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Senadora Tammy Duckworth (Democratas-Illinois) durante coletiva de impresa após encontro democrata no Senado, em maio de 2016. | Zach GibsonBloomberg
Senadora Tammy Duckworth (Democratas-Illinois) durante coletiva de impresa após encontro democrata no Senado, em maio de 2016.| Foto: Zach GibsonBloomberg

A vida da senadora Tammy Duckworth (Partido Democratas) tem sido marcada por vários primeiros momentos, dos quais o mais dramático foi as 120 horas de combate em uma incursão como capitã da Guarda Nacional durante a guerra no Iraque. 

Isso ocorreu em novembro de 2004. Duckworth estava pilotando o helicóptero Black Hawk. Junto com três membros da sua equipe de voo, ela estava fazendo o trajeto entre Baghdad e as unidades militares dos Estados Unidos para levar suprimentos e fazer transporte - “serviço de táxi”, como ela descreveria depois. Foi então que, quando a aeronave estava 15 pés acima de uma área de palmeiras, perto do rio Tigris, uma granada propulsora de foguetes foi lançada do solo e acabou destruindo o Black Hawk. 

“Havíamos começado a ser atacados por pequenas armas de fogo e eu virei para o meu copiloto e disse que poderíamos ter algum problema. Assim que essas palavras saíram da minha boca, havia uma grande bola de fogo nos meus joelhos”, disse Duckworth ao jornal do exército americano Stars and Stripes em 2005. Ela tentou manter o controle da aeronave, tentando acionar as engrenagens e os pedais do Black Hawk. “Mais tarde descobri que os pedais já não estavam mais lá, e minhas pernas também não”. 

O copiloto aterrissou com segurança o Black Hawk em uma clareira. Duckworth, então com 36 anos, ficou inconsciente - quase metade do sangue de seu corpo estava saindo pelos ferimentos. Mais tarde médicos militares amputaram a perna direita logo abaixo do osso do quadril e a perna esquerda abaixo do joelho. Seu braço direito também estava gravemente machucado. 

Duckworth foi a primeira mulher que teve as duas pernas amputadas na guerra, segundo o HuffPost. 

Mas essa situação cruel não foi um impeditivo para Duckworth, já que ela trocou a carreira militar pelo serviço público estadual. Ao contrário, Duckworth alcançou um marco depois do outro. 

“Isso não mudou quem eu sou”, ela explicou ao Stars and Stripes um ano depois do atentado. “Eu não vou deixar um cara que teve sorte com um RPG decidir como vou viver minha vida”. 

Ela seria a primeira mulher amputada eleita para o Congresso; a primeira ásio-americana a representar Illinois em Washington; primeira integrante do Congresso nascida na Tailândia. E esta semana, Duckworth anunciou que ela e seu marido, Bryan Bowlsbey, estão esperando sua segunda filha em abril, o que fará dela a primeira senadora dos Estados Unidos a dar à luz durante o mandato. 

Duckworth pode ser a primeira gestante do Senado, mas ela não será a última. Atualmente, a Casa possui 22 senadoras, um recorde de participação feminina. 

Internacionalmente, as convicções a respeito de maternidade e o serviço público estão mudando. Na semana passada, a primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, anunciou que estava grávida, e garantiu que a novidade não teria impacto em suas habilidades no comando do país. 

Duckworth - que nas últimas semanas veio à público criticar a retórica do presidente Donald Trump com a Coréia do Norte - diz que a maternidade não enfraquecerá sua atuação no Capitólio. "A criação dos filhos não é apenas uma questão de mulheres, é uma questão econômica e um problema que afeta todos os pais - homens e mulheres", disse ela em comunicado. "Por mais difícil que seja equilibrar as exigências da maternidade e ser senadora, eu não estou sozinha e não sou a única mãe que trabalha". 

Origens 

O pai de Duckworth, Franklin, foi capitão do exército dos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial. Ele conheceu sua futura esposa na Tailândia. Duckworth nasceu em Bangkok em 1968. 

A família se mudou diversas vezes pela Ásia enquanto Franklin trabalhava nas Nações Unidas. Duckworth completou sua graduação em ciência política na Universidade do Havaí e se formou na Universidade George Washington. Lá ela se alistou no ROTC (Corpo de Treinamento de Oficiais da Reserva dos Estados Unidos). 

