mais um presidente a, quando acabar a gestão, tomar um chá de sumiço e esquecer o Paraná”, afirma.

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