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Acima, fotografias de voluntários e imagens computadorizadas criadas com base no DNA de cada um deles por Mark Shriver | MARK D. SHRIVER /PENNSYLVANIA STATE UNIVERSITY
Acima, fotografias de voluntários e imagens computadorizadas criadas com base no DNA de cada um deles por Mark Shriver| Foto: MARK D. SHRIVER /PENNSYLVANIA STATE UNIVERSITY

Não há nenhuma testemunha ocular conhecida do assassinato, cometido em 2011, de uma jovem e de sua filha de três anos.

Mas a polícia de Columbia, na Carolina do Sul, divulgou em janeiro um esboço do possível suspeito: um rosto gerado por um computador a partir do DNA encontrado no local do crime.

Nunca antes o rosto de um suspeito havia sido divulgado ao público dessa forma. Mas, certamente, essa não será a última vez. Os peritos estão cada vez mais aptos a determinar as características físicas dos suspeitos a partir do material genético deixado para trás.

Os detetives da genética já conseguem determinar com bastante precisão a cor dos olhos e dos cabelos de um suspeito. Também é possível, ou em breve será, identificar a cor da pele, a presença de sardas, a calvície, o cabelo liso ou encaracolado, a forma dos dentes e a idade.

Um dia, os computadores também conseguirão comparar os rostos gerados a partir do DNA com as fotos de criminosos fichados.

Mas a fenotipagem forense pelo DNA, como a técnica é chamada, também motiva preocupações.

Alguns cientistas questionam sua precisão, especialmente na recriação de imagens faciais. Outros dizem que o uso dessas técnicas pode exacerbar a discriminação racial e levar as liberdades civis para águas desconhecidas.

“Essa é uma área em que a tecnologia está à frente da discussão e do debate popular”, disse Erin Murphy, professor de Direito na Universidade de Nova York.

Embora a ciência ainda esteja em evolução, pequenas empresas como a Parabon Nanolabs, que fez a imagem no caso da Carolina do Sul, e a Identitas começaram a oferecer a fenotipagem pelo DNA a órgãos policiais.

A Polícia de Toronto submeteu à Identitas o DNA colhido em 29 casos entre o início dos anos 1980 e 2014. Em vários deles, o estudo “permitiu mudar a direção na qual nos focamos inicialmente”, disse o sargento Stacy Gallant, especializado em investigar homicídios arquivados. Mas ainda não houve prisões ou condenações, segundo ele.

Há muito tempo, é possível identificar o sexo de suspeitos a partir do DNA no local do crime. E, em 2003, informações do DNA ajudaram a redirecionar a busca por um “serial killer” da Louisiana. O DNA encontrado no local de um dos homicídios indicava que a pessoa tinha 85% de ascendência oriunda da África Subsaariana. Um homem negro acabou sendo condenado pelos crimes.

Agora, os pesquisadores estão se debruçando sobre traços físicos específicos, como cor dos olhos e o cabelo. Um sistema chamado HIrisPlex, desenvolvido no Centro Médico da Universidade Erasmus, da Holanda, oferece aproximadamente 94% de precisão para determinar se uma pessoa tem olhos azuis ou castanhos, mas não tanto para cores como o verde.

Os cientistas procuram variantes genéticas associadas a traços físicos, da mesma forma como procuram genes que podem causar uma doença: estudando os genomas de pessoas com ou sem esse traço ou doença e procurando correlações. Mas isso pode ser uma tarefa complexa.

Muitas variantes genéticas podem ser associadas a uma característica, mas cada uma pode fazer apenas uma pequena contribuição. Um estudo descobriu cerca de 700 variantes genéticas ligadas à altura, mas elas explicaram apenas aproximadamente 15% da variação de pessoa a pessoa, segundo Manfred Kayser, professor de biologia molecular forense da Erasmus.

A cor do olho e do cabelo é relativamente fácil de determinar a partir de amostras do DNA, segundo Kayser, porque um único gene tem uma grande influência sobre essas características. Apontar a idade de um suspeito também não está fora de questão, graças à análise de marcadores que desligam certos genes à medida que as pessoas envelhecem.

Alguns especialistas afirmam que ainda não há conhecimento suficiente sobre a relação entre os genes e as características faciais. “A esta altura, é um pouco ficção científica”, disse Benedikt Hallgrimsson, chefe do departamento de biologia e anatomia celular na Universidade de Calgary, no Canadá.

Os críticos observaram que a Parabon, com sede em Reston, na Virgínia, não validou seus métodos com informações publicadas em periódicos científicos com revisão por pares. A empresa se vale do trabalho de Mark Shriver, professor de antropologia e genética na Universidade Estadual da Pensilvânia, e Peter Claes, da Universidade Católica de Lovaina, na Bélgica. Os dois pesquisadores desenvolveram um método matemático complexo para representar os rostos, com base na medição das coordenadas tridimensionais de mais de 7.000 pontos da face. Assim, criam uma espécie de rosto genérico com base no sexo e na miscigenação de determinada pessoa, conforme indicados por seu DNA. Os cientistas então ajustam esse rosto com base em 24 variações genéticas presentes em 20 genes comprovadamente envolvidos na variação facial. Algumas das imagens geradas por esse método de fato se parecem com o rosto real do dono do DNA; outras, nem tanto.

No caso de Columbia, a imagem desenvolvida pela Parabon resultou em algumas pistas, que, no entanto, não prosperaram. O investigador Mark Vinson disse: “Achamos que valia a pena arriscar”.

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