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Dois centros dedicados à memória dos crimes de lesa-humanidade cometidos durante a ditadura militar (1976-83) foram alvo de agressões na última sexta-feira (20).

A Mansión Seré, um conhecido centro clandestino de tortura, amanheceu com a pichação: “No dia 22 se acaba o curral”.

A frase faz referência ao termo utilizado pelo candidato Mauricio Macri (Mudemos) para referir-se aos benefícios recebidos pelos grupos de defesa de direitos humanos que são alinhados ao governo de Cristina Kirchner.

O local ficou famoso após o lançamento do filme “Crônica de uma Fuga” (Adrián Caetano, 2006), que conta a história de como um grupo de prisioneiros, encabeçado por Claudio Tamburrini, conseguiu escapar dali em plena ditadura. Na época goleiro do time de futebol Almagro, Tamburrini escreveu o livro que deu origem ao filme. Depois da fuga, mudou-se para a Suécia, onde vive até hoje.

“Levamos um susto com o grafite. Não sabemos se é alguém do bairro, mas sem dúvida se trata de alguém que quer a derrota da Scioli”, disse Laura Federico, moradora de Castelar (província de Buenos Aires), onde está localizada a Mansión Seré. Curiosos compareceram para tirar fotos do local.

Pouco depois, foi a vez do centro cultural Haroldo Conti, que funciona no prédio da antiga e temida ESMA (Escola Superior de Mecânica da Marinha), principal centro clandestino de detenção do regime militar, em Buenos Aires, onde se cometeram torturas, execuções e roubos de bebês. Hoje, a ex-ESMA é um local de exposições e shows. Na sexta à noite, se apresentou aí o conjunto de Ignacio de Carlotto, neto da fundadora das Avós da Praça de Maio, e a presença da ativista, de 85 anos, estava confirmada.

O centro recebeu uma ligação anônima no começo da tarde, afirmando que havia uma bomba ali. O local ficou fechado por quatro horas, enquanto os bombeiros buscaram o explosivo, não encontrado.

“Esse foi um ataque contra a pessoa de Estela e contra o que representa esse espaço e nossa luta”, disse o diretor do espaço, Eduardo Jozami, pouco antes do início do concerto.

Carlotto foi muito aplaudida ao entrar, e condenou as agressões. “São um ataque contra as vítimas, contra a luta dos movimentos de direitos humanos e contra as políticas que vêm sendo realizadas nos últimos anos”.

Aos que a cumprimentavam ao final do show, dizia: “ainda temos um dia de esperança”, referindo-se à possibilidade de o governista Daniel Scioli virar o jogo e sair-se vencedor.

Carlotto vem acusando o candidato da oposição, favorito nas pesquisas, de não valorizar os direitos humanos e de sinalizar que pode colocar freio nos julgamentos de repressores, tidos como política de Estado desde que Néstor Kirchner assumiu, em 2003. “Macri só fala em olhar para a frente. Vai soltar os repressores”, disse Carlotto.

Macri vem afirmando que não mudará a atual política de direitos humanos, mas evita dar detalhes sobre o que vai ocorrer com processos em curso. Pessoas de seu círculo de poder, como Diego Guelar, já se pronunciaram a favor de uma anistia. Além disso, Macri tem o apoio de advogados que pertencem a uma associação que reivindica o fim dos julgamentos.

À Folha, sua equipe declarou que o Mudemos “não se responsabiliza por quem nos apoia”. Porém, uma lista de intelectuais que continha o nome de um desses advogados foi divulgada pelo próprio Macri em sua conta

de Facebook, junto a uma carta de agradecimento.

Com relação ao assunto, o governista Daniel Scioli se posiciona a favor da “continuidade” nas políticas de direitos humanos, mas o tema tampouco foi muito recorrente em sua campanha.

Várias figuras importantes do kirchnerismo se pronunciaram contra os ataques, como o secretário Daniel Filmus. Já o centro cultural Haroldo Conti divulgou uma carta condenando os atos.

Durante a ditadura, mais de 20 mil pessoas desapareceram.

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