O governo da Turquia está travando uma guerra em duas frentes: contra os militantes curdos e o Estado Islâmico (EI). Em uma terceira frente, a da política doméstica, a violência pode ajudar o presidente Recep Tayyip Erdogan e seu Partido Justiça e Desenvolvimento (AKP) a retomarem o controle do país — o AKP perdeu a maioria parlamentar no mês passado e viu a ascensão do Partido Democrático do Povo (HDP), cujos parlamentares apoiam os curdos.
O AKP perdeu a maioria pela primeira vez em 12 anos nas eleições parlamentares de 7 de junho. Desde então, negocia uma coalizão. Se as negociações fracassarem nas próximas semanas, Erdogan já disse que convocará novas eleições.
Um aumento no sentimento nacionalista, em meio à violência e à ação do governo contra seus inimigos políticos curdos, pode aumentar as chances do AKP em uma nova eleição, dizem analistas.
Uma mudança de 2 pontos percentuais em comparação com a última eleição pode restaurar a maioria do AKP, tornando desnecessárias concessões exigidas por possíveis parceiros de coalizão nas áreas de liberdade de imprensa, processos por corrupção e política externa. Isso permitiria a Erdogan avançar com planos controversos para transformar a Turquia em uma república presidencial, reforçando seu próprio poder.
“A política doméstica da Turquia e a política externa se confundiram. É difícil separar as considerações políticas domésticas com a segurança das considerações estratégicas daqueles que iniciaram os ataques aéreos”, afirma Soli Ozel, comentarista político turco e professor da Universidade Kadir Has, em Istambul.
As acusações de que Erdogan lançou uma guerra com fins políticos “não são sérias”, rebate o congressista do AKP Osman Can. Segundo ele, o governo negocia com o segundo maior grupo político do país, o Partido do Povo Republicano.
A trajetória da Turquia para a crise começou com um ataque em 20 de julho, realizado pelo EI, que matou 32 pessoas em Suruc, na fronteira com a Síria. Os voluntários planejavam viajar até a cidade síria de Kobani, onde afiliados sírios do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) enfrentam o EI. O PKK pede a criação de um Estado curdo e é considerado um grupo terrorista pelo governo turco.
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