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A cena de retorno ao lugar de origem é familiar: um artista de sucesso volta ao bairro onde vivia e faz uma apresentação no ginásio local. Mas, para Joe Assadourian, que desde junho protagoniza uma peça-monólogo em Manhattan, o local escolhido não foi o ginásio de um colégio, mas o auditório de um presídio estadual, e muitos dos detentos na plateia eram seus amigos, porque não faz muito tempo o próprio Assadourian era um deles.

Assadourian apresenta um espetáculo intitulado “The Bullpen” (O Curral), comédia de muitos personagens baseada na experiência de ser detido e posto numa cela de detenção provisória cheia de personagens esdrúxulos. Os cerca de 200 detentos que formaram sua plateia vespertina gargalharam alto quando ele apresentou 18 personagens, uma coleção hilária de raças, nacionalidades e até orientações sexuais distintas.

Foram risadas de familiaridade e, possivelmente, de aspirações compartilhadas. Para esses homens, Assadourian está realizando uma façanha das mais difíceis: encontrou uma maneira de voltar para o mundo. Alejo Rodriguez, que cumpriu 30 anos de prisão por latrocínio cometido quando tinha 23 anos, explicou: “O caso de Joe nos mostra o que somos capazes de fazer, nos lembra que não devemos desistir de nós mesmos. Cada um de nós possui seu talento próprio.”

Assadourian, 37, descobriu seu talento para escrever e atuar quando estava cumprindo pena por ter atirado em um homem em 2001. Ele tinha 23 anos na época e não fazia muito exceto “frequentar boates todas as noites”. A agressão de 2001 lhe valeu 12 anos de prisão cumpridos em presídios diversos, incluindo três em Otisville, onde ele chegou em 2010.

O ator e roteirista Richard Hoehler estava promovendo workshops na prisão em Otisville.

Como exercício a ser feito na classe, Assadourian criou uma cena de oito minutos de duração que deixou Hoehler e seus colegas detentos estarrecidos.

“Falei: ‘Joey, me dê uma hora disso e poderemos fazer alguma coisa com o material’”, recordou Hoehler. Foi o que eles fizeram quando Assadourian foi libertado, em 2013, criando o espetáculo completo, com direção de Hoehler.

A peça mistura elementos da detenção de Assadourian em 2010 com um falso julgamento encenado por presos que estão na cela de detenção provisória, conhecida como “curral”. A Fortune Society, organização que ajuda ex-detentos, promoveu algumas apresentações. O produtor Eric Krebs assistiu a uma delas e em junho passado lançou a peça em seu teatro Playroom, em Manhattan, onde ela continua em cartaz até hoje.

Antes de se apresentar em Otisville, Assadourian comentou: “Para mim, é importante voltar lá e mostrar ao pessoal que, se a pessoa faz uso prudente do tempo que passa na prisão, conseguirá fazer alguma coisa quando voltar para casa.” “Voltar para casa”, para os detentos, significa sair da prisão.

Depois da apresentação, o consenso entre os detentos foi que Assadourian, que sempre foi engraçado, refinou consideravelmente seu talento, segundo Rodriguez. “Uma coisa que não estava evidente antes era a humanidade dessa peça, sua tragicomédia. Os personagens não são meras caricaturas.”

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