Ela assumiu como piloto de helicópteros porque este era um dos poucos trabalhos de combate abertos às mulheres. Como Duckworth explicou à revista Mother Jones em 2012, ela "queria ser - perdoe minha linguagem - um machão, assim como todos os outros". 

Enquanto se recuperava das lesões de guerra no Centro Médico do Exército Walter Reed, Duckworth recebeu o Coração Púrpuro, uma condecoração militar outorgada pelo presidente dos Estados Unidos a todos os integrantes das Forças Armadas que foram feridos ou mortos em serviço militar. 

Ela chamou a atenção do senador de seu estado natal, Dick Durbin, que convidou a veterana de guerra para o discurso anual do presidente George W. Bush em 2005. No hospital, Duckworth também fez amizade com o senador aposentado Bob Dole (Partido Republicano), que também era paciente no Walter Reed na época. Dole, um veterano da Segunda Guerra Mundial que foi gravemente ferido em combate e serviu de exemplo para o próximo passo de Duckworth: a carreira política. 

“Me senti tão inspirada pela vida do senador Dole. Ele estava sentado em uma cama de hospital ao lado de todos passando pelo tratamento, e então eu acho que para mim esse foi o momento decisivo”, Duckworrth contou à publicação Chicago Magazine em 2012. “Nele eu vi um caminho. Na época eu não conseguia usar meu braço direito para nada. Eu tinha um braço com o qual eu podia trabalhar e estou aprendendo a caminhar e tentando adivinhar o que fazer com a minha vida. 

Mais tarde, Dole dedicaria seu livro “One Soldier’s Story” (História de um Soldado, em tradução livre) a Duckworth, entre outros. 

Carreira na política 

Senadora Duckworth acena ao chegar no palco da convenção nacional dos Democratas na Filadelfia, em julho de 2016.David Paul MorrisBloomberg

Duckworth perdeu a primeira disputa por um assento na Câmara de Deputados pelo Illinois em 2006. Entretanto, com a mesma tenacidade e personalidade que a faz se recuperar das lesões de guerra, ela rapidamente se recuperou em 2012 e conquistou uma cadeira no Congresso de Illinois. O confronto colocou a democrata contra Joe Walsh, um conservador do Tea Party que havia se referido ao presidente Barack Obama como um "tirano". 

Na campanha, Walsh prestou sua admiração ao sacrifício de Duckworth, mas começou a destruir abertamente sua oponente quando a corrida eleitoral apertou. "O que mais ela fez? Mulher, veterana ferida ... Ela não passa de uma burocrata escolhida a dedo", disse Walsh. "Estou concorrendo contra uma mulher que, meu Deus, é tudo o que ela fala", comentou o candidato mais tarde. "Nossos verdadeiros heróis, é a última coisa do mundo que eles falam". 

Duckworth se ateve às questões. "Meu ponto forte é encontrar maneiras de fazer o governo trabalhar para as pessoas", disse ela à Mother Jones. "Encontrar desperdícios ou dinheiro que não está sendo usado corretamente... ou encontrar oportunidades que estão por aí e fazê-las funcionar para a comunidade". 

Aborto espontâneo e mais uma superação 

Ela venceu Walsh com 54% dos votos. Em novembro de 2014 foi reeleita e deu à luz sua primeira filha, Abigail. A concepção ocorreu por fertilização in vitro, segundo Duckworth contou ao Chicago Sun-Times. 

Eles planejaram o segundo filho, mas em 2016, Duckworth sofreu um aborto espontâneo enquanto estava fazendo campanha para uma vaga no Senado dos EUA. Ela também venceu o republicano Mark Kirk com 54% dos votos e se tornou a segunda mulher a representar o estado do Illinois no Senado. 

"Eu tive vários ciclos de tratamentos e tive um aborto ao tentar engravidar novamente, então estamos muito gratos", disse Duckworth ao Sun-Times nesta semana depois de anunciar que ela e seu marido esperam outra menina em abril, apenas algumas semanas antes de ela completar 50 anos. 

"Por mais que tenha sido difícil equilibrar a maternidade e as exigências de estar na Câmara e agora no Senado, a novidade me deixou mais empenhada em fazer esse trabalho".

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