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Kobb toca piano com marcadores nas mãos para a captura óptica de seus movimentos | Alexander Refsum Jensenius /The New York Times
Kobb toca piano com marcadores nas mãos para a captura óptica de seus movimentos| Foto: Alexander Refsum Jensenius /The New York Times

Peças clássicas de piano de compositores como Beethoven, Mozart e Chopin provavelmente soavam muito diferente quando os mestres as apresentaram pela primeira vez. Os pianos mudaram de maneira considerável, assim como a técnica.

Durante a última década, um número crescente de musicólogos começou a examinar melhor como a técnica molda não apenas o som da música, mas também a reação do público a ela. “A música tem um pé na física e outro na estética”, disse Rolf Inge Godoy, professor de musicologia na Universidade de Oslo, na Noruega.

Godoy usa captura óptica de movimentos para estudar a física do movimento musical. Câmeras infravermelhas captam a luz de marcadores reflexivos colocados nas mãos de um violoncelista ou no corpo de um percussionista, registrando o movimento do artista em até 500 quadros por segundo e com a precisão de um terço de milímetro. Algoritmos de computador fazem então associações entre os dados do movimento, o que é escutado e o que os ouvintes dizem ter sentido.

Recentemente, Godoy se dedicou a uma pergunta fascinante: como eram tocadas originalmente peças clássicas como a Variação K. 500 de Mozart e os Estudos, Opus 125, de Hummel, e como isso poderia ter feito diferença no som e na reação do público?

Para descobrir, Godoy fez um projeto com Christina Kobb, aluna de doutorado na Academia de Música Norueguesa e chefe de teoria no Instituto de Música Barratt Due em Oslo.

Como aluna visitante na Universidade Cornell em Ithaca, Nova York, em 2010, Kobb pesquisou tratados pedagógicos de piano do século 19 —essencialmente, manuais de instrução para tocar piano.

As técnicas que eles descreviam, percebeu Kobb, diferiam drasticamente das que ela havia aprendido. “Eu não seguia sequer as mais básicas instruções dadas aos iniciantes na época”, disse. “Eu me perguntei: isso faria diferença em minha forma de tocar?”

Nos três anos seguintes, Kobb gradualmente substituiu seu estilo moderno pela técnica do século 19, aprendida em cerca de 20 tratados. Enquanto os pianistas modernos tendem a se debruçar sobre as teclas e manter os antebraços quase perpendiculares ao teclado, o estilo do século 19 mandava os pianistas se sentarem totalmente eretos.

A postura evitava que eles usassem seu peso sobre o teclado, obrigando-os a usar movimentos menores dos dedos. Os cotovelos eram mantidos firmemente junto do corpo, com os antebraços inclinados para baixo e as mãos enviesadas.

Conforme Kobb se tornou mais fluente nessa abordagem, descobriu que certos movimentos —saltar rapidamente entre acordes díspares, por exemplo— tornavam-se mais fluidos. Acordes e escalas soavam mais suaves e podiam ser tocados mais rapidamente, e as pausas dramáticas entre as notas —muitas vezes uma questão de necessidade física— se reduziam.

O estilo antigo também permite que o pianista seja mais discriminatório ao escolher as notas a enfatizar, aprendeu Kobb, produzindo uma apresentação que é menos intensa pelos padrões atuais. “Há uma sensação física diferente na execução, assim como um resultado diferente”, disse ela.

Para identificar as fontes dessas diferenças, Godoy e seus colegas prenderam material reflexivo nos dedos e braços de Kobb e então a filmaram tocando um piano elétrico.

Depois de analisar seus movimentos, os pesquisadores poderão dizer que diferenças técnicas são responsáveis pelas variações na música. “A correlação entre esforço físico e produção de som é o que queremos descobrir, mas para isso precisamos realizar uma extensa análise estatística”, disse Godoy.

Ele espera ter os resultados dentro de três ou quatro meses.

Kobb, por sua vez, pretende mergulhar mais a fundo no repertório dos compositores românticos. “Está na hora de restaurar as primeiras técnicas para tentarmos nos aproximar de como a música soava na época de Beethoven.”

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