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Na foto de família, os irmãos sírios Aylan e Galip Kurdi. | Ben Nelms / Reuters
Na foto de família, os irmãos sírios Aylan e Galip Kurdi.| Foto: Ben Nelms / Reuters

O barco de Aylan Kurdi – menino sírio de 3 anos encontrado morto numa praia turca – não foi o primeiro a naufragar no Mediterrâneo. Mas o menino não virou estatística. Ele deu um rosto para as cinco mil pessoas que morreram no mar naquele percurso em 2014 e 2015, um problema que boa parte do mundo ocidental insistia em não enxergar. Acabou por personalizar o drama dos milhares de refugiados que tentam escapar de conflitos locais buscando asilo na Europa.

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“A foto do menino é uma daquelas referências icônicas que transformam um fenômeno muito complexo num fenômeno visível”, destaca o historiador Michel Gherman, com mestrado em Antropologia e Sociologia pela Hebrew University of Jerusalem. Ele explica que o conflito na Síria tem alguns pontos semelhantes aos de outros países na região, como a queda de regimes estáveis, ditaduras de longa data, que levam a uma luta de poder, com componentes religiosos. “Na gramática da identidade islâmica radical, mais do que nações, o que há são grupos religiosos de correntes diferentes”. As informações que chegam são de que o Estado Islâmico tem voltado a se concentrar em áreas populosas. “Quem tem para onde fugir, foge. Quem está morrendo não são os miseráveis”, afirma Gherman.

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Fluxo de chegada tem diminuído, de acordo com o consulado honorário da Síria em Curitiba, mas drama só aumenta. Muitos dos sírios que se estabeleceram na cidade acompanham com temor a crise em seu país natal.

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A atuação do Estado Islâmico na Síria tem pesado para que cristãos e outros grupos com crenças não muçulmanas se sintam ameaçados – e recorram à fuga. Para Eduardo Saldanha, professor de Relações Internacionais da FAE, o aumento na quantidade de pessoas que se lançam ao mar – sujeitas a todo tipo de perigo – é explicado pela impressão de que as portas da Europa estão se fechando e de que o momento é agora. O número de mortos no mar em 2015 já é maior do que em todo o ano passado: 2,7 mil mortes diante de 2,1 mil em 2014.

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O poder de mobilização da foto do menino morto é controverso. Gherman salienta que algumas imagens tiveram força para interferir no rumo da História. Mas ele acredita que não será o caso agora. “Acho mais provável que a gente receba mais e mais fotos de crianças com a cara enterrada na areia e outros tantos vão morrer e não vão ser fotografados”, lamenta. Já Saldanha avalia que a imagem poderá ajudar na aceitação de refugiados na Europa e legitimar o discurso de governantes que apoiam a causa, como a chanceler alemã Angela Merkel. “O premier britânico David Cameron vai passar a medir um pouco mais as palavras. Qualquer declaração vai ser vista com uma desumanidade absurda”, analisa.

Gherman salienta que atacar a causa do conflito é complexo e envolveria uma coalizão de países poderosos, que poderiam tornar ainda mais fortes os grupos locais. Para o historiador, a perspectiva é de aumento no número de refugiados no mundo e de fortalecimento de grupos fundamentalistas.

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