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O Papa Francisco usou um fórum mundial dedicado a promover ideias de vanguarda para espalhar sua própria mensagem revolucionária na terça-feira: a inclusão.

“Quando há um ‘nós’, começa uma revolução”, disse, na noite de terça-feira (25), o líder religioso, para uma sala cheia de cientistas, acadêmicos, inovadores tecnológicos e investidores, em uma mensagem surpresa gravada para a conferência internacional do TED.

Alinhado com a intenção da conferência de compartilhar estratégias para fazer do mundo um lugar melhor, a contribuição do Papa foi feita para pedir que as pessoas reunidas na sala usassem sua influência e poder para cuidar dos outros.

Como seria maravilhoso se o crescimento da ciência e da inovação tecnológica viessem com mais igualdade e inclusão social

Papa Francisco

“Como seria maravilhoso se o crescimento da ciência e da inovação tecnológica viessem com mais igualdade e inclusão social”, afirmou o Papa enquanto era aplaudido. “Como seria maravilhoso se enquanto nós descobrimos planetas distantes, a gente redescobrisse as necessidades de irmãos e irmãs que estão orbitando ao nosso redor”.

Quando o Papa Francisco apareceu na tela, o salão começou imediatamente a aplaudir e uma mulher exclamou “Não acredito!”. Ainda que ele não estivesse de pé no palco com a assinatura do TED, uma espécie de estátua com letras vermelhas, mas sentando em sua escrivaninha no Vaticano, seu discurso tinha todas as características de uma fala do TED. Ele começou com uma narrativa pessoal e aos poucos começou a falar sobre as grandes ideias de esperança, inclusão e começar uma “revolução de ternura”.

Seria maravilhoso se enquanto nós descobrimos planetas distantes, a gente redescobrisse as necessidades de irmãos e irmãs que estão orbitando ao nosso redor

Ele compartilhou que com frequência se pergunta “por que eles e não eu?” quando viaja pelo mundo conhecendo pessoas pobres e doentes – os “descartados” da sociedade. Essa pergunta faz com que acredite que é responsabilidade dos privilegiados cuidar dos menos privilegiados.

“Em primeiro lugar, eu gostaria que esse encontro ajudasse a nos lembrar que nós precisamos um dos outros, que nenhum de nós é uma ilha, um ‘eu’ autônomo e independente separado dos outros, e que só podemos construir o futuro juntos, incluindo todo mundo”, disse o Papa. “O caminho das pessoas é permeado de sofrimento, já que tudo está centrado em torno do dinheiro e das coisas, ao invés de pessoas. E existe esse hábito, de pessoas que se chamam de ‘respeitáveis’, de não ter cuidado com os outros, deixando para trás milhares de pessoas, ou até populações inteiras”.

De acordo com o Centro de Pesquisa Pew, mais de 70% das pessoas sem afiliação religiosa têm uma visão favorável do Papa Francisco

O Papa Francisco conquistou fãs mesmo entre os não-religiosos por falar sobre assuntos como pobreza, imigração e meio-ambiente. De acordo com o Centro de Pesquisa Pew, mais de 70% das pessoas sem afiliação religiosa têm uma visão favorável dele.

Ele também é reconhecido pelo seu uso de mídias: ele tem 10 milhões de seguidores no Twitter e grava com frequência vídeos para audiências específicas. Mas o mundo do TED, focado principalmente em ciência e tecnologia, é uma escolha interessante e mostra sua vontade de espalhar sua mensagem. Bruno Giussani, curador internacional do TED e organizador da fala do papa, disse que demorou quase um ano e várias viagens para Roma entre o convite e a fala do Papa.

Nesse mundo complicado e confuso, o Papa Francisco se tornou possivelmente a única voz moral capaz de alcançar pessoas de várias fronteiras e de dar claridade e uma mensagem de esperança

Bruno Giussani curador internacional do TED

“Nesse mundo complicado e confuso, o Papa Francisco se tornou possivelmente a única voz moral capaz de alcançar pessoas de várias fronteiras e de dar claridade e uma mensagem de esperança”, afirma Giussani.

A fala do papa no TED se assemelha com a fala de outro líder religioso feita no mesmo evento. Na noite de segunda-feira, o Rabino Jonathan Sacks sugeriu substituir a palavra “self” (auto) pela palavra “other” (outro). “Ao invés de autoajuda, outro-ajuda. Ao invés de autoestima, outro-estima”, disse ele. “Podemos encarar qualquer futuro sem medo se soubermos que não faremos isso sozinhos”.

Perto do fim de sua fala, o papa disse para os presentes, muitos deles fundadores de grandes companhias e start-ups, que “o futuro da humanidade não está exclusivamente na mão de políticos, de grandes líderes, de grandes companhias. Claro, eles têm uma responsabilidade enorme. Mas o futuro está, principalmente, na mão das pessoas que reconhecem o outro como um ‘você’ e a si mesmos como parte de um ‘nós’”.

Quanto mais poderoso você for, e quanto mais suas ações têm um impacto nas pessoas, mais responsabilidade você têm de ser humilde

Papa Francisco

O tema da inclusão aparece em um momento em que políticos de todo o mundo estão promovendo o isolamento e o medo um dos outros. Como é de seu estilo, o Papa Francisco referenciou o que está acontecendo no mundo com sutileza. “Graças a Deus nenhum sistema pode anular nosso desejo de se abrir para o bem, para a compaixão e para a nossa capacidade de reagir contra o mal, vontades que estão no fundo do nosso coração”, disse.

Ele também não foi tímido na hora de criticar “sistemas tecno-econômicos”, que “priorizam produtos, não pessoas”. “Por favor, permitam que eu diga em alto e bom som: quanto mais poderoso você for, e quanto mais suas ações têm um impacto nas pessoas, mais responsabilidade você têm de ser humilde”, disse ele sob aplausos. “Se não, seu poder vai te arruinar e você vai arruinar os outros”.

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