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Julian Assange se mantém na embaixada equatoriana sob ameaça de prisão, caso deixe prédio | CARL COURT/AFP
Julian Assange se mantém na embaixada equatoriana sob ameaça de prisão, caso deixe prédio| Foto: CARL COURT/AFP

A Suécia anunciou nesta quinta-feira (4) que um grupo de trabalho da ONU considera ilegal a detenção do fundador do site WikiLeaks, Julian Assange, que se disse pronto a deixar a embaixada equatoriana em Londres, onde está recluso desde 2012.

O australiano de 44 anos surpreendeu na madrugada desta quinta-feira ao dizer que algo estava próximo de acontecer. “Se a ONU anunciar amanhã (quinta-feira) que eu perdi o caso contra o Reino Unido e a Suécia, vou deixar a embaixada na sexta-feira ao meio-dia para ser preso pela polícia britânica”, havia declarado.

“Mas se eu vencer e se for constatado que as partes estatais agiram ilegalmente, esperarei a restituição imediata do meu passaporte e um fim a qualquer nova tentativa de me prender”, acrescentou, sem especificar o que faria neste caso.

Um desfecho favorável a Assange não tem implicações sobre os governos sueco e britânico, que querem prender e questionar o fundador do Wikileaks. Mas representaria uma vitória pública dele sobre seus detratores.

A Suécia procura Assange por acusações de assédio sexual, enquanto autoridades do Reino Unido o procuram por não comparecer à Justiça.

“Podemos constatar simplesmente que o grupo de trabalho chegou a uma conclusão diferente das autoridades judiciais suecas”, declarou à AFP uma porta-voz do ministério das Relações Exteriores da Suécia.

Resposta sueca

Contudo, segundo a procuradoria sueca, a decisão do grupo de trabalho da ONU não tem efeito sobre a investigação em curso na Suécia, o que mantém o suspense sobre o que acontecerá com Assange. “A decisão do grupo de trabalho não tem consequências formais na investigação em curso sob a lei sueca”, afirmou um comunicado oficial.

O advogado sueco de Assange, Per Samuelsson, lembrou a definição de detenção na Convenção Europeia dos Direitos Humanos, a saber toda a privação de liberdade. Ele exigiu a “libertação de Julian Assange após a decisão de um comitê da ONU considerando sua detenção ilegal”.

“O Reino Unido deve tomar uma decisão. Se ele respeitar seus compromissos internacionais junto a ONU, deverá respeitar a decisão do grupo de trabalho baseada na convenção das Nações Unidas sobre os direitos civis e políticos”, afirmou por sua vez outro de seus advogados, Christophe Marchand.

Como parte da investigação, a Suécia deseja interrogar o australiano na embaixada do Equador em Londres. Além disso, a justiça sueca emitiu um mandato de prisão europeu contra ele que, segundo o governo britânico, “obrigaria a extraditar Assange”, segundo um porta-voz.

“Assange nunca foi detido arbitrariamente pelo Reino Unido. Ele evitou deliberadamente uma prisão legal, ao escolher permanecer na embaixada do Equador”, ressaltou o mesmo porta-voz.

Por sua vez, o Equador assegurou que vai manter sua proteção a Julian Assange. O governo sueco, que não está juridicamente envolvido neste assunto, não quis comentar.

O WikiLeaks programou para a sexta-feira uma coletiva de imprensa em Londres ao meio-dia (10H00 de Brasília).

Polêmicas

Julian Assange e o site WikiLeaks causaram sensação com a divulgação de documentos oficiais secretos, mas três anos e meio recluso na embaixada equatoriana em Londres minaram seu protagonismo do passado.

Assange foi o “Homem do Ano” da revista norte-americana Time e recebeu prêmios de defensores dos Direitos Humanos, mas anos depois parece estar sozinho, superado pelo ex-agente americano Edward Snowden como o grande confidente da podridão das grandes potências.

O site WikiLeaks foi o pesadelo de Washington desde a divulgação a partir de 2009 de milhares de documentos americanos, mensagens militares secretas sobre as guerras do Iraque e do Afeganistão e documentos diplomáticos secretos cheios de confidências embaraçosas sobre dirigentes estrangeiros.

O australiano de 44 anos, de cabelos grisalhos e sorriso sarcástico, voltou a uma certa clandestinidade ao entrar na embaixada equatoriana em Londres em 12 de junho de 2012, como quando evitava dormir duas noites seguidas no mesmo lugar ou mudava continuamente os ‘chips’ de seu telefone para apagar seu rastro.

A maioria dos meios de comunicação que apoiaram Assange divulgando suas exclusivas se afastaram. Ele mudou várias vezes de advogados e se cansou de um colaborador muito próximo que terminou por publicar sua biografia “não autorizada”. “Talvez seja um machista, mas não um estuprador”, disse Assange no livro sobre as acusações que sofreu da Suécia.

O australiano sempre temeu que a Suécia fosse apenas uma escala para um destino final nos Estados Unidos, cujo governo desejaria fazer com ele o mesmo que fez ao homem que forneceu muitos de seus documentos, o soldado Manning, condenado a 35 anos de prisão.

Uma infância nômade e um talento para a pirataria

Sua mãe, Christine Ann Assange, foi uma artista que se separou do pai de Julian antes de ele nascer. Até os 15 anos, o futuro fundador do site WikiLeaks viveu em mais de 30 cidades australianas diferentes antes de se estabelecer em Melbourne.

Aluno inteligente, estudou matemática, física e informática na universidade, sem chegar a se formar. Foi seduzido nessa época pela ciberpirataria e chegou a hackear os sites da Nasa e do Pentágono com o pseudônimo “Mendax”.

Foi nessa época que teve seu filho, Daniel, e entrou em uma luta por sua custódia.

Com a notoriedade do WikiLeaks, foi mostrado como um gênio da informática e um messias libertário. “O homem mais perigoso do mundo”, dizia o título de uma de suas biografias.

Mas rapidamente começaram as críticas. As autoridades o acusaram de por em perigo a vida de agentes de inteligência, e alguns velhos amigos e colaboradores o descrevem como egocêntrico, obsessivo e paranoico.

“O homem que presume revelar os segredos do mundo não suporta os seus”, diz Andrew O’Hagan, o homem encarregado de escrever a autobiografia de Assange e acabou por desistir.

O cômodo onde vive Assange é dividido em um escritório e uma sala de estar. Tem uma corda para exercícios, um chuveiro, um micro-ondas e uma lâmpada de luz solar artificial.

Também há terraços nos quais Assange se aventura sozinho em algumas poucas ocasiões porque teme por sua segurança.

“Sua existência é miserável”, disse nesta quinta-feira seu amigo Vaughan Smith em entrevista à AFP.

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