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O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, discursa durante uma manifestação | FEDERICO PARRA/
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O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, discursa durante uma manifestação| Foto: FEDERICO PARRA/ AFP

A antecipação das eleições presidenciais do final de 2018 para abril fez com que os  governos críticos ao regime de Nicolás Maduro consolidassem seus chamados de ilegitimidade dos pleitos no país.

Mas a mudança também deve levar um eleitor apático diante das manobras chavistas para ganhar as eleições estaduais e municipais e de uma oposição implodida pelo governo e por suas divisões a se questionar se deve ir às urnas.  

Nicolás Toledo, sócio-diretor da empresa Consultores 21, considera que a convocação relâmpago aprofundou a cisão na coalizão opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD), rachada entre concorrer se sujeitando às regras do regime ou boicotar.  

Nesse cenário, avalia Toledo, torna-se mais difícil organizar os dois terços dos venezuelanos que pedem ou têm condições de pedir mudança.  

"O terço do oficialismo se torna a maior minoria. Como eles têm o controle do aparelho eleitoral, da distribuição de comida, da carteira da pátria [documento que controla a entrega dos benefícios sociais], sua capacidade de mobilização e de chantagem eleitoral é muito grande."  

A oposição considera que uma eleição só seria viável se o chavismo permitisse a troca da diretoria do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), a participação de observadores internacionais independentes e ao menos a participação de todas as suas siglas.  

Essas são as exigências da MUD nas negociações com o regime que deverão ser retomadas nesta segunda (5) na República Dominicana. Dois fatos deste fim de semana, porém, colocaram em xeque a chance de mudança nas condições do pleito.  

O CNE adiou a revisão da validação do principal partido da coalizão, o Primeiro Justiça (centro-direita), e Maduro pediu que a data da eleição seja marcada nesta segunda-feira (5), desejos que costumam ser interpretados como ordem.  

O presidente do instituto Datanalisis, Luis Vicente León, considera que seria uma grande vitória para a oposição se parte das reivindicações fossem atendidas. Mesmo assim, diz, permaneceria o desafio de atrair o eleitor. 

"Se você já não vota e as pessoas não entendem sua estratégia, e o líder que aparece não move as massas, vai se repetir a situação das eleições regionais e municipais, em que o governo nem sequer teve que fraudar a eleição."  

O risco de uma votação esvaziada poderia representar uma contradição no país com o maior apoio à democracia na região. Segundo o Latinobarómetro 2017, 79% dos venezuelanos diziam ser este o melhor sistema de governo.  

A responsável pela pesquisa, Marta Lagos, avalia que o alto índice se deve também às diferentes percepções de o que é a democracia.  

"Mas também se deve ao fato de que os venezuelanos não querem estar do lado escuro da lua", disse. "Eles apoiam o regime existente como uma democracia sem a necessidade de cumprir todas as suas características, basta que haja eleições."  

Embora considere que as votações na Venezuela deixaram de serem justas com a prisão dos opositores, Lagos não considera que o controle do governo signifique necessariamente uma interdição à alternância de poder.  

"O Chile foi o único país da região a derrotar um ditador nas urnas principalmente porque ninguém acreditava que isso seria possível", disse, em alusão ao referendo sobre a continuidade de Augusto Pinochet, em 1988.  

Dilema chavista  

León avalia que a manutenção de Maduro em uma eleição com as condições atuais aprofundará as divisões também entre os chavistas.  

Para o economista, parte dos apoiadores pondera se vale a pena continuar com o regime mesmo com a Venezuela virando um Estado pária e as sanções econômicas.  

"Eles estariam dispostos a assumir esse sacrifício de nunca mais poder colocar o pé nem em Cúcuta [cidade colombiana na fronteira], e que seus filhos não possam estudar na Europa, e que seu patrimônio esteja congelado?"

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