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Um posto de verificação cubano na estrada que leva à base naval de Guantánamo | William Neuman/The New York Times
Um posto de verificação cubano na estrada que leva à base naval de Guantánamo| Foto: William Neuman/The New York Times

Nesta cidade de cerca de 216 mil pessoas, com um centro de aparência próspera escondendo ruas decrépitas, os habitantes, ao longo dos anos, eram constantemente lembrados de que estavam praticamente cara a cara com o inimigo.

"É uma situação um pouco delicada", disse Geny Jarrosay, de 25 anos, estudante de Arte que criou peças sobre as complexas relações entre a base naval dos Estados Unidos e a cidade de Guantánamo, onde ele cresceu. "Viver com isso é como ter uma pessoa que você não gosta vivendo em sua casa há 50 anos, e você acaba se acostumando com o bem e o mal."

A base dá a Cuba, uma nação insular, uma fronteira terrestre e ainda por cima, hostil.

"Sabemos que é território americano, mesmo não sendo. É território cubano", disse Jarrosay.

Apesar da aproximação nas relações entre Estados Unidos e Cuba, a base continua a ser um ponto sensível para os cubanos. Um alto funcionário do Departamento de Estado dos Estados Unidos disse que negociadores cubanos haviam reforçado o pedido para o retorno da base repetidas vezes durante as conversações secretas que culminaram no anúncio, em dezembro, de que os dois países iriam restabelecer relações diplomáticas.

Pode-se dizer que a base de Guantánamo é a última consequência da invasão americana de Cuba de 1898, em plena guerra de independência da ilha da Espanha. Um tratado de paz que pôs fim à guerra hispano-americana em 1898 colocou os EUA como administradores da ilha, e eles permaneceram lá até 1902, quando Washington permitiu que Cuba assumisse seu governo. Mas o preço foi a odiada Emenda Platt, uma série de condições incluídas na Constituição cubana que permitiu a interferência americana nos assuntos cubanos, além do direito de lá estabelecer bases navais.

Por muitos anos, a cidade de Guantánamo e outras nas proximidades, como Caimanera, estavam intimamente ligadas à base. Muitos habitantes trabalhavam lá, e as tropas americanas divertiam-se nos bordéis e bares. Mas depois que Fidel Castro chegou ao poder em 1959, a base se tornou um ponto de atrito. Cuba se recusa a receber os cheques enviados pelos Estados Unidos para pagamento do aluguel anual de US$4.085.

Quando a administração Bush construiu uma prisão na base para suspeitos de terrorismo capturados após o 11 de Setembro, Cuba se opôs tenazmente. O presidente Barack Obama ordenou o fechamento da prisão depois de assumir o cargo em 2009, mas não foi capaz de cumprir a promessa. E mesmo depois que a prisão foi desativada, é improvável que a base seja devolvida a Cuba tão cedo. Jana K. Lipman, professora de História na Universidade de Tulane, em Nova Orleans, disse que os riscos políticos de devolvê-la eram muito grandes.

Quase todas as pessoas entrevistadas aqui disseram que a base deve ser devolvida para Cuba. "É território cubano; não pertence aos Estados Unidos. É uma falta de respeito ter isso em nosso território, o abuso e a tortura de pessoas lá dentro", disse a enfermeira Iliana Cotilla.

Normalmente, não há nenhum contato no dia a dia entre os cubanos e a base, que fica a vários quilômetros de distância, longe das vistas.

Um morador de Caimanera, que vive na zona onde é necessário um passe para entrar, disse que era como viver na fronteira entre países hostis.

Porém, ter uma base militar na vizinhança tem suas vantagens, disse o homem. "É muito calmo e controlado, e não há nenhum crime ou drogas", ele disse. E os moradores têm um bônus em dinheiro para viver lá.

Clara Duany, de 74 anos, disse que trabalhou na base como zeladora entre 1956 e 1960. Ela disse que durante a guerrilha de Fidel contra a ditadura de Fulgencio Batista, ela contrabandeou remédios da base para os rebeldes.

Clara disse que não sente raiva dos americanos.

"Se me chamassem, eu trabalharia lá de novo. Gostei muito. De tudo. Sim, bastante", ela disse.

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