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| Foto: VALERY HACHE/AFP

Era uma noite agradável em Nice, relembra Damien Allemand. Milhares de pessoas lotaram a avenida à beira-mar que contorna a cidade, rostos virados para cima a observar os fogos de artifício em honra ao feriado favorito da França. Luz e música se espalhavam dos restaurantes, brindes e aplausos pontuavam as explosões dos fogos.

Allemand, um repórter do jornal local Nice Matin, estava seguindo seu caminho para deixar o local quando ouviu o estampido de tiros atravessando a festa. Uma fração de segundos depois, um grande caminhão branco passou rugindo. Ele se chocou contra a multidão, e parecia querer atingir o maior número de pessoas possível.

Veja o trajeto percorrido pelo caminhão

“Eu vi corpos voando como se fossem pinos de boliche em seu caminho. Ouvi sons, gritos, que eu nunca vou esquecer”, escreveu Allemand em um post no Medium. O ‘caminhão da morte’, como ele chamou, passou a apenas alguns metros de onde ele estava.

Por um momento, Allemand estava congelado. As pessoas passavam por ele, gritando e chorando. Ele ouviu alguém gritar: “consiga abrigo”. Outro implorou: “onde está meu filho?”. Finalmente, ele virou e correu.

O ataque sangrento aconteceu no fim de um dos mais importantes feriados franceses, o Dia da Bastilha, que marcou o início da Revolução Francesa, há 226 anos. Em todo o país, as pessoas celebram a data com desfiles e queima de fogos. Por volta das 22h30, em uma questão de instantes, a celebração em Nice teve um súbito – e sangrento – fim.

Maryam Violet, uma jornalista iraniana de férias em Nice, disse ao The Guardian que ela era parte da multidão observando os fogos no Passeio dos Ingleses. “Estava tão tranquilo. Era uma festa vibrante”, disse.

O show tinha acabado de terminar, e as pessoas estavam começando a dispersar, quando o caminhão veio arrastando tudo. “As pessoas estavam fugindo e gritando”, contou. “As pessoas gritavam, ‘é um ataque terrorista! É um ataque terrorista!’ Estava claro que o motorista estava fazendo aquilo deliberadamente”.

Christian Estrosi, que já foi prefeito de Nice e agora é o presidente do conselho regional da Provença-Alpes-Cote d’Azur, disse para a TV francesa que o ataque foi “claramente premeditado”. Mais tarde, as autoridades encontraram armas e explosivos dentro do caminhão.

A multidão, que tinha tanto turistas quanto franceses, fugiu pelas ruas laterais e correu para restaurantes. Vídeos do momento do ataque mostraram pessoas aterrorizadas, gritando em vários idiomas. Allemand, o jornalista, contou que ele buscou abrigo em um restaurante e esperou a saraivada de tiros acabar.

Quando ele saiu, o Passeio dos Ingleses estava vazio. “Nenhum barulho. Nem uma sirene. Nenhum carro”, escreveu.

Ele caminhou de volta até o local onde o caminhão estava. O para-brisa estava crivado de balas. Ali perto, um homem estava chorando. “Os mortos estão por toda a parte”, disse o homem.

“Ele estava certo”, excreveu Allemand. “Logo atrás dele, havia corpos a cada cinco metros na estrada, partes de corpos, sangue”.

Alain Boudail, dono do restaurante onde Allemand se abrigou, contou à Time que o ataque foi uma “carnificina”. “Eu pude ouvir os gritos, choro, e parecia um boliche, as pessoas estavam sendo arremessadas no ar, a dois ou três metros de altura”, ele contou. “Na frente do meu restaurante, havia ao menos dez pessoas na rua, mortas”.

O High Club, uma boate vizinha, foi transformado em hospital, ele contou. Assim como o lobby do Negresco, um hotel de luxo para onde os feridos foram levados.

No passeio, havia poças de sangue em volta dos corpos, que estavam cobertos por lençóis e cobertores. Pessoas horrorizadas se ajoelhavam ao lado dos corpos, enquanto socorristas ajudavam outras pessoas. Um fotógrafo da Reuters registrou uma imagem de uma pequena figura coberta por uma folha dourada. A boneca da criança estava ao lado do corpo.

“Eu estava andando por mais de um quilômetro, e havia pessoas mortas em todos os lugares”, disse Violet, ao Guardian. “Eu acho que eram mais de 30 corpos e muitas pessoas feridas”.

Violet contou que viu duas irmãs e um irmão da Polônia que haviam perdido dois irmãos, e uma outra família, cuja mãe morreu. Ela achou que eram muçulmanos, porque estavam usando lenços na cabeça. “Em árabe, eles estavam dizendo que ela era uma mártir”.

Allemand escreveu que ele queria ter parado e ajudado, mas “congelou, de novo”. “Naquele momento eu perdi a coragem”, ele disse. Ele foi até a sua moto e foi embora assim que as ambulâncias começaram a chegar. “Essa noite foi de terror”, concluiu.

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