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Xi Jinping e Barack Obama durante visita do presidente dos EUA a Pequim: desaceleração da economia preocupa governo | Andy Wong /AP
Xi Jinping e Barack Obama durante visita do presidente dos EUA a Pequim: desaceleração da economia preocupa governo| Foto: Andy Wong /AP

O dia começou de forma bastante corriqueira para um dirigente de um país às voltas com a desaceleração econômica. Em 24 de julho, Zhou Benshun participou de uma reunião para promover um plano de crescimento econômico do presidente Xi Jinping que consiste em construir uma “supercidade” ao redor de Pequim.

No entanto, às 18h10, a carreira de Zhou havia terminado, e ele se viu na iminência de passar vários anos na prisão. O órgão de combate à corrupção do Partido Comunista havia anunciado uma investigação contra ele por “suspeita de graves violações da disciplina partidária e da lei”.

A repentina queda em desgraça de Zhou ilustra a incerteza que permeia a elite comunista num momento em que ela precisa lidar com dois acontecimentos preocupantes: uma desaceleração econômica que parece ser pior do que as autoridades anteviam e uma campanha oficial anticorrupção que continuou por mais tempo e que alcançou escalões mais elevados do que muitos esperavam.

Os mercados ao redor do mundo estão sendo sacudidos pelos temores de que a China não consiga se manter como o poderoso motor do crescimento econômico global.

Após o fechamento dos mercados chineses na terça (25), as autoridades de Pequim tomaram medidas para estabilizá-los, cortando as taxas de juros e reduzindo o volume financeiro que os bancos são obrigados a manter como reserva contra riscos.

O homem no centro desta crise é Xi, que assumiu o comando do partido há quase três anos e vinha implementando uma pauta ambiciosa, mas repleta de desafios políticos. Agora, esses desafios parecem ter crescido, e há sinais de que Xi e seu estilo voluntarioso de liderança enfrentam resistências internas no partido.

Xi se posicionou como o principal arquiteto da política econômica atual, expondo-se a ser responsabilizado se o crescimento continuar claudicante. Ao mesmo tempo, o presidente está ganhando inimigos por causa de uma campanha anticorrupção que já derrubou alguns dos homens mais poderosos do país e deixou no ostracismo mais de 100 mil funcionários públicos de escalões inferiores.

Há rumores de que altos funcionários do partido estariam alarmados com a situação da economia, que no primeiro semestre de 2015 cresceu no ritmo mais lento em um quarto de século e agora parece estar cada vez mais descontrolada. Num sinal da sua ansiedade, a liderança promoveu a maior desvalorização da moeda chinesa em mais de duas décadas, levando os mercados globais a despencar.

A reputação de Xi também foi abalada por causa da forte queda nas Bolsas, antes apresentadas pelo governo como uma boa opção de investimento para os cidadãos chineses.

Veteranos do partido discretamente haviam aconselhado Xi a se focar no fortalecimento da economia, de acordo com um assessor do partido e do governo e com o editor de um órgão público de imprensa —ambos pediram anonimato. O apelo dos dirigentes foi visto como um sinal de insatisfação com a gestão econômica de Xi e como uma crítica à repressão a casos de corrupção nos altos escalões, que mancharam o legado desses dirigentes e atingiram protegidos seus.

Recentemente, dois importantes veículos da mídia estatal publicaram editoriais incomuns, insinuando haver turbulência interna. O primeiro saiu em 10 de agosto no influente “Diário do Povo”, alertando claramente os líderes aposentados a se manterem afastados da política. Sem identificar ninguém, o texto acusava “alguns quadros dirigentes” de representarem “um dilema para os novos líderes, deixando-os de mãos atadas para fazerem um trabalho ousado” e “abalando a coesão do partido e sua força de combate”.

Em 19 de agosto, um comentário no site da emissora estatal CCTV descreveu a feroz resistência contra as políticas de Xi e convocou seus simpatizantes a intensificarem os esforços para levá-las a cabo.

Xi prometeu amplas reformas pró-mercado para favorecer o crescimento de longo prazo da economia chinesa. Isso incluía planos para enfraquecer os monopólios das estatais, reduzindo a importância econômica dos ineficientes investimentos promovidos pelo Estado, e uma liberalização dos mercados financeiros, para permitir que o yuan possa concorrer em pé de igualdade com o dólar.

No entanto, houve pouco progresso rumo a essas metas, e, quando o crescimento começou a se desacelerar, o governo adotou medidas —incluindo a intervenção agressiva para sustentar o mercado acionário— que contrariam os apelos de Xi para que as forças de mercado desempenhem um “papel decisivo” na economia. Por trás dessa confusão há uma ansiedade enraizada no seio da liderança sobre uma possível instabilidade social caso a fase de supercrescimento chinês termine.

O PIB da China cresceu mais de 26 vezes nos 37 anos desde que o país começou a abrir sua economia, fortalecendo o partido e tirando mais de 600 milhões de pessoas da pobreza.

O assessor político do partido e do governo disse que os temores de que a desaceleração econômica leve a uma agitação social levaram o Politburo, em uma reunião de 30 de julho, a aprovar um conjunto de medidas para reforçar o crescimento.

A campanha de Xi contra a corrupção goza de amplo apoio numa nação onde o fosso cada vez maior entre ricos e pobres é atribuído à capacidade de uma pequena minoria de prosperar por abusar de posições governamentais ou usar conexões políticas. Quando a economia hesita, porém, os riscos para Xi se multiplicam, disse um funcionário aposentado da instituição acadêmica do partido.

“O principal é a economia. Se a economia continuar declinando, as pessoas vão ter cada vez mais acusações a fazer e haverá cada vez mais pressão sobre a liderança”, disse essa fonte, que falou sob condição de anonimato. “E, neste momento, a economia de fato está em declínio.”

Colaboraram Keith Bradsher e Chris Buckleyr

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