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Quando Dan Price disse a seus 120 empregados no mês passado que aumentaria o pagamento dos trabalhadores de salário mais baixo para US$ 70 mil (R$ 210 mil) por ano, o vídeo de seu anúncio se tornou viral.

Price, que fundou uma companhia de processamento de pagamentos de cartão de crédito, teria lido um estudo segundo o qual uma renda de US$ 70 mil fazia uma grande diferença na vida do trabalhador.

Parecia difícil justificar seus ganhos de um milhão de dólares enquanto outros enfrentavam dificuldades, então ele decidiu reduzir seu salário até que sua firma, a Gravity Payments, recuperasse os lucros ao nível atual.

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Price foi o melhor patrão de todos os tempos ou um empresário tolo, dependendo de quem falava no frenesi que se seguiu na mídia. Alguns se perguntavam se ele estava na vanguarda de um novo código moral nos negócios.

Uma tendência entre moradores influentes de cidades é a grande valorização dos produtos feitos a mão, que muitos acreditam demonstrar sua virtude, interesse por sustentabilidade e compromisso com a justiça social, relatou o “New York Times”.

Um suéter feito a mão é um golpe contra a mão de obra explorada. Apoiar um artesão que faz sabonete é uma maneira de apoiar sua comunidade.

“Antes uma marca de pobreza, o ‘feito a mão’ está na moda hoje em dia”, escreveu Emily Matchar. “Nada parece gritar ‘valores de classe média alta’ como brinquedos feitos de madeira entalhada, sabonetes de lavanda artesanais, pão caseiro e cachecóis tricotados a mão.”

O problema é equiparar essa abordagem de consumo a um bem social. “Como o ‘locavorismo’ e o ‘ecoconsumo’, faz parte de uma tendência perturbadora neoliberal de ‘toda mudança começa com a ideologia de suas opções pessoais’”, escreveu Matchar.

“Essa ideologia é atraente: compre uma coisa bonita, faça algum bem. Mas não funciona, pelo menos não muito bem.”

A maioria das pessoas deixa o valor orientar suas compras, e poucos pagarão US$ 50 por um cachecol feito a mão em um site como Etsy, quando podem comprar um muito bom em uma loja de rede por US$ 5.

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Comprar produtos locais não é uma solução para as práticas de exploração da mão de obra —melhores regulamentos, acordos comerciais e monitoramento de fábricas são ferramentas mais eficazes para isso, disse Matchar.

E o mito da amizade pela ecologia é questionável. “Comprar artesanato [especialmente os realmente locais] pode reduzir em muito sua pegada de carbono no mundo”, diz uma postagem em Handmadeology, um das dezenas de sites de produtos feitos a mão.

Mas a maioria dos economistas acredita que as economias de escala inerentes à produção em massa superam os benefícios de comprar “local”, segundo o “NYT”. E quando a ideia de “comprar local” vai longe demais pode funcionar contra quem tem práticas realmente ecológicas.

Quando o movimento de alimentação urbano se torna hiperlocal e os consumidores prometem comer apenas alimentos produzidos em um raio de 160 quilômetros de suas casas, ignora agricultores como Jerry Habets, que planta cevada e lentilha em Conrad, Montana.

Habets se converteu ao orgânico para que seu solo pudesse armazenar mais água, mas os consumidores hiperlocais nas duas costas do país evitam suas colheitas por causa da localização.

Mais uma vez, os economistas disseram que a abordagem local não é especialmente ecológica, já que o transporte representa cerca de 4% das emissões de gases do efeito estufa associadas a uma dieta americana média.

“Mesmo que você viva a centenas de quilômetros de Montana”, escreveu Liz Carlisle no Times, “comer lentilhas orgânicas plantadas lá ajuda os agricultores a cuidar de sua terra de maneira responsável.”

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