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Morador Carlos Roberto da Silva em frente ao Autódromo de Curitiba: “barulho infernal” | Albari Rosa/Gazeta do Povo
Morador Carlos Roberto da Silva em frente ao Autódromo de Curitiba: “barulho infernal”| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

Vizinho de muro do Autódromo Internacional de Curitiba (AIC), no bairro Weissópolis, em Pinhais, na região metropolitana, o Condomínio Residencial Senna homenageia o principal ícone do automobilismo brasileiro, o tricampeão mundial de Fórmula 1 Ayrton Senna. Ironicamente, essa é a única menção positiva que os moradores do local fazem às corridas.

Apesar da vista ‘de camarote’, a reclamação pelo barulho ensurdecedor é geral. Por isso, eles estão na expectativa para o fechamento do circuito em 2016.

“Não consigo ver televisão na minha casa”, relata o inspetor de qualidade Belmano Alves da Nóbrega, síndico do edifício. “Eu até gosto de automobilismo, mas garanto que todos aqui estão torcendo para a venda do autódromo. O ruído é muito alto”, prossegue enquanto sua fala era abafada por um kart que acelerava no kartódromo anexo ao AIC.

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Construído em 2014, o Residencial Senna não é exceção. Do outro lado do rio Atuba, que marca a divisa com Curitiba, a Vila Autódromo também está repleta de vozes que torcem pelo fim do autódromo.

“É um barulho infernal. Minha casa fica a 600 metros da pista e já é insuportável”, conta o corretor de imóveis Carlos Roberto da Silva, que lista o Arrancadão e a Stock Car como os campeões de poluição sonora.

“Tem muito morador que prefere sair de casa quando tem corrida e só volta no fim do dia”, garante Carlos de França, responsável pela ONG Associação Moradias Serra do Mar, que trabalha pela regularização fundiária de áreas vizinhas ao autódromo.

Morador do bairro há 30 anos, França afirma que já fez várias reclamações no Instituto Ambiental do Paraná (IAP), mas que nada foi feito para amenizar o incômodo. A reportagem entrou em contato com o IAP, que afirmou que a Secretaria de Meio Ambiente de Pinhais é responsável pela fiscalização. O órgão da prefeitura do município, por sua vez, disse que não há reclamações recentes. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o nível de ruído recomendável para a audição é de até 50 decibéis – o motor de um carro de Stock Car pode ultrapassar 100 decibéis a cerca de 50 metros da pista.

Belmano Alves da Nóbrega é síndico de prédio vizinho ao Autódromo.Albari Rosa/Gazeta do Povo

O discurso contra o AIC também é alimentado pela Associação de Moradores da Vila Autódromo. O comerciante Neemias Portela, que preside o grupo de aproximadamente mil famílias, até reconhece que muitas pessoas se beneficiam com o comércio ambulante nos fins de semana de corrida, mas acredita que a insatisfação com o incessante ronco dos motores é unânime.

“O movimento aumenta muito na região e tem gente que ganha um extra cuidando de carros, vendendo água, recolhendo latinhas. Mas para quem fica, chega a tremer a casa. Principalmente com aqueles dragsters que têm motor de avião”, reclama Portela.

Quem vai sentir falta

Se para os vizinhos do Autódromo Internacional de Curitiba o som dos motores é insuportável, há quem o tenha como música. O engenheiro mecânico Cláudio Luiz Mader, 65 anos, é um desses amantes de automobilismo que corre com seu carro, um protótipo AC fabricado em 1968, uma vez por mês no local. Seu hobby é participar do Track Day, evento no qual o público pode conduzir automóveis de passeio na pista.

Para Mader, o fechamento do AIC para grandes corridas é uma derrota, mas não só do esporte. “É uma perda grande para o Paraná. Tem autódromo em Cascavel e em Londrina, mas são longes. Muitas competições seriam perdidas. Também tem o impacto financeiro, porque as provas sempre trazem movimento para a região”, opina.

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O presidente do Sindicato Empresarial de Hospedagem e Alimentação do Paraná (SEHA), João Jacob Mehl, afirma que é difícil mensurar a importância do AIC, mas acredita que o fechamento deve refletir na diminuição de aproximadamente 20% da frequência de hotéis e restaurantes de Curitiba e Pinhais nos fins de semana de corrida. “Mais uma vez vamos perder [esse movimento] para outra cidade, outro estado. Para o turismo é terrível”, diz.

Em nota, a prefeitura de Pinhais também lamenta o fim das atividades esportivas no circuito, previsto para junho de 2016. “Destacamos que embora o AIC traga ainda mais retorno do ponto de vista turístico à capital paranaense, o município de Pinhais também aproveita a movimentação neste que é o segundo maior autódromo do país para fomentar o turismo”.

Em 2015, inclusive, foi inaugurado perto do autódromo um centro de empreendedorismo e artesanato para venda de produtos aos ‘turistas motores’.

